A IDEIA – “Allan Graubard e o Surrealismo Hoje” – por Miguel de Carvalho

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[Soubemos da vinda em 2013 de Allan Graubard a Coimbra, a convite do “The Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism”. Pedimos a Miguel de Carvalho uma apresentação da já longa acção poética do nova-iorquino Allan Graubard]

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Allan Graubard (1950) é poeta e dramaturgo, figura maior do surrealismo norte-americano, foi membro do Grupo Surrealista de Chicago organizado em torno dos Rosemont (Penelope e Franklin), estes também muito próximos aos surrealistas portugueses e através de quem, Graubard iniciou os contactos com Portugal. Corria o ano de 1976 com a grande exposição mundial surrealista em Chicago Marvelous Freedom Vigilance of Desire tendo reunido todos os surrealistas activos na “diáspora”. Esta exposição ou reunião revelou pontos críticos de discórdias e desengajamento entre grupos e indivíduos participantes. Graubard deixou o grupo em 1977, juntamente com outros surrealistas norte americanos os poetas e pintores Thom Burns, Jack Dauben, Laurens Weisberg e Philip Lamantia, em que todos eles colectivamente manifestaram repúdio ao carácter ditatorial dos Rosemont assim como “… aquelas sombrias associações de poetas e esquerdistas”. No entanto, os contactos estreitos com Portugal prosseguiram nomeadamente com o saudoso Mário Cesariny. Em 1983, no Ohio na cidade de Columbus, os “dissidentes” organizaram um encontro internacional de surrealistas intitulado Harvest of Evil onde entre muitos outros, participa Cesariny com os então destacados surrealistas Schlechter Duvall, Eugenio Granell e Clarence John Laughlin. Graubard combinou sempre a sua visão poética com representações dramáticas e musicais, colaborando com artistas experimentais tais como a bailarina Alice Farley e o compositor Butch Morris, figuras estas bem conhecidas dos círculos do surrealismo da América do Norte. Graubard adaptou em 1997 a peça de Radovan Ivsic (The King Gordogane) para um espectáculo poético em Nova York e em Zagreb. Publicou Uxmal (1983), Ascent of sublime (1984), Glimpses from a fleeing window (1992), For Alexandra (1993), Fragments from a nomad days (2005) e And tell tulip the summer (2011). Publicou para teatro Woman bomb/Sade (2009, ilustrado por Rik Lina), em que sucedeu a The wind’s skeleton (2005, com Alice Farley) e The one in the other (1998). Já recentemente publica com Thom Burns o livro Invisible Heads: Surrealists in North America – un Untold Story (2011) imprescindível para a compreensão do movimento surrealista norte-americano, as razões das dissidências e relações com o Grupo de Chicago e recentemente Targets (2013, com collages e pinturas de David Coulter).

Graubard colabora em Portugal através de 1) Mário Cesariny que lhe dedicou a tradução do seu poema Sweet Necklace of Suns e publicou nas suas Noa-Noa Surrealist Editions (Lisboa, Julho de 1991); 2) Nicolau Saião do Bureau Surrealista Alentejano (sediado em Portalegre) na organização do encontro de homenagem Um Postal para Mário Cesariny – Viagem a Arcturus (Antologia 2007 – Poetas na Surrealidade em Estremoz); 3) através de Miguel de Carvalho pela sua editora Debout Sur l’Oeuf (DSO) e o colectivo a ela associado The Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism (CMSPS). Na sequência da intensa troca epistolográfica estabelecida desde 2005 com DSO, esta publicou de Graubard os textos Black Pearls (2007, carta e poema com collage de Miguel de Carvalho), Enxertos (2007, jogo The Word Game estabelecido com Rik Lina) e Hippocampus (2008, jogo de relações ocultas entre poemas automáticos de Graubard e collages de Miguel de Carvalho). Em Portugal participou ainda como poeta nas exposições internacionais do surrealismo O Reverso do Olhar (Coimbra, 2008), A Voz dos Espelhos (Amadora, 2008) e Iluminações Descontínuas (Lagoa, 2009).

Graubard exerceu a sua colaboração com o colectivo CMSPS sempre à distância, não só através de epístolas, mas acompanhando estas com jogos poéticos, desde o simples e já tão popular cadavre-exquis passando por outros que exigem mais ou menos complexidade na sua realização tanto no número de participantes, como no emprego de utensílios (por exemplo lançamento de dados, mapas geográficos), tendo o acaso e o resultado deste sempre como estrutura de base na sua feitura. Ele esteve recentemente em Coimbra (Junho 2013) onde colaborou com o colectivo na leitura e realização de poemas colectivos com poetas de Coimbra de que resultou a publicação artesanal Let’s Dance de tiragem limitada pelas edições DSO e ainda Parallel Walk, resultado de um jogo de acasos relacionados com caminhadas, imagens e textos realizados à distância entre poetas de Lisboa e Coimbra.

Para terminar o resumo, deixa-se aqui testemunho do pequeno texto Autobiography que o autor publicou em O Reverso do Olhar (Coimbra, 2008): Allan Graubard is born in New York in 1950. In his first few years he lives in an apartment across the street from Poe Park. Despite the fact that the two share a name, it is only some 16 years later that he makes the acquaintance of Andre Breton, an invisible, whose face sometimes seems to resemble that of Poe. Breton-Poe will lead Allan through several thresholds, each more demanding than the last, until giddiness vies with passion, laughter with orgasm while language smokes up the street. In 1978, he meets Caroline McGee on a street car in San Francisco and everything thereafter consumes them – Breton and Poe included. Allan and Caroline still wear bird masks, even if the feathers are a bit clipped, and for fun they sneak off to the park by the Hudson River where they worship delirium in all its forms, from the petty to the grand. In 2008 all of this sustains to the undertow of Hollywood violins and theatrical gas lamps. If the present is as marvellous as the past, then despair will filter off – finally! – and a voluptuous kiss will end his days sometime in the third decade of the 21st century.

Miguel de Carvalho

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