A CRIAÇÃO DE MOEDA, BANCA E CRISES: UMA OUTRA PERSPECTIVA – UMA NOVA SÉRIE SOBRE QUESTÕES DE ECONOMIA – 7. O BCE VAI TENTAR SALVAR A SUA CREDIBILIDADE COM NOVAS MEDIDAS, por ROMARIC GODIN – II

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

La tribune

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O BCE vai tentar salvar a sua credibilidade com novas medidas

Romaric Godin, La BCE va tenter de sauver sa crédibilité avec de nouvelles mesures

La Tribune, 6 de Março de 2016

(conclusão)

O risco bancário

Ainda assim, aqui também, o movimento não é simples. Estas taxas negativas agitam  o mercado que teme um impacto sobre a rentabilidade de um sector bancário cuja saúde não está nada  garantida. Um medo alimentado, no entanto, pelo próprio sector, que se queixa de  um monte de taxas negativas. De acordo com Frederik Ducrozet, estes receios são exagerados: “Eu acho que o custo de taxas negativas é de  cerca de 2 mil milhões de euros, o que é viável em termos de lucros acumulados no montante de 315 mil milhões de euros. “Mas, novamente, o efeito psicológico funciona. A redução das taxas negativas poderiam alimentar  temores sobre a rentabilidade  dos bancos. Novo dilema, portanto, para o BCE, sujeito a uma necessidade de cortar nas taxas de juros e com o risco de provocar  uma crise bancária.

A taxa negativa a “dois níveis”?

Para o resolver, parece desenhar-se  uma solução “a Suíça”. Tal como na  Confederação Helvética, o BCE poderia  decidir não  tributar o excesso de liquidez senão para  além de uma certa proporção. Os bancos disporiam, então, de  um “colchão de segurança” e seriam menos afectados  pelo custo de taxa negativa, mesmo que pouco elevado. Benoit  Coeuré, o membro francês do Conselho Executivo do BCE, evocou esse  mecanismo ainda há pouco tempo. Mas isso não fará correr o risco de reduzir a eficácia, já contestada, das  taxas negativas? “Não verdadeiramente, diz Frederik Ducrozet por causa dos 700 mil milhões de euros de excesso de liquidez,  apenas 300 mil milhões são” utilizados “para fazer descer as  taxas. “Além disso, o” excesso de liquidez “refere à ” moeda de banco central “que só circula  entre os bancos e o banco central. Este montante vai aumentar naturalmente com o QE, reduzindo o impacto da “almofada de segurança. “

O  BCE  será ainda credível?

Há aqui ainda uma última pergunta, a mais central: Pode o BCE, apesar de tudo, ainda convencer alguém? O BCE começou o seu corte nas taxas em Outubro de 2013, e começou as suas  primeiras medidas não convencionais em Junho de 2014 e lançou o seu QE em Março de 2015. E a inflação continua teimosamente baixa. Mesmo que o BCE disponha ainda de outras armas, a sua capacidade de agir realmente começa a embotar. As ferramentas que  permanecem disponíveis começa porém  a diminuir. Sabemos que os próximos passos serão mais difíceis de implementar devido à oposição alemã. Especialmente, os mercados estão a começar  a perceber que a QE tem um carácter “defensivo” contra a deflação, mas em que a sua capacidade de fazer subir  a inflação é diminuta. No entanto, num contexto internacional em que os bancos centrais estão fortemente em  concorrência    para “exportar” a sua deflação, a tarefa torna-se muito difícil.

Os limites da política monetária

Adicionar 10, 15 ou 20 mil milhões de euros mensais à  QE será então  suficiente para restaurar essa credibilidade? Sem dúvida, a muito curto prazo para tranquilizar os mercados e estabilizar a situação. Mas o BCE está constantemente na corda bamba. “O BCE é credível tanto quanto há  mesmo um lento aumento da inflação subjacente”, disse Frederik Ducrozet. Mas mais a inflação permanece baixa  durante muito tempo, mais é então  difícil de corrigir as expectativas, e mais a inflação permanece baixa: esta é a principal lição da história recente do Japão. Mas o BCE, isolado, utiliza e reforça uma ferramenta que tem mostrado a sua incapacidade para a inverter a evolução da inflação. E se o problema não for  quantitativo, mas sim qualitativo?

Cada vez mais, parece claro que sem se utilizar  a alavanca orçamental, a batalha do BCE estará  perdida de antemão. O BCE combate  uma realidade que ele controla  cada vez menos bem. “Sem o recurso a uma política de investimento público forte, o QE leva a má alocação de recursos e terá um baixo impacto sobre a inflação e as medidas do BCE parecem ser em vão “, observa Christopher Dembik, economista do Saxo Bank. Este economista  teme um cenário de estilo japonês: “No Japão, a política fiscal veio   tarde demais e inverter  as expectativas dos agentes económicos é um enorme desafio, é isso que agora ameaça a zona euro. “É como se a política monetária com  que os estados têm contado quase exclusivamente desde 2007, tenha chegado  ao limite das  suas possibilidades.

As contradições do BCE

Só que no quadro orçamental da zona euro, ainda reforçado  em 2011 e 2012, a alavanca orçamental  é inoperante, e é é  tanto mais assim quanto  a Alemanha, que dispõe de margem de manobra  se recusa a agir. E o BCE está preso numa armadilha. Enquanto Instituição pode minar o quadro orçamental e, na quarta-feira, 2 de Março,  Benoit Coeuré  insistiu que não há margem de manobra orçamental. No entanto, a política do BCE  não pode ser eficaz sem esta alavanca orçamental. O BCE está, portanto, preso nas suas contradições. O risco é o de que o mercado possa já não acreditar  na sua capacidade de agir sozinho. Como não haja   política orçamental, o BCE pode não convencer ninguém a prazo. E a recuperação na zona do euro, já fraca,  ficará então em situação de grande perigo

 Romaric Godin,  La Tribune,

 

 Aqui está o balanço do BCE ( do Eurosistema para se ser mais exacto, isto é, BCE+todos os bancos centrais nacionais):

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criação monetária - XLIII

criação monetária - XLIV

 

Vê-se bem  a QE em, curso  em que o BCE compra essencialmente obrigações públicas, aumentando assim o seu risco…

O BCE é uma incrível aventura história de que o nosso dinheiro é o herói (sic)

Romaric Godin, La Tribune, La BCE va tenter de sauver sa crédibilité avec de nouvelles mesures, Texto disponível em :

http://www.latribune.fr/economie/union-europeenne/la-bce-va-tenter-de-sauver-sa-credibilite-avec-de-nouvelles-mesures-555580.html

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Para ler a Parte I deste artigo de Romaric Godin, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

A CRIAÇÃO DE MOEDA, BANCA E CRISES: UMA OUTRA PERSPECTIVA – UMA NOVA SÉRIE SOBRE QUESTÕES DE ECONOMIA – 7. O BCE VAI TENTAR SALVAR A SUA CREDIBILIDADE COM NOVAS MEDIDAS, por ROMARIC GODIN – I

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