SINAIS DE FOGO – VEIGA LUÍS, por Soares Novais

sinais de fogo

 

Veiga Luís - 1980.
Veiga Luís – 1980.

Veiga Luís apresentou-se ao mundo como Luís Veiga Leitão – nome literário de seu pai, o poeta Luís Maria Leitão. E com ele, que foi companheiro de estrada de António Rebordão Navarro, Daniel Filipe, Egito Gonçalves, Ernâni Melo Viana e Papiniano Carlos, cedo ficou a saber que urgia dar “Notícias do Bloqueio” que censurava, exilava, perseguia e encarcerava os melhores de nós.

Do pai, Veiga Luís herdou, também, a forma de olhar o mundo, a agitação permanente, o gesto largo, o abraço forte com que sempre brindava os seus amigos; a gargalhada franca com que sublinhava uma frase dita em amena e longa cavaqueira. E herdou, também, o gosto pela arte, pois o poeta também expressava o seu talento através do desenho.

Veiga Luís, que como pessoa era saudavelmente anárquico, avesso a compadrios e salamaleques circunstanciais, foi sempre um artista disciplinado. Um incansável trabalhador de ateliê.

Sobre a sua obra, diz-nos o escritor César Príncipe no texto que escreveu para o catálogo da sua última exposição individual, realizada na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Gaia:

“…Geometria. Pintura. Medalhística. Fotografia. Cerâmica. Acrílico, alumínio, bronze, cobre, latão, laser, barro vitrificado, madeira. Elementos que requerem argumentos culturais e dispositivos oficinais. Manipuladores do quadrado, do triângulo, do círculo. Integradores da óptica tridimensional, da legendagem literária. Nos exemplares mais abstractos. Nas aproximações sociais. Assim é. Seja qual for o corpo em que se transporte. Pictográfico. Escultórico. Rectilíneo. Curvilíneo. Cromático. Monocromático. Veiga Luís pronuncia-se de cinco modos em oito módulos. A multiplicidade tem a geometria em comum. A massa participa do contorno. O objectivo alcança-se na objectivação. O tema compromete-se com o estilo. A ênfase metafísica submete-se às leis da física. A arte reorganiza o evidente. Pela segurança técnica, a exploração plástica, a personalização modelar. Introduz o inédito e o simbólico.”

O artista voou, agora, para junto de seu pai e de sua mãe – Maria Sofia, que faleceu poucos dias antes. Partiu em silêncio e depois de um largo período de sofrimento. Fica a sua obra como testemunho de que viveu para a arte e sem se preocupar com o êxito.

Entenda-se: com o êxito convenientemente propagandeado em jornais e redes sociais…

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