HOMENAGEM A CHARLIE HEBDO por Luísa Lobão Moniz

olhem para  mim

Primeiro levaram os negros

Mas não me importei

Não era negro.

A seguir levaram operários

Não me importei

Também não era operário.

Depois levaram vagabundos

Mas não me importei

Porque não era vagabundo.

Posteriormente levaram desempregados

Como tinha emprego

Continuei a não me importar. 

Agora levam-me a mim

Mas já é tarde.

Como não me importei com ninguém,

Ninguém se importa comigo.

Bertolt Brecht

Todos temos motivos para nos importarmos com os outros, porque como nos adverte BB, agora não se importam comigo, mas já é tarde…

Não é uma acusação, é a contestação do comportamento humano.

Quando a barbárie se manifesta longe de nós dizemos (quando acabam com isso?);

quando a barbárie se passa perto de nós, ao expulsarmos os ciganos, dizemos (eles não querem nada, só fazem zaragatas, são uns aldrabões e briguentos, é preciso cuidado…)

Quando, em Angola, as bombas explodiam debaixo dos pés de crianças, depois de ter acabado a guerra colonial,  abria-se vagas nos hospitais para tentar recuperar o resto do corpo porque as pernas…

Quando a barbárie se manifesta “docemente” com cockteils molotof , dizemos ( parece impossível), a comunicação social divulga o acontecimento, os comentadores políticos fazem análises e prevêem o pior, fazem-se entrevistas a quem presenciou o barulho e a destruição, a revista indigna-se e diz seguir em frente com a força das canetas.

Todos nos escudamos por detrás da força e da liberdade inabalável dos cartoonistas.

Quando a barbárie acontece debaixo dos nossos olhos, ao pé nos nossos ouvidos, dentro dos nossos olhos queremos ser todos Charlie Hebdo.

É preciso ser-se conscientemente livre para não aceitar a falta da Liberdade!

Afinal que mal tem o traço de um lápis? às vezes um lápis incomoda muito mais do que um comentário!

Gostaria que os que agora se dizem Charlie Hebdo percebessem que o Charlie Hebdo, através dos seus cartoonistas e jornalistas, denunciaram as barbaridades da fome, das guerras, do sexismo, da intolerância, das prisões políticas, da censura…

São milhares de pessoas que estão na rua a gritar “Nós somos Charlie”, então sejam-no!

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