Está a passar como democraticamente aceitável um conjunto de afirmações do género – não votei no PS para o PS se aliar ao PaF, ou, não votei no PS para o PS se aliar à sua esquerda; ou ainda, no mesmo registo, mas de outras zonas: os eleitores do PaF não votaram para terem um governo do PS com o BE e o PCP.
Não são apenas comentários de cabeleireiro, nem de táxi, nem de café. São comentários de agentes avençados do comentário politico, em horário nobre de TV e página frontal de jornal. Tanto surgem à esquerda como à direita. Saem das mentes de pessoas que deviam saber um mínimo dos princípios dos sistemas políticos das democracias representativas. De facto eles sabem, sabem que estão a utilizar uma falácia para enganar quem os ouve. É pura manipulação. Sabem que estes regimes se baseiam na aceitação de cada um ser representado por alguém em quem confia e na aceitação pacífica do governo pelos outros que não os nossos (o voto substituiu a força). Sabem que nos regimes democráticos o voto é um ato positivo: escolho o que considero melhor, mas respeito que a escolha dos outros possa ser diferente da minha escolha. Sabem mas só praticam quando lhes convém.
Nestes regimes democráticos existe uma lei fundamental que impede que a escolha de uns, mesmo que sejam a maioria, implique o banimento dos outros. O banimento é o sucessor do ostracismo, uma punição existente em Atenas, onde o cidadão, geralmente um político, que ameaçasse a democracia, era votado para ser banido ou exilado, por um período de dez anos.
O discurso do “eu não votei para que…” é o da defesa da lei do banimento. Mas é também a defesa do totalitarismo, que se baseia no unipartidarismo, na proibição de alternativas. É ainda a negação da evidência. Mesmo de uma evidência gráfica, que se mete pelos olhos dentro. Basta reparar num boletim de voto: ali estão listadas todas as possibilidades e cada cidadão só pode escolher uma. Não pode rejeitar nenhuma. E não pode rejeitar nenhuma porque o regime democrático, que está regulado pela Lei Fundamental, não o permite.
É lamentável que este discurso de raiz totalitária, que legitima o banimento, seja cartilha do actual presidente da República. É também revelador da deficiência democrática de tantos que se afirmam democratas e que, durante anos, acusaram de totalitários aqueles que, como o PCP, se excluíam de participar no governo com o argumento de que não o fariam com quem não alinhava com os seus princípios ou o seu programa. Bastou o BE e o PCP manifestarem-se disponíveis e surge o clamor do ai valha-me Deus que não foi para isto que…
Este discurso revela os chamados democratas de oportunidade. Estão bem espalhados e bem espelhados em todos os partidos. Camões retratou-os:
“Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.”
Meu caro, você acerta muitas vezes na mouche! Parabéns por mais esta! Bem precisados estamos de que o pessoal perceba que isto já não é como era. E relembrar princípios democráticos só faz bem à saúde!
Subscrevo as palavras de Francisco Tavares.
Como democrata, faço uma análise democrática: o povo português na sua maioria escolheu uma coligação de partidos. Votou noutros partidos não para que o seu voto fosse inútil mas sim que
Representasse os seus interesses ou modo ou valores na vida.O segundo partido mais votado é dirigido por um golpista que com pretexto que uma vitória obtida por um seu camarada era poucochinha,arranjou uma votação de militantes e simpatizantes!!!! que lhe deu a vitória é arrumou o outro. Nesta votação ,partiu de sondagens altamentes favoráveis e foi perdendo base de apoio e teve uma derrota grandinha. Demitiu-se? Não .Como ia ficar sem emprego se se demitisse então inventou que ,ao contrário de sempre , em que camaradas seus e da oposição sempre viabilizaram os governos da maioria daquele momento, ele inventou agora que : não facilitaria nada para haver um governo do vencedor.Faria um acordo com partidos com zero de afinidade consigo mas ao menos teria este cenário:
O PR nomearia um governo da coligação. Este governo seria vencido no parlamento quer no programa de governo quer no orçamento. Nesse caso a contra gosto ou não , é face à impossibilidade legal de convocar novas eleições o PR não teria outro remédio senão encarregar o golpista de formar governo com os aliados de momento. É assim o golpista embora segundo ganhava a corrida à primeiro. É o que o país precisa? É o melhor para o país? Isso não interessa nada. O que interessa é que o golpista não foi obrigado a demitir-se ,continua na política e até vai fazer de Pai Natal pois para cumprir tudo o que já prometeu vai rebentar com o país e teremos novamente a troika. Só que …..o PCP na primeira curva vai fazê-lo estatelar e eu vou rir com muito gosto. A história não vai premiar o golpista. Podem crer.