Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Porque é que a Grécia deve sair da zona euro
Why Greece Must Leave
Editado por Zero Hedge, 11 de Junho de 2015
Submitted by Raul Ilargi Meijer via The Automatic Earth blog, 9 de Junho de 2015
O ministro da Economia francesa Emmanuel Macron e o vice-chanceler alemão Sigmar Gabriel publicaram uma peça na semana passada em The Guardian, que rapidamente relançou a nossa esperança há muito alimentada de que a profana União Europeia iria implodir e mais cedo ou mais tarde iria ser dissolvida,. Os dois senhores propõem uma reforma ‘radical’ para a UE. Em total oposição ao que as pessoas pensam hoje, contra a maré de eurosceptismo crescente, os cegos burocratas nas capitais europeias estão a falar ainda em mais centralização na UE.
Aqui está, esperamos que eles prossigam com toda a energia que têm para nos oferecer, e assim ouviremos muito mais sobre as ‘reformas’ propostas. Porque isso só servirá para aumentar a resistência e o cepticismo. Deixemo-los tentar ‘reformar’ a UE. Estamos todos a esperar por isso. Esperemos que seja mesmo assim porque fazendo-o de forma bastante aprofundada, serão exigidos referendos em todas as Nações na EU a 28 Membros, pois é preciso que todos concordem e numa votação por unanimidade
Os senhores sabem, é claro, que isso nunca vai acontecer. Assim terão de ser encontradas maneiras bem sorrateiras para ultrapassar esta dificuldade. Este é um campo em que Bruxelas é altamente experiente. Eles já mostraram muitas vezes que não vão deixar uma coisinha como 500 milhões de cidadãos a ficarem por sua própria conta e risco. Estamos curiosos para ver que manhosice é que eles vão imaginar desta vez e com este tempo.
Enquanto isso, no entanto, o cepticismo crescente ameaça dominar no dia a dia , em muitos países, e Grécia não é o líder neste campo. A Alemanha tem uma crescente ala direita no partido que quer sair (esperam até que Merkel deixe). Marine Le Pen prometeu tirar a França logo que chegue ao poder, e Marine a vai à frente em muitas sondagens. Ukip na Grã-Bretanha é simplesmente a vanguarda de uma ampla ala direita de um movimento que quer sair ou então ter os tratados cuidadosamente renegociados.
Os socialistas portugueses estão a subir fortemente nas sondagens sobre uma agenda hostil à União Europeia. O partido Podemos de Espanha não gosta de Bruxelas. Na Itália, o M5 Estrelas (M5S) de Beppe Grillo passou de uma posição de céptico a adversário abertamente ao longo dos últimos anos. Existem também diferentes níveis de antagonismo em todos os outros países também.
Agora, obviamente, nem todos os países da União têm o mesmo peso, politicamente falando (no que estaremos todos de acordo, penso). Temos actualmente a Alemanha, como o grande país, em seguida, a França e a Grã-Bretanha.
A Grécia, igualmente, é óbvio, não tem voz. Eles podem eleger um governo que quer mudar as coisas e para na sua própria casa, mas são informados de que não o podem fazer, de modo nenhum. Se a Alemanha elegesse um tal partido, toda a política da UE iria mudar num piscar de olhos. Uma verdadeira união de nações soberanas, eis o que a União Europeia claramente não é. E isso, claro, nunca foi possível, era qualquer coisa que as pessoas desejavam, mas nunca contemplaram os detalhes ou as consequências .
Ainda assim, dado que todo o projecto sempre foi representado como uma estrada de um só sentido, do qual não é possível sair, o peso das nações menores não deve ser subestimado. Talvez tudo o que um desertor possa gerar com a sua saída é tornar todo o o edifício altamente instável. Declarações no sentido contrário, são feitas somente por pessoas que comem arrogância desde o pequeno-almoço, almoço, jantar, até à ceia.
Se a França ou Alemanha saírem – a saída da França parece ser muito mais provável agora-, o projecto europeu acabou. O mesmo provavelmente seria verdade com a Itália. A Espanha seria um grande golpe. A Grã-Bretanha pode ser muito mais fácil (não pertence ao euro), embora as negociações – deixemos os referendos – sobre os tratados poderiam causar muita confusão e agitação. Enquanto vários dirigentes europeus tentam fazer-nos pensar que deixando as pequenas nações para trás (numa Europa a duas velocidades) isso não os prejudicaria, o que é um absurdo, mas eles não têm maneira de o saber.
David Cameron tenta convencer-se que ele pode sair alcançando algum tipo de estatuto especial para a Grã-Bretanha, mas outros também podem querer esse mesmo estatuto, e podem ter uma lista de pontos que querem ver discutidos, se e quando tais modificações do Tratado forem colocadas sobre a mesa. Múltiplos de 28 e já se percebeu também que ou nada muda ou então muda tudo.
A União foi à pressa e de forma descuidada enfiada numa malha apertada e em ponto cruz, com todos os países juntos, quando todos eles ainda estavam exclusivamente a sonhar mais com os barcos ao largo carregados com um enorme volume de lucros de que beneficiariam todas as economias num futuro próximo, em vez de se estarem a preocupar com as notas em letras miudinhas e colocadas entre parêntesis dos compromissos alcançados nos Tratados ou a considerarem possíveis consequências futuras desses mesmos Tratados, se e quando os lucros deixassem de serem ilimitados. Portanto, tudo o que acontece agora é uma improvisada peça representada por 28 actores, e na melhor das hipóteses, actores levemente talentosos a tentarem transmitir um ar de confiança. Isso é tudo que resta.
Atirar tudo para um monte e renegociar qualquer Tratado da EU comporta um elevado grau de probabilidade de ser semelhante a abrir-se a caixa de Pandora. E além disso, quaisquer alterações não passariam se um referendo fosse feito. Macron e Gabriel estão muito conscientes da mesquinhez da sua ideia.
“O que é importante é o projecto”. disse Macron numa entrevista ao Le Journal du Dimanche. “A alteração do Tratado é um método que decorreria e que teria de ser preparada no seu devido tempo,” disse ele, avisando que o povo europeu provavelmente rejeitaria um novo Tratado se fosse questionado sobre o mesmo em referendo.
Entretanto, as exigências britânicas de opting-out da “União cada vez mais restrita” podem ser acomodadas através de um especial “protocolo” aos tratados da UE, de acordo com Manfred Weber, um deputado do Parlamento europeu do grupo CSU (União Social-Cristã), que é um aliado próximo da Chanceler alemã Angela Merkel. Mas em troca, a Grã-Bretanha teria que aceitar perder o seu direito de veto em áreas onde outros querem avançar com uma integração mais profunda, advertiu este Eurodeputado alemão .
Em 2005, a França e a Holanda rejeitaram a constituição da UE em referendos nacionais respectivos. Mas Bruxelas “forjou” um ir em frente como se nada mais importasse. Hoje, no entanto, vamos vê-la a tentar de novo.
Há dez anos antes, os lucros estavam ainda na moda. Mas as coisas mudaram, e os problemas são muitos e por toda a parte. São problemas que Bruxelas procura “resolver”, oferecendo-se para isso a sim-mesma poderes cada vez mais centralizados. Mas o problema indubitavelmente maior de todos eles é que não há agora 10% dos europeus que estariam de acordo, pelas urnas de voto, em dar-lhes estes poderes. Assim, por favor, por favor, tente.
Quanto à Grécia, todas as negociações são realmente apenas situações em que correremos o risco de neste momento nos pormos a tocar música enquanto Roma arde. Mas isso não é por causa de a Grécia estar em dificuldades; é devido àquilo em que se transformou a União Europeia: um clube que depende apenas da sua capacidade em aterrar os Estados membros na sua submissão, e o mesmo pode ser dito do FMI. As negociações são sobre os valores das dívidas que foram impostas sobre a Grécia pela “Troika” quando esta decidiu resgatar os bancos das nações mais poderosas da Europa e pôr o povos grego de pernas para o ar.
A poderosa e arrogante Europa ainda virá a lamentar a decisão de não reestruturar esses bancos, porque este será o catalisador que fará explodir a União. Será por esta razão que se aperceberá como é que a dívida aumenta ainda mais e os mercados de activos começam a cair como os penhascos na falésia.
A Grécia deve sair da zona euro e o mais rápido que puder, todos os países o deverão fazer, especialmente os mais pobres. Não há nenhum futuro benigno ou mesmo economicamente viável para qualquer um na União. Um futuro no seio da União é infinitamente mais assustador do que o futuro de estar fora.
O que é evidente até agora é que os credores da Troika não vem à mesa para negociar, eles vêm para impor a sua vontade. E aqueles países que carregam a maior parte das dívidas estão mais vulneráveis às ameaças atiradas do outro lado da mesa. Se um país não quiser sair, em devido tempo a Alemanha irá decidir sobre o que cada país pode comer, o que os seus filhos irão aprender na escola e como é que todos nós nos devemos comportar. Deixaremos de viver enquanto nações soberanas.
A zona euro deve ruir. E então, deve ruir também a UE. Isto é o melhor para todos os que não estão dentro dos círculos de poder, a longo prazo. O que os países devem fazer agora é ‘proteger-se ‘ o melhor que podem dada a precipitação nuclear que a falha irá provocar. Concentrem-se na resiliência.
Enquanto a liderança em todos os lugares sonha com um poder cada vez mais centralizado, a realidade económica dita a descentralização. Este movimento para a descentralização só pode ser parado através da propaganda e da violência. Mas isso será apenas temporário.
Mesmo se Bruxelas de alguma forma ‘resolver’ a questão da Grécia, outras nações seguir-se-ão no sentido de passarem a serem elas os alvos dos mercados financeiros, e uma vez que se trate da Itália ou de Espanha, que estão ambos em situações muito precárias, a UE e o BCE simplesmente não são suficientemente fortes para absorver o golpe. E então a pergunta a fazer é: assim para onde é que caminhamos ?
Muitas vezes já falámos de que todos os governos, as estruturas de poder e as organizações supranacionais são um ímã para as últimas pessoas que cada um dos nós gostaria de encontrar: os sociopatas. Isso não é uma opinião, é uma descrição da dinâmica da psicologia de grupo humano. A própria Grécia antes de Syriza é um bom exemplo disto mesmo.
Quanto menores forem os países, Estados, regiões a que aos políticos é permitido governarem, menos provável será que os postos de direcção atraiam os sociopatas. Outras considerações contam também, a remuneração, as probabilidades para forjarem laços com uma elite que possa servir os seus interesses. Maiores entidades seguramente atraem mais estas mentes patológicas. Excepções à regra são de longe muito poucas . Também: quanto mais uma sociedade gere o campo da propaganda, o mais provável é ter – e manter – um sociopata como sendo o seu principal dirigente político.
Os EUA são um bom exemplo. Assim é a EU igualmente. E obviamente, o FMI, o Banco Mundial, NATO, FIFA. Nós sempre falhamos na questão de “ fazer em grande escala “ ‘ em benefício dos cidadãos. Quanto maior a escala, quanto menos as pessoas beneficiam.
Só quando o seu momento de glória parece estar a chegar, é que a globalização nos irá conduzir para a descentralização e para o proteccionismo. Tal como a estabilidade leva à instabilidade.
Uma característica sociopatológica da UE é evidente na forma em que os líderes da organização lidam com a Ucrânia, com os refugiados ao longo da costa Sul e, mesmo dentro e no interior das suas fronteiras , com a sociedade grega, com os hospitais, com o desemprego, com a fome. Não há nenhuma compaixão, não há nenhuma consciência.
Na UE, o ideal (l) tornou-se o problema, argumenta George Friedman de Stratfor:
Está a União Europeia já à beira do desastre inevitável?
O importante da questão é que uma zona de comércio livre, em que o buraco negro está no centro, a Alemanha, bate absolutamente todos os seus concorrentes e a concorrência não pode proteger-se, é uma situação insustentável.
[..]Assim, as grandes ideias com que a União Europeia começou mudaram muito, como frequentemente acontece na história, e transformaram-se em problemas.
Pergunta: [..]Mas falou num grupo de países arruaceiros e já fez alusão à história. Quer dizer, que desde a guerra Franco-Prussiana até 1945, a história é muito, muito desagradável mesmo.
É o corolário que a Europa eventualmente pode caminhar para a guerra ?
Resposta de George Friedman: Bem, a questão é que caminhou ? De 45 para 92, a Europa foi ocupada pelos soviéticos e pelos americanos. As questões fundamentais da soberania não estavam nas mãos de Londres, de Berlim ou de Roma, estava nas mãos de Washington e Moscovo. Em 92, a União Soviética entrou em colapso, e pela primeira vez desde a segunda guerra mundial, a Europa tornou-se verdadeiramente soberana. E há 16 anos, eles tiveram sucesso. Nos últimos sete anos, tem sido bastante desastroso, e a questão é então: será que poderão inverter este caminho ? E se eles não mudam de caminho, o que é que os impede de voltar para o tipo de história que é normal na Europa?
E o que defendo é que, basicamente, o período de 92 a 2008 foi uma aberração interessante. Estamos agora de volta ao velho normal, e de quanto é que isto vai ser mau depende de muitas questões.
Mas primeiro temos de realmente reconhecer que a ideia de Europa que perspectivámos com a União Europeia não vai voltar, [ deixa de pertencer ao futuro, morreu com este presente]
Nós faríamos melhor em não nos esquecermos disto. Se a Europa nunca vai ser o que era suposto vir a ser, então porque alguém irá querer ser parte dela, com excepção de alguns poucos que lucram com isso? Se verdadeiro, o corolário é que a Europa vai descer eventualmente e regressar à guerra, não é hora de cuidar de si próprio? E se não o é, realmente, o que os gregos estão a tentar fazer hoje?
Muito a ver com este artigo, Tyler Durden publicou hoje um artigo por Jeff Thomas que vai mais fundo:
The New World Order – A Faustian Bargain
[..]a maioria das pessoas em qualquer país que se considere parecem acreditar que os partidos políticos que estão no poder não conspiram no seu próprio interesse colectivo e contra os melhores interesses dos seus respectivos eleitores.
Da mesma forma, é improvável que aceitem que o fascismo existe no seu país — que os membros do seu partido favorecido pactuem com as indústrias. Além disso, a maioria das pessoas parecem não acreditar que os líderes do seu próprio país conspiram com os dirigentes dos inimigos do seu país, de forma a que possam gerar prejuízos ou perigo para o próprio povo. Isso é ingenuidade. Tais conluios são a norma e não a excepção.
Aqueles que tendem a estar melhor informados, prontamente reconhecem que o conluio existe entre todos os casos acima, de um grau a outro. Se este grupo erra, está muitas vezes na hipótese oposta — é que o conluio é abrangente.
Não pode haver dúvidas de que se está a procurar alcançar uma Nova Ordem Mundial por alguns dirigentes — isto foi tornado claro pelo menos há uma centena de anos por muitos que se consideram como uma Elite. É, portanto, um segredo de polichinelo.
Como afirmou David Rockefeller nas suas memórias: Na minha experiência em lidar com dirigentes políticos (e aspirantes a políticos) de várias jurisdições, encontrei aí uma a existência de uma consistente sociopatologia (por definição, o desejo de domínio sobre os outros, uma imerecida autoconfiança, falta de empatia, de um sentido de jurisprudência, de uma falta de consciência, etc.).
Sociopatas são atraídos para a liderança política por razões óbvias. Primeiro, eles são propensos aos conluios, na medida em que eles reconhecem o que os pode favorecer o mais que possível nos seus interesses (acordos com um pequeno grupo de indivíduos que permita a dominação sobre outros, sobre maiores grupo de indivíduos.
Foi postulado por muitos que aqueles que se vêem como sendo uma elite estão a chegar à conclusão que eles próprios se sentem como sendo dominantes no mundo. No entanto, por muito bem sucedidos que eles sejam, eles próprios irão trair os seus parceiros no dia seguinte, é da natureza serem assim. O seu comportamento provável seria o de um grupo de gatos com as suas caudas conjuntamente amarrados .
Primeiro há, com toda a certeza, forças que são extremamente dominadoras (independentemente de como é que podem estar intimamente associadas) que, num futuro próximo, darão e serão a causa de imensos prejuízos à causa da liberdade do mundo, particularmente nos países onde são mais dominantes ou onde se vão tornar muito mais dominantes. Em segundo lugar, a situação parece estar a chegar a uma situação limite.
As duas maiores incertezas será a de saber qual a dimensão dos danos antes que a poeira assente e os disfarce e, em termos de tempo, qual será a duração do período de destruição e de luta pelo domínio do mundo.[…]. O melhor que pode ser feito é trabalhar de modo a colocarmos-nos nós próprios fora da sua esfera de influência e tanto quanto possível.
O que descreve como são as funções da UE e porque é que a Grécia – primeiro de tudo e a primeira coisa a fazer logo de manhã – precisa de abandonar a zona euro. Não há futuro na União Europeia para quem tenha o desejo de ali viver. Não é uma vaga que irá levantar todos os barcos, é uma vaga que os vai afundar.
Editado por Zero Hedge, Why Greece Must Leave. Texto disponível em:
http://www.zerohedge.com/news/2015-06-10/why-greece-must-leave