Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Finlândia: mais austeridade não é seguramente a resposta
Bill Mitchell, Finland – more austerity is not the answer
Billy Blog, 21 de Abril de 2015
Publicação autorizada pelo autor
A Finlândia tem sido um dos países da zona euro que assumiu uma linha dura sobre a austeridade a aplicar na Grécia e consistentemente se recusou a apoiar os resgates feitos à Grécia. No fim de semana, os finlandeses foram às urnas e fizeram cair o governo em funções, colocando em seu lugar um partido centrista que defende uma plataforma de congelamento dos salários e de cortes mais profundos nas despesas públicas, alegadamente para recuperar a posição competitiva da Finlândia. Se essa perspectiva não for suficiente má , o partido do centro vai ter que entrar numa coligação com o partido que ficou em segundo lugar nas eleições – os verdadeiros finlandeses, que são uma cambada de gente que é contra a imigração e que quer que Grécia seja expulsa da zona euro. É possível que o Parlamento da Finlândia não venha a apoiar mais nenhum resgate da União Europeia para a Grécia. Aparentemente os Verdadeiros Finlandeses estão a comprar a linha com que irão intensificar ainda mais a exigência de austeridade com o argumento de que o aumento dos custos salariais minou a capacidade da Finlândia para competir nos mercados internacionais e em que tomam o desaparecimento da Nokia como ilustração da sua narrativa. A última coisa que a Finlândia precisa neste momento é de mais austeridade.
A Finlândia foi anteriormente considerada uma economia modelo em termos de competitividade. O gráfico abaixo, retirado da mais recente publicação do Índice de Competitividade Global – 2015 do Fórum Económico Mundial – 2014 – coloca a Finlândia em 4.º lugar a nível mundial.
O gráfico a seguir utiliza os dados mensais do Banco de Pagamentos Internacionais – índices de taxa de câmbio efectiva – que são publicados de Janeiro de 1994 a Fevereiro de 2015. (veja-se: http://www.bis.org/statistics/eer/index.htm?m=6%7C187 )
Podemos ver estes dados a partir da publicação – os novos índices de taxa de câmbio efectiva de BIS –, que foram publicados na revista trimestral do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS em inglês) BIS, Março de 2006 (veja-se : http://www.bis.org/publ/qtrpdf/r_qt0603e.pdf ). Havia anteriormente uma publicação – Medida dos preços internacionais e a competitividade pelos custos – que apareceu nos Economic Papers do BIS, n º 39, de Novembro de 1993- sobre o mesmo tema.
As taxas de câmbio efectivas reais fornecem uma medida na competitividade internacional e são baseadas na informação pertinente sobre os movimentos correspondentes dos preços relativos e/ou custos, expressos em moeda comum. Os economistas começaram a calcular as taxas de câmbio efectivas depois de que o sistema de Bretton Woods entrou em colapso na década de 1970 porque com este colapso acabava também a “taxa bilateral simples com o dólar ” ( veja-se: http://www.bis.org/publ/econ39.pdf ).
Os índices de taxa de câmbio efectiva real (REER) do BPI ajustam as taxas de câmbio nominais, com outros dados sobre a inflação interna ou sobre os custos de produção nacionais.
O BPI diz que:
Uma taxa de câmbio efectiva (EER) dá-nos um melhor indicador dos efeitos macroeconómicos resultantes da evolução do valor da taxa de câmbio do que qualquer simples taxa de câmbio bilateral. Uma taxa de câmbio efectiva nominal (NEER) é um índice de uma média ponderada das taxas de câmbio bilaterais. Uma taxa de câmbio efectiva real (REER) é o NEER ajustada pela evolução dos preços relativos considerados ou pela evolução dos custos relativos na produção; as alterações na REER, portanto, entram em linha de conta tanto com a evolução da taxa de câmbio nominal como das diferenças nas taxas de inflação relativamente aos seus parceiros comerciais. Na análise, tanto das políticas como da evolução dos mercados, a REER serve para diversas finalidades: como uma medida da competitividade internacional…
Se a REER sobe (desce), podemos então concluir que a nação está internacionalmente a ficar menos (mais) competitiva.
O gráfico a seguir mostra o movimento da taxa de câmbio efectiva real de 1994 a Março de 2015 para o total da zona euro (linha azul), para a Finlândia (linha vermelha) e para a Alemanha (linha roxa).
Os dados mostram que, depois da entrada em vigor do euro, a competitividade internacional da Finlândia e da Alemanha aumentou nestes dois países.
Na sequência da crise, a tendência geral tem sido a de declínio das taxas de câmbio efectivas reais, com a Finlândia e a Alemanha em sintonia até 2014.
Desde o início de 2014, a competitividade da zona do euro diminuiu cerca de 11,5 por cento, enquanto a taxa REER da Finlândia desceu 5,3 por cento e a da Alemanha desceu 6,9 por cento.
Assim, tem havido uma certa perda de competitividade internacional, em grande parte devido à sobrevalorização do Euro, mas a posição da Finlândia em termos de custos relativos internos custou permanece superior à Alemanha.
Mas o facto é de que a Finlândia tem estado mergulhada numa recessão desde o segundo trimestre de 2012. Desde o quarto trimestre, a Finlândia registou apenas três trimestres positivos de crescimento e na versão mais recente de dados a Finlândia contraiu-se em 0,2 por cento no seu PIB (trimestre de Dezembro de 2014).
O seu valor de pico em termos de PIB real verificou-se no quarto trimestre de 2007, e sete anos depois ainda está abaixo deste mesmo nível em 6,87 pontos percentuais do PIB .
O gráfico seguinte conta a história. É um índice do PIB real (2007Q4 = 100). No gráfico, as descidas do índice indicam um crescimento real negativo do PIB e o achatamento na inclinação negativa indica a desaceleração de crescimento ou a sua contracção.
A crise foi dura como se ilustra com os dados de 2008 e o défice orçamental aumentou (via estabilizadores automáticos e de algum estímulo discricionário), o crescimento real do PIB foi depois retomado até ao final de 2011, até que a austeridade absurda que se seguiu a esta data inverteu o processo.
A partir do primeiro trimestre de 2012, o crescimento tem sido em grande parte negativo.
A história do PIB em termos reais é reflectida pela evolução da taxa de desemprego conforme se ilustra no gráfico seguinte. Com o crescimento do PIB real quase constantemente vizinho de zero durante os últimos três anos, a taxa de desemprego tem até agora estado continuamente a subir.
Claramente, a abordagem política adoptada pelo governo finlandês desde 2012 não tem funcionado e o governo claramente merecia ser demitido.
(continua)
________
Bill Mitchell – billy blog, Finland – more austerity is not the answer. Texto disponível em:
http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=30697