Esta Carta deveria ter saído ontem, mas decidi não violentar os imponderáveis sustentáculos do passar dos dias.
Também tinha pensado numas palavras acerca das clementinas declarações sobre recasamentos, mas atendendo à época e para que não houvesse confusões, resolvi bater a bola mais baixinho e escrever sobre uma outra solenidade, por se ter celebrado há pouco o Dia Internacional do Croissant!
Mas já nem me lembro em que dia calhou!
Talvez por ser só mais um a juntar a tantos outros que abundam pelo calendário, uns evocados e outros nem tanto, mas memoro este porque, num daqueles órgãos de comunicação por onde vou ganhando algum tempo cada dia, a notícia estava acompanhada de uma pergunta que, na minha modesta opinião poderia justificar a intervenção de um purpurado, ou dar origem a uma tese de doutoramento bem documentada, a contar com orientador e pesquisas cuidadas, para ter a merecida resposta.
A pergunta, dispenso-me do resto das interrogações, das justificações e das opiniões ali apostas, porque a tese não é minha, era apenas “O croissant deve ser direito ou ter cornos?”
Havia ainda algumas fotografias com um simpático rapaz a fingir que comia um croissant dos direitos e com a fotografia de um com cornos, agarrada na mão direita.
Tenho o dia estragado! pensei eu, espantado com a complexidade da questão!
Um problema mais a juntar ao dos dois minutos que ainda temos para o Apocalipse, de acordo com o Relógio do Juízo Final, actualizado também há uns poucos de dias, se calhar no mesmo do croissant!
Aqui não havia perguntas, a notícia (no jornal onde a li) era taxativa ao atribuir o ónus ao grosseiro americano da presidência e outros lideres mundiais, se calhar também grosseiros, por não conseguirem travar as ameaças climáticas e as nucleares.
A ver por estes dois exemplos de complexas notícias, sem querer olhar para as manhosas ligadas a futebóis e isenções fiscais, começo a pensar que o melhor talvez seja passar a buscar a informação nas redes sociais, seguindo o exemplo de mais de metade da cidadania mundial.
Quem o afirma é um estudo do Reuters Institute para a Universidade de Oxford, sobre os fluxos de informação em 2017.
O estudo salienta que, para a opinião pública, tem tanta legitimidade uma noticia pescada na hora numa rede social, como uma outra decorrente de um trabalho sério e rigoroso de investigação jornalística.
Em jogo está aquilo que muitos chamam a economia da atenção, sustentada pelo uso massivo e maciço do ecrã, de onde vem a questão da distinção entre atenção e ignorância, por ali se concretizar a mudança da esfera pública, feita pela privatização e comercialização das fontes de conversação.
Não podemos esquecer que nascemos numa comunidade organizada em volta de processos de significação próprios, os criadores da linguagem que permite a interpretação distinta e única do mundo, tudo ligado a vivências e experiências singulares, reflectindo a genética, mas também a geografia e a topologia, afinal a formação do conjunto de formas simbólicas que sedimentam tanto a memória individual como a colectiva.
Mas lá, nos ecrãs, numa linguagem tão desprendida como impositiva, está a chave do alinhamento dessas visões do mundo, por me meterem em casa em permanência, dizia Derrida, a aceleração do processo tecnológico, em detrimento do desejo do idioma e da singularidade nacional!
Mas, depois desta minha lengalenga toda por este imbróglio com padarias e ecrãs e porque o problema do croissant também já deve ser nosso, mesmo sem a imposição das tais notícias manhosas, tenho também de fazer a pergunta – o croissant deve ser direito ou ter cornos?
Esqueci-me das clementinas!
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor
Meu querido Amigo, depois de ler e reler atentamente a sua Carta, acho que devo deixar em paz as clementinas e mandar “bugiar” os cornos do croissant!
Razão tinha a Avó Micas…”ninguém é probe se não do juízo!”
Abraços.
Maria Mamede
Meu querido Amigo, depois de ler e reler atentamente a sua Carta, acho que devo deixar em paz as clementinas e mandar “bugiar” os cornos do croissant!
Razão tinha a Avó Micas…”ninguém é probe se não do juízo!”
Abraços.
Maria Mamede