Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Os subúrbios, as periferias francesas de Daech – como a esquerda caviar traiu o povo
Fabrice Balanche, Les banlieues françaises de Daech – Comment la gauche caviar trahit le peuple
Revista Causeur.fr, 17 de Novembro de 2015
Publicação autorizada
Fabrice Balanche, Director do Groupe de Recherches et d’Etudes sur la Méditerranée et le Moyen-Orient na Universidade de Lyon-2.

Depois desta Sexta-feira negra, não vejo como é que o governo francês vai poder continuar a dizer “nem Daech nem Bachar” e a permanecer alinhado com as potências sunitas do Médio Oriente. Os terroristas foram formatados pela ideologia salafista patrocinada pela Arábia Saudita, indirectamente financiados pelo Catar e outros “doadores privados”, sustentados militarmente pela Turquia, país no qual transitam sem problema. Os intelectuais islamoesquerdistas explicar-nos-ão que é a culpa é de Bachar Al-Assad porque se tivesse abandonado o poder em 2011, a Síria seria hoje uma democracia laica (certamente, acredita-se na palavra de honra desta esquerda caviar). Se Bachar Al-Assad não existisse, seria necessário inventá-lo porque este resume para toda a classe intelectual francesa a origem do mal.
Ironia do calendário, o G20 teve lugar na Turquia, no país governado por Erdogan, o patrocinador de Daech, que, a seguir a dois atentados mortíferos cometidos pelo Estado islâmico este ano na Turquia, sem dúvida que com a aprovação dos seus serviços de segurança, ataca os Curdos, estes mesmo que combatem Daech. Ninguém duvida que Laurent Fabius tenha estado muito à vontade nesta reunião onde a hipocrisia foi de rigor, Fabius que é o responsável pelo impasse total em que a França se encontra mergulhada no Médio Oriente. Felizmente que a sua doença o vai obrigar a deixar as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros, depois do desastre das regionais que se anuncia. A sua partida por razão de saúde vem a calhar para se alterar a política no Médio Oriente.
Infelizmente, duvido que a política de complacência em relação ao Islão radical se altere realmente no plano interno. Podem prender-se alguns imans, mas não se tocará no fundamental. Enquanto existirem nos subúrbios zonas de não-direito onde os traficantes de droga, gangs e os fundamentalistas puderem prosperar em toda a liberdade não resolveremos o problema principal: são os territórios franceses de Daech, da mesma maneira que os de Raqqa, Al-Anbar ou do Sinaï. A França possui também zonas cinzentas onde se implanta o terrorismo islâmico.
É necessário começar por reabilitar as escolas em todos os bairros, cessar a disponibilização de um ensino ultra – desvalorizado, de tipo low-cost, deixar de estar a passar os alunos de classe ou para níveis superiores para nos desembaraçarmos deles mais rapidamente, deixar de estar a reduzir a autoridade no mínimo para evitar o motim. Nos colégios de ZEP (zonas de ensino prioritário, zonas de ensino em dificuldade), os professores acumulam as licenças por doença com o aval da reitoria que não quer que haja vagas. É a este preço que mantemos o pessoal a trabalhar nos ZEP, porque o ministério da Educação Nacional não quer fazer prova de autoridade. Porque a esquerda caviar despreza as classes populares oferecendo-lhes um ensino sem nível enquanto que os seus filhos frequentam o liceu Henri IV. Najat Vallaud Belkacem, com a sua reforma do colégio, está para a Educação Nacional como Laurent Fabius está para a política estrangeira.
Fabrice Balanche, Revista Causeur, Les banlieues françaises de Daech – Comment la gauche caviar trahit le peuple .
Texto disponível em:
http://www.causeur.fr/syrie-daech-banlieues-attentats-paris-35421.html