A GALIZA COMO TAREFA – ú são os bytes d’antano – Ernesto V. Souza

Resulta pavoroso comprovar como muitos dos textos publicados, entre fim dos noventa e primeiros anos do século XXI, em meios digitais, especialmente revistas, blogues e sites que no seu dia estiveram efervescentes no topo da moda, não são já simplesmente encontráveis, e em muitos casos, se não foram devidamente arquivados ou foram recuperados através de alguma ferramenta de gerenciamento e depósito de informação digital simplesmente já não existem.

Isso por não falar em navegadores já inexistentes, em formatos ultrapassados e em desenhos, suportes e páginas desenhados em linguagens obsoletas. E também em suportes, em máquinas que suportavam a informação ou a faziam legíveis. Que foi dos floppy, dos disquetes, dos CD-ROM, DVD, das fitas, dos videos, cassetes, bandas magnéticas…

Que será em breves anos do livro eletrónico? dos telefones de “ultima” geração? dos computadores tal como os conhecemos? ficarão obsoletos como os leitores de microfilme, ou os reprodutores de VHS?

Que acontecerá com as correspondências pessoais privadas e institucionais? com os depoimentos no facebook? com os comentários em foros e listagens de correios?

Onde irá toda essa informação, todos esses textos?

Atualmente a média de vida de uma publicação num site é de 100 dias antes de que seja modificada ou apagada, sem contar com as mudanças de suporte, de servidor ou de programa. Em dez anos a evolução tecnológica deixará obsoletos a totalidade dos suportes e dos programas desenhados para edição, maquetação e leitura de textos.

Os textos e conteúdos que não sejam migrados a suportes, linguagens e programas atuais, não poderão ser reproduzidos, e é difícil pensar que alguém vai tomar o trabalho de o fazer. É verdade que a cada algum tempo, Internet Arquive, fundada em 1996 por Brewster Kahle guarda uma cópia de cada página web. Mas esta “Wayback Machine”, máquina do tempo de internet está sujeita às mesmas limitações de obsolescência e de financiamento.

Mas afinal, não é para se preocupar, nunca se conservou tudo quanto cada momento histórico produziu. A conservação do património cultural escrito, a “preservação” do acervo digital, não passa de um mito. Os acasos, as vontades individuais e as preferências de particulares jogam não pouco corrigindo e modificando o que a memória “oficial” dita deva ser conservado.

 

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