Percebo, depois, que o “Jesus em directo” e que “fala” é o Jesus de Alvalade.
Fico mais tranquilo.
Jesus fala durante largos minutos.
Logo a seguir, há outro rodapé que anuncia:
“O autocarro do Benfica abandona o centro de estágio do Seixal em direcção ao Estádio da Luz.”
(Fantástico! O autocarro do Benfica move-se. E em direcção à “Luz”…)
O autocarro vermelho é perseguido por viaturas e motos que transportam operadores de câmara que me dão a possibilidade de ver tudo: a Baía do Seixal, a Ponte 25 de Abril, a entrada em Lisboa. Fico maravilhado.
E agradeço tanta e tão boa Informação.
Logo a seguir o “pivô” de um dos canais por cabo anuncia:
“Seguimos agora em directo para o hotel onde está instalada a equipa do Zenit.”
Agora, levo com um sujeito que, quase em êxtase, vai-me apresentando alguns dos elementos da equipa russa:
“Hulk, Javi Garcia, Garay… e André Vilas Boas dirigem-se para o autocarro”.
(Ou seja: lá está o André Vilas Boas a dirigir-se para a sua “cadeira de sonho”…)
Regressa o “pivô” de um dos canais por cabo, que logo, logo, passa a emissão para o Estádio da Luz.
Está um frio de rachar, mas a menina de serviço pergunta a quem passa:
“Qual vai ser o resultado do jogo de hoje?”.
Há quem não pare mas há quem o faça. E há, também, quem aproveite para fazer uma chamada telefónica e acenar com a mão:
“Querida, estou na televisão!”
A emissão regressa ao estúdio e o “pivô”, que está acompanhado por três senhores com ar grave e sério, questiona sobre a táctica a utilizar pelo Benfica para bater o Zenit.
O jogo começa e acaba o “especial”, que a partida é em sinal aberto e noutro canal.
Mudo de canal. Uma vez, duas vezes, três vezes.
Há novelas em sinal aberto e fala-se sobre futebol em canais fechados. Agora, discute-se sobre os encontros do dia seguinte. Os do Sporting e do Porto.
Acaba o jogo na Luz e logo começam mais uma data de “especiais”.
Em todos os canais por cabo. Há “pivôs”, comentadores, “directos” à porta do estádio e o povo a manifestar a sua alegria com o golo de Jonas.
Até ao final da noite é o futebol quem mais ordena.
Agora, fala Peseiro e repetem-se as falas de Jesus. Até à exaustão, pois é importante que o rebanho as oiça e medite.
Fazem-se prognósticos.
Com ar grave e sério, pois o futebol é uma indústria.
Uma indústria respeitável e recheada de gente respeitável.
A dose repete-se no dia seguinte, pois Porto e Sporting defrontam duas equipas tramadas da Alemanha da tramada senhora Merkel.
Há “directos” à porta dos hotéis, à porta dos estádios, comentadores em estúdio. Comentadores, que acabam a acusar as equipas de Jesus e de Peseiro de tremerem frente aos tanques alemães.
Jesus volta a falar em “directo”. Jesus está irritado. Muito irritado. Por via dos assobios do público para os “patinhos feios” da equipa. Diz ele, mas eu desconfio.
Para mim, o Jesus de Alvalade está é zangado com o dr. Cavaco. Compreendo-o: se há quem mereça ser medalhado é ele. Pelos altos serviços prestados em prol da imbecilidade pública e porque muitos dos medalhados pelo dr. Cavaco nem para apanha-bolas servem…