A GALIZA COMO TAREFA – 10 anos da AGLP – Ernesto V. Souza

Dedicado ao pessoal que fez (e faz) possível a Pró-AGLP (e com ela a AGLP), parte viva da sociedade civil galega.

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Cumpre lembrar, que chega o dia, como momento que foi e efeméride que marca, que em 1 de Dezembro de 2007, em Santiago de Compostela, algumas pessoas – entre elas este que escreve que fora arrastado aí por gentes melhores – fundamos a Associação Cultural Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa (Pró-AGLP).

Pequeno passo auroral, de um longo processo reconstituinte, não isento de obstáculos e críticas, com que se conformava a base legal e humana para por em andamento o projeto Academia Galega da Língua Portuguesa.

A proto-história da AGLP pode-se rastejar em afirmações dos anos 70-80, nessa sequência a AGLP apresenta-se como uma continuação histórica da ideia de unidade do galego-português que representaram vultos como Guerra da Cal, Carvalho Calero, Rodrigues Lapa ou Lindley Cintra, que em 1984 incluíra os dialetos da língua galega como parte dos do português europeu na Gramática que editou junto de Celso Cunha.

A “ideia”, dalgum jeito ou doutro, conservou-se nas mentes dos membros da Associação de Amizade Galiza-Portugal (AAG-P), da Associaçom Galega da Língua (AGAL), e das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal (IFG-P) nos anos 80 e 90 do século passado; depois manifestaram-se a favor dessa ideia outros vultos, como Evanildo Bechara (da ABL), e Malaca Casteleiro (da ACL).

Em 2005, na ocasião do III Seminário de Políticas Linguísticas da Associação de Amizade Galiza-Portugal, o professor António Gil Hernández analisa a situação sociolinguística galega e declara ao PGL: «Considero necessário constituir uma Academia Galega da Língua Portuguesa».

Em Outubro 2006, no V Colóquio Anual da Lusofonia, Bragança; sob o título «Do Reino da Galiza até aos nossos dias: a língua portuguesa na Galiza», J.M. Montero Santalha lança publicamente a ideia da constituição de uma academia galega da língua portuguesa (4 outubro).

A marca “Academia Galega da Língua Portuguesa – AGLP” já ficara registrada para o Reino da Espanha em 30 de Agosto, com a assinatura de J.M. Montero Santalha, A. Gil Hernández e Â. Cristóvão, que durante esse ano mantiveram várias reuniões preparatórias informais centradas na ideia da criação da Academia. Em Outubro ficou registrada também na República de Portugal.

A revista Novas da Galiza (no 48, Novembro-Dezembro 2006) realiza entrevista a J.M. Montero Santalha na que explica os motivos por que deve criar-se a AGLP (“o primeiro passo burocrático é o de reservar o nome escolhido, […], que já está concedido”).

Em 2007, em Fevereiro tem lugar a primeira reunião da Comissão Promotora da Academia (a segunda em 30 Junho); em 8 Outubro, na Faculdade de Filologia de Santiago de Compostela, tem lugar (com o apoio da Associação de Amizade Galiza-Portugal) o primeiro ato público da Comissão Promotora da Academia Galega da Língua Portuguesa, em que intervêm os professores Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, e Malaca Casteleiro, da Academia das Ciências de Lisboa, e os catedráticos galegos J.M. Montero Santalha, J.L. Rodrigues e Ma. do Carmo Henriques.

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A Associação Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa (Pró-AGLP), foi constituída nesse 1 de Dezembro, “dia da Restauração da Independência e aniversário do primeiro ato público de Nunca Mais“.

Cerca de 20 pessoas de diferentes âmbitos da defesa da língua reuniram-se na cidade de Compostela com um objetivo comum: apoiar a criação duma Academia Galega da Língua Portuguesa.  Após um intenso e frutífero debate o grupo decidiu constituir imediatamente a Associação Cultural Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa para o qual se aprovaram uns estatutos e  escolheu Junta Diretiva:

  • Presidência: Ângelo Cristóvão

  • Vice-presidência: Concha Rousia

  • Tesouraria: Isabel Rei

  • Secretaria: António Gil (substituído mais tarde por José Tubio Rodríguez)

  • Vogais: José-Martinho Montero Santalha, Luís Gonçales Blasco (Foz), Ernesto Vázquez Souza, Francisco Paradelo, Rudesindo Soutelo, Luís F. Figueiroa

O objetivo inicial desta associação era promover a criação da Academia Galega da Língua Portuguesa. Constituída esta, a associação continuou fornecendo apoio logístico à Academia, acrescentando como novo objetivo o de promover a cultura da Galiza e do resto da Lusofonia na Galiza.

A Constituição da Pro-AGLP, que lembramos hoje, foi o fulminante que iniciou o processo definitivo. Já a seguir diversas atuações, eventos e momentos iriam conformando o contexto e o discurso.

Em 7 de Abril 2008, representantes da AGAL, da Pró-AGLP, da AAG-P e do MDL (Movimento de Defesa da Língua) participam na Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, na Assembleia da República de Portugal, organizada pela Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República, que contou com representantes de diversas instituições, entre as quais uma delegação galega.

Intervieram o presidente da AGAL, Alexandre Banhos (que apresentou uma posição conjunta das Entidades Lusófonas Galegas assinada pela AGAL, a AAG-P, a Pró-AGLP, a ASPG-P [Associação Sócio-Pedagógica Galaico-Portuguesa] e o MDL), e o presidente da Pró-AGLP, Ângelo Cristóvão (com um comunicado a respeito da posição galega e o papel da futura Academia Galega da Língua Portuguesa.

Em 24 de maio é criada, no seio da Pró-AGLP, a Comissão de Lexicografia da AGLP, posteriormente integrada na Academia com o nome de Comissão de Lexicologia e Lexicografia. É a primeira atividade propriamente institucional da Academia, mesmo anterior à sua constituição definitiva.

Finalmente, em solene Sessão Constituinte, no Centro Galego de Arte Contemporânea de Santiago de Compostela, é constituída definitivamente a Academia Galega da Língua Portuguesa, em 20 de setembro; foi eleito presidente o professor Dr. José-Martinho Montero Santalha, com uma Comissão Executiva.

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Primeira Comissão Executiva da Academia Galega da Língua Portuguesa: Joam Trilho, Isabel Rei, Concha Rousia, Martinho Montero Santalha, Isaac A. estraviz, Ângelo Cristovão.

Oficializou-se em Sessão Inaugural no mesmo Centro, no dia 6 de outubro, com o apoio do Governo Autónomo da Galiza, colaboração da Universidade de Santiago, participação institucional da Academia das Ciências de Lisboa (Profs. Doutores Artur Anselmo e Malaca Casteleiro), a Academia Brasileira de Letras (Prof. Doutor Evanildo Bechara), o Exmo. Sr. Reitor da Universidade Aberta (Prof. Doutor Carlos Reis), e o escritor moçambicano, Dr. João Craveirinha. Em honra da AGLP, estreia-se uma suite para guitarra, “Deu-la-Deu”, composta pelo académico Rudesindo Soutelo e interpretada pela académica Isabel Rei.

 

 

Nestes 10 últimos anos o percurso e trabalhos da AGLP foram, dentro do limitado dos seus recursos particulares, bastante amplos, tratando de cumprir com os seus objetivos de promover o estudo da Língua da Galiza para que o processo da sua normalização e naturalização seja congruente com os usos que vigoram no conjunto da Lusofonia, e para integrar o pensamento e a cultura, a vida da gente da Galiza no âmbito da Lusofonia através do relacionamento com outras instituições semelhantes, galegas e lusófonas.

Criada seguindo a tradição das Academias, mas como uma iniciativa da sociedade civil, independente dos organismos políticos galegos, a Academia Galega da Língua Portuguesa define-se como uma «instituição científica e cultural ao serviço do povo galego» que pretende «promover o estudo da Língua da Galiza para que o processo da sua normalização e naturalização seja congruente com os usos que vigoram no conjunto da Lusofonia».

20111213_madialeva_evento_cartazConstituída em Fundação, Organizada em Comissões, publica atualmente um Boletim anual, com Anexos, DVDs, uma coleção de Clássicos Galegos, um Léxico da Galiza (incluído no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora); assinou protocolos (p.ex. para a inclusão da variedade galega no FLiP8/9 da Priberam), tem organizado e colaborado em diversos Congressos, Seminários e Ponências internacionais.

A Academia Galega colabora ativamente com o resto de academias de língua portuguesa, especialmente através da sua Comissão de Lexicografia que elaborou um vocabulário de léxico galego para ser incorporado no próximo Vocabulário Ortográfico Comum que irão editar as academias Brasileira e Portuguesa com motivo da implementação do Acordo Ortográfico.

Instituição muito ativa internacionalmente, destacou nestes anos como agente fundamental para a ativação dos relacionamentos culturais entre Galiza e a Lusofonia, colaborando, ativando e assessorando diversas iniciativas, tendo sido reconhecida com o estatuto de Observador Consultivo pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Na atualidade é presidida pelo Professor Rudesindo Soutelo.

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Dez anos depois, apagaram-se já a maior parte das críticas: a respeito da oportunidade da iniciativa, do “elitismo” do modelo académico, do aspeto propagandista, fanático e alucinado; do curriculum e escolha dos membros; do status, da representatividade, trabalhos e labor da dita Academia. Até a polémica sobre a idoneidade do nome e da ideia da língua (a tanto chega o costume e a tanto acostuma o uso) poderíamos dizer que deixou de escandalizar ou até que se naturalizou como uma parte do discurso. E assim, a própria Academia e as ideias que defende e manifesta, passou a ser reconhecida, dentro e fora do reintegracionismo, como um elemento mais, ativa no complexo tecido associativo, social e cultural da Galiza.

A Associação Cultural Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa (Pró-AGLP), continua ativa e autónoma, como suporte económico da Academia e como plataforma associativa que promove, publicita e divulga as atividades e ideários da AGLP, sendo uma presença fundamental na rede, na organização de eventos e na realização de atividades de promoção e divulgação cultural.

  • Obrigado ao incansável Carlos Durão, Académico e colaborador deste Blogue, pelos dados fornecidos e pela sua memória e capacidade de síntese.

 

 

 

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