A GALIZA COMO TAREFA – pausas – Ernesto V. Souza

Félix Cuadrado Lomas - G (1)
‘Tierras y vinos rojos’ – Félix Cuadrado Lomas

Com os anos, e a contrário do que vejo arredor, vou deslizando-me numa dubitativa ingravidez. Diria que careço de trajetória, rumo e destino, de projetos e seguranças e que o meu pensamento vai escolhendo a dúvida como certidão.

Suponho que o conservadorismo no pessoal existe basicamente em função do sucesso social, que as mais das vezes é fruto de uma sucessão de casualidades assumidas como trunfos particulares e outra da capacidade para pisar as cabeças doutros. De qualquer jeito e sempre dentro de um esquema no que se aceptou a concorrência num modelo que premia o individualismo por cima do bem do coletivo.

Nunca fui competitivo. Não faz sentido ganhar sozinho quando perdem a meio e longo prazo tantos arredor. Afinal do percorrido não há mais com quem brincar. Sempre foi claro qual era o fim desse conto capitalista do “self-made-man” subindo no pódio central a qualquer prezo, do macho-alfa ou do indivíduo superior elevado pelo seu esforço dentro dos códigos e caminhos nem traçados e o resto que vos parta um raio: a crise.

Como galego, não é surpreendente que a dúvida, a decepção, a suspicácia e a crítica às categorias vaiam conformando o meu pensamento. A curiosidade pelos caminhos novos e as soluções alternativas, suponho que é marca da casa. Como emigrante, deslocado e out of place, num espaço não hostil, mas culturalmente contrário e refratário enormemente ao aprendido por via social e familiar, ao humor e ao pensamento que tenho e vou desenhando, aprendi a valorizar a calma, a frialdade e o tempo na resposta. A concluir afinal que a dissimulazione onesta e a arte de prudencia, são como os mais dos livros das épocas perigosas, grandes aliados e melhores conselheiros.

Não sei em que poderia militar ou participar atualmente, fisicamente fora da Galiza, mimetizado, desanimado e desmotivado mas com essa consciência tranquila de quem apostando errou todo o discurso dos seus anos. Não tenho nada claro onde militar, e de feito declino cada vez mais participar,  colaborar, escrever – não tenho nada novo a dizer e não compreendo que seja agora interessante repetir o que há anos me apaixonava mas não interessou. O que tenho claro apenas é que procuro não militar/participar à contra de nada.

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