NESTE DIA, 5 de MAIO de 1818, nasceu KARL MARX

Neste dia... - João - II

Faz hoje 198 anos que, em Trier, uma cidade alemã situada perto da fronteira com o Luxemburgo, na margem do rio Mosela, nasceu Karl Marx. Filho de Heinrich Marx e de Henrietta Pressburg, ambos de ascendência judaica, estudou direito e filosofia em Bona e Berlim, e tornou-se um nome incontornável, não só na história das ideias políticas, como na própria história universal. Quer se concorde ou não com as suas ideias, elas tornaram-se um marco na evolução do pensamento humano. O nosso amigo Camilo Joseph enviou-nos o texto que a seguir publicamos, com a indicação do argonauta Júlio Marques Mota. Cumprimentamos daqui a autora, Roseli Salete Caldert, que julgamos ligada ao MST, à Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo, e à área educativa em geral, e apresentamos-lhe os nossos mais sinceros agradecimentos.

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Hoje é aniversário do nascimento de Karl Marx. Ele nasceu em Trier (Alemanha), a 5 de maio de 1818 e faleceu em Londres a 14 de março de 1883.

A propósito da data lembramos que Marx continua pra nós uma referência fundamental, de conteúdo e de forma, de visão de mundo e de postura, para pensar os desafios do momento atual na perspectiva mais radical de superação do modo de produção capitalista ou da ordem do capital. E pensar continuando Marx e não o congelando pela repetição ao cansaço de seus textos, suas ideias.

Karl Marx não foi um pedagogo ou um pensador da educação. Seu objeto de estudo e de militância foi a lógica de funcionamento estrutural da sociedade capitalista, e as possibilidades de uma revolução socialista comandada pela classe trabalhadora. Mesmo assim podemos falar de um legado específico de Marx para nós que trabalhamos com educação. Porque ele foi um pensador do todo da história, porque foi (e continua sendo através de sua obra) um grande educador dos trabalhadores e porque também se preocupou com as questões de educação e de escola da sua época. A grandiosidade de sua obra, produzida pela combinação fecunda entre disciplina de estudo e militância política, são ainda hoje uma referência obrigatória para a teoria e a prática de uma educação e de uma escola que se coloquem a serviço da transformação social e da emancipação humana.

Alguns aspectos do legado de Marx, rememorados de momentos anteriores de discussão sobre ele em nossos cursos e seminários, apenas para motivar o diálogo sobre ele neste dia:

  • Exemplo de intelectual orgânico da classe trabalhadora. É importante legado seu vínculo com organizações dos trabalhadores e inserção prática em lutas políticas materializando seu compromisso ético-político e o pressionando a “pesquisar dentro da realidade”. E isso tanto do ponto de vista do conteúdo (o que pesquisar), mas também de processo de produção da pesquisa, que precisa ir envolvendo o conjunto dos membros da organização, o povo que efetivamente faz a luta de classes… Não se é intelectual orgânico de uma classe porque objetivamente se pertence a ela, mas também não se é orgânico apenas no plano das ideias. Há uma mediação material necessária que produz o vínculo e essa mediação não é “a classe”, mas as formas históricas pelas quais as classes se formam, se constituem…

  • Sua concepção de ciência que se pensa a si mesma como uma denúncia e cujaobjetividade empírica não é um impedimento para o juízo ético-político”. Como nos chama atenção Ludovico Silva (em O estilo literário de Marx, Expressão Popular, 2012, p. 97), é por isto que “esta ciência irrita profundamente a todos os cientistas que estão a serviço do capital, que procuram inutilmente qualificar O Capital como ‘obra ideológica’ – quando O Capital é precisamente a maior das críticas já feitas à ideologia! Ciência ideológica é, ao contrário, a ciência posta ao serviço do capital e submissa a seus ditames e necessidades”. Sim, precisamos fazer ciência, mas não no sentido que a ciência tem para o capital, e especialmente no período regressivo-destrutivo atual e em nosso contexto específico, de barbárie institucionalizada…

  • E uma lição fundamental de Marx sobre a produção científica é de que as categorias teóricas “nascem de uma experiência histórica real”. Não são as pesquisas teóricas que fazem avançar a teoria (no máximo ajudam a avançar a compreensão da teoria existente). O avanço da teoria não pode prescindir da pesquisa na realidade empírica, embora o desenvolvimento teórico seja tarefa específica, mas visando a unidade: o chamado “concreto pensado” (não podemos fundir os momentos empírico e teórico nem desarticulá-los, eis o desafio!),… A outra lição é de método de produção do conhecimento científico sobre a realidade, que prioriza a apreensão do desenvolvimento histórico dos fenômenos pelo movimento das contradições (categoria chave) e constituição da totalidade (outra categoria chave). – Quanta dificuldade nossa formação de base positivista, onde a noção de equilíbrio é a fundamental, interpõe ao nosso pensamento para que se assuma como visão de mundo que as contradições, afinal, são o que mais importam! E que, algo que temos discutido pouco, isso não vale somente para as ciências sociais, mas também para as ciências da natureza…

  • Sua preocupação em revisar a forma de exposição dos resultados de sua pesquisa de modo a ser compreendido até a raiz, exatamente pelo objetivo de incidir praticamente na tarefa de transformação subversiva do mundo (Ludovico Silva, p. 16). – Em pensar que existem marxistas que sentem certo prazer doentio em não ser entendido, em “incomunicar-se”… E os leitores que Marx especialmente visava eram os trabalhadores, porque somente eles poderiam transformar os conhecimentos científicos em ferramentas da luta de classes: e seu objetivo não era somente que o povo se apropriasse da teoria, mas que esse diálogo lhe permitisse ir verificando suas hipóteses de pesquisa e produzindo novas sínteses como conhecimento real, exatamente pela sua convicção de que a prática é o critério último do conhecimento…

  • Sua concepção materialista-dialética da história revolucionou o modo de ver o mundo das gerações que lhe seguiram. Revolucionou também o modo de pensar a educação, tradicionalmente vinculada às concepções idealistas e metafísicas de história e de sociedade. Pensar e fazer uma educação baseada na concepção materialista e dialética da história tem sido um grande desafio de educadoras e educadores comprometidos com mudanças.

  • A clareza que tinha, como pensador de processos históricos, da importância da escolarização dos trabalhadores. E não qualquer escolarização. Nos vários documentos e intervenções públicas que fez, Marx defendeu mudanças profundas no tipo de escola que predominava em seu tempo. Considerava que o futuro da classe trabalhadora e, portanto, da humanidade, depende da formação da jovem geração trabalhadora. Defendia a criação de escolas politécnicas que se preocupassem com a educação integral das crianças e jovens. Suas reflexões continuam atuais, e nos desafiam a assumir uma posição mais arrojada na luta por escolas públicas de qualidade para a classe trabalhadora em nosso país. E de lutar contra as políticas educacionais que estão rebaixando o patamar formativo de nossa juventude.

  • O princípio do vínculo da escola (das crianças e dos jovens) com o trabalho produtivo. Mesmo numa época de violenta exploração da mão-de-obra infantil, Marx conseguiu distinguir, e teve a coragem de defender, que a exploração sim tinha que ser suprimida, mas a participação das crianças no trabalho era outra coisa, e deveria continuar, potencializando-se a sua dimensão educativa insubstituível. Dizia ele que não se deve permitir em caso algum aos pais e aos patrões o emprego do trabalho das crianças e dos jovens, se esse emprego não se conjuga com a educação. Mas defendia que a combinação do trabalho produtivo remunerado, com a formação mental, os exercícios físicos e a educação politécnica, colocará a classe trabalhadora muito acima do nível da aristocracia e da burguesia.

Que este legado nos inspire e que possamos nos dizer continuadores de uma obra e de um projeto de humanidade tão grandiosos!

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