Todos temos motivos para nos importarmos com os outros, porque como nos adverte BB, agora não se importam comigo, mas já é tarde…
Não é uma acusação, é a contestação do comportamento humano.
Quando a barbárie se manifesta longe de nós dizemos (quando acabam com isso?);
quando a barbárie se passa perto de nós, ao expulsarmos os ciganos, dizemos (eles não querem nada, só fazem zaragatas, são uns aldrabões e briguentos, é preciso cuidado…)
Quando, em Angola, as bombas explodiam debaixo dos pés de crianças, depois de ter acabado a guerra colonial, abria-se vagas nos hospitais para tentar recuperar o resto do corpo porque as pernas…
Quando a barbárie se manifesta “docemente” com cockteils molotof , dizemos ( parece impossível), a comunicação social divulga o acontecimento, os comentadores políticos fazem análises e prevêem o pior, fazem-se entrevistas a quem presenciou o barulho e a destruição, a revista indigna-se e diz seguir em frente com a força das canetas.
Todos nos escudamos por detrás da força e da liberdade inabalável dos cartoonistas.
Quando a barbárie acontece debaixo dos nossos olhos, ao pé nos nossos ouvidos, dentro dos nossos olhos queremos ser todos Charlie Hebdo.
É preciso ser-se conscientemente livre para não aceitar a falta da Liberdade!
Afinal que mal tem o traço de um lápis? às vezes um lápis incomoda muito mais do que um comentário!
Gostaria que os que agora se dizem Charlie Hebdo percebessem que o Charlie Hebdo, através dos seus cartoonistas e jornalistas, denunciaram as barbaridades da fome, das guerras, do sexismo, da intolerância, das prisões políticas, da censura…
São milhares de pessoas que estão na rua a gritar “Nós somos Charlie”, então sejam-no!