EDITORIAL – Pesadelo de uma noite de Verão

logo editorialL’Espoir não será, do ponto de vista da qualidade literária, o melhor romance de André Malraux. Mas é, talvez o seu livro mais interessante. Aquele por cujas páginas perpassa um sopro de esperança no futuro. É uma esperança que não se apoia apenas na ilusão lírica de que a a liberdade há-de vencer. Tendo como pano de fundo a Guerra Civil de Espanha, que como sabemos decorreu entre 1936 e 1939, teve a primeira edição em 1937, estava o conflito em curso e o desfecho era imprevisível. É um romance com o seu quê de reportagem.

Na primeira parte, L’illusion lyrique, retrata-se com vigor a convicção de que a razão não pode ser vencida. É uma noite de Verão, em Madrid e em Barcelona, o povo está na rua, por esplanadas ou escutando comícios improvisados contra o fascismo. Muitos pensam que Franco e os outros generais traidores serão facilmente esmagados. Manuel, do Sindicato dos Ferroviários, contacta as estações. Em algumas delas luta-se pela República. Num número crescente, respondem-lhe com insultos e com o grito de Arriba España!

Quem tenha aqui vivido naquele 25 de Novembro de 1975 em que Abril morreu, embora numa escala de violência diferente, decerto compreenderá a angústia de quem vê as (líricas?) ilusões assassinadas. Não estamos a comparar o drama da Guerra Civil com um episódio com o objectivo de que aqui as coisas se passassem como na transição de Adolfo Suárez – mantendo o essencial e deixando aos cidadãos  a ilusão de uma liberdade de expressão que «em nada lesa os interesses de quem verdadeiramente decide» – uma oligarquia endogâmica em que os donos do país são as mesmas famílias que apoiavam o regime que o MFA depõs.

Em Espanha, quase quatro décadas antes, os ricos acreditavam ainda que a autoridade tinha de ser imposta por via militar, implantando o terror e destruindo o lirismo das ilusões num mundo fraterno, Apesar de tudo, apesar do apoio dado por nazis e fascistas, da recusa de Estaline em se envolver demasiado, apesar das rivalidades ideológicas que minavam a República por dentro, entre comunistas e anarquistas, principalmente, apesar de não lutar com meios  iguais, houve momentos de grande heroicidade (a defesa de Madrid por exemplo).

Malraux visitou Espanha dois meses antes de a guerra civil se desencadear. Em Agosto de 1936, integroua a esquadrilha aérea España. Eram cerca de 20 aviões pilotados por voluntários estrangeiros. participando nas frentes de Aragão, Toledo, Málaga e na batalha de Teruel, onde  a esquadrilha enfrentou os aviões da Legião Condor alemã e impediu que a cidade fosse tomada pelas forças nacionalistas. Quando a esquadrilha, em Fevereiro de 1937, foi dissolvida, Malraux continuou a apoiar a causa republicana, participando na recolha de fundos em França e nos Estados Unidos.

 

 

 

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