COVA DA MOURA E QUESTÕES SOCIAIS por Luísa Lobão Moniz

Cova da Moura, bairro inicialmente construído por migrantes rurais. Nos anos 70 começou a ser ocupado por caboverdeanos e por outros grupos oriundos de África.

Vindos de longe, onde todos tinham a mesma cor de pele, os mesmos problemas sociais – habitação, saúde, escola, alimentação… – Aqui chegados não foi com facilidade que encontraram melhores condições de vida.

Eles e elas saíam do bairro muito cedo, pela manhã, e chegavam já de noite. E as crianças? Essas passavam o dia na rua. Grande parte dos adultos iam conseguindo arranjar trabalho.

Mas não há coisas más sem coisas boas, os seus habitantes conseguiram organizar-se e formar uma comissão de moradores que tem zelado, com esperança no futuro, pela inclusão de todos.

Associações de acompanhamento apareceram como o Moinho da Juventude. Muitas crianças e jovens foram orientados por esta associação.

A fama da sua má relação com a Polícia, e vice-versa, já vem de longe. Para a Polícia o bairro é campo de batalha, para os moradores a Polícia é racista, bate a valer e efectua várias detenções.

 Nunca as explicações de uns e de outros coincidem, mas a Polícia acaba sempre por ter razão, mesmo sem a ter.

Ao ser criada a Polícia de proximidade a confiança e o conhecimento do outro foram crescendo, mas durante o governo anterior essa polícia desapareceu.

Por vezes entram em rixas entre grupos do bairro, quando chega a Polícia as viaturas são apedrejadas e os polícias são insultados.

Mas não se pense que isto acontecia por alguma reacção alérgica, a verdade é que as representações que ambos os grupos têm do outro é de violência.

Muitas têm sido as queixas feitas nas esquadras sobre os comportamentos racistas dos polícias, muitas têm sido as queixas da violência dos jovens.

Chegou o dia em que o MP considerou que na esquadra de Alfragide, todos os seus elementos, tinham tido comportamentos racistas com um grupo de jovens na Cova da Moura.

Muita gente tem perguntado se Portugal é um país racista. Portugal é um país que tem episódios de racismo. Esta esquadra não representa todas as esquadras nem todos os polícias. Neste país homens brancos levantam-se no autocarro para dar o seu lugar a uma mulher preta, neste país vivem pessoas de todas as origens culturais, nos mesmos prédios sem que haja o menor incidente. Este país tem um primeiro Ministro de origem indiana, mas… faltam deputados, professores, autarcas, locutores de televisão que não sejam brancos.

A cor da pele pode despertar um racismo por replicação de outros comportamentos violentos, o racismo nasce quando o português nascido em Portugal se sente ameaçado pelos que vêm de fora e lhes podem tirar o emprego. O português ou qualquer outro povo, rejeita quem chega, veja-se o que acontece em Luxemburgo, no Reino Unido com os portugueses que para lá vão.

O que aconteceu com os polícias da esquadra de Alfragide têm que ser investigados e castigados. O racismo não é tolerado pela Constituição e, mais do que isso, não faz parte da maioria dos portugueses. É preciso estar atento e não desvalorizar este acontecimento,pois todos temos a obrigação social de não o permitir.

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