A primeira surpresa que qualquer leitora-leitor deste meu novo Livro tem, é descobrir, logo no primeiro capítulo, que o seu título principal – EVANGELHO NO PRETÓRIO – não é meu. É do bispo D. António Ferreira Gomes. Sugerido por ele, não a mim, mas ao meu Advogado, Dr. José da Silva, precisamente no final do dia em que pela primeira vez saio absolvido do Tribunal Plenário do Porto. Tão pouco, é sugerido para um Livro meu, muito menos este, na altura, nem sequer sonhado por mim. É para um Livro que, no entender do Bispo, o Dr. José da Silva deveria escrever-publicar com as principais peças do Processo que a Pide/DGS organiza contra mim, a acusar-me de subversão política, no exercício das minhas actividades pastorais enquanto pároco de Macieira da Lixa. Uma acusação feita em termos tais, que nem sequer admite caução. E que o Colectivo de Juízes do Tribunal Plenário do Porto, por maioria de dois terços, não só não dá como provada, no decurso das sessões, como vai ao ponto de escrever na sentença que o que ficou provado é que a minha actividade pastoral naquela paróquia é manifestamente exemplar.
O título sugerido pelo Bispo não foi totalmente aceite pelo Advogado. Haveria Livro, sim, mas com um título interrogativo, SUBVERSÃO OU EVANGELHO? Contudo, o título sugerido pelo Bispo fica gravado a fogo na minha mente-consciência de presbítero-menino, então com 33 anos de idade e 8 de presbítero praticante. A paróquia de Macieira da Lixa é a minha segunda e última paróquia. E a nomeação é do próprio D. António, pouco tempo depois do seu regresso do “exílio” dourado de 10 anos – uma eternidade! – que não o chega bem a ser, senão no dizer das organizações políticas clandestinas e dos jornais opositores ao regime de Salazar-Marcelo Caetano. Nem ele nem eu sonhamos então que algum dia haveria eu de sentir o imperativo ético de escrever esta espécie de Autobiografia com Humor e Amor, cujo título principal só pode ser exactamente aquele que D. António Ferreira Gomes, em Fevereiro de 1971, sugere ao meu Advogado.
Sem o risco de errar, posso afirmar que quase ninguém verdadeiramente me conhece. As pessoas pensam que sabem tudo a meu respeito. Ignoram quase tudo. Incluídas as pessoas amigas e mais próximas, entre as quais incluo os condiscípulos que durante 12 anos lectivos, de outubro de 1950 até 5 de agosto 1962, frequentamos o seminário tridentino do Porto e fomos ordenados presbíteros pelo Administrador Apostólico com todos os poderes de bispo titular, D. Florentino de Andrade e Silva. Também por isso tive de conceber este Livro e dá-lo agora à luz nestes dias ditos de páscoa judeo-cristã. Malhas que a igreja cristã católica romana e imperial e suas muitas siamesas protestantes tecem. Sem que as populações, vítimas delas, se apercebam de nada, tão peritas elas são em encenações litúrgicas, sempre as mesmas. Cujas chegam a causar náuseas. Sem que as próprias igrejas se apercebam, de tão cegas e autistas.
O Livro (188 pgs) aqui está. Não é fácil encontrá-lo nos escaparates das grandes multinacionais livreiras. Nem ele com tudo de clandestino e de intimidade se sentiria bem nesses espaços, todos tão cristãos, tão poderosos, tão financeiros, tão do único deus que hoje se conhece e cultua, o Dinheiro. Se dúvidas houvesse, aí prosseguem, lúcidas e actuais, as palavras de Jesus Nazaré, não do mítico Cristo ou Jesuscristo, “Não podeis servir a Deus [ = aos seres humanos e povos] e ao Dinheiro”. Têm de o adquirir e ler, para saberem do que é capaz de fazer o Poder eclesiástico para aniquilar e fazer desaparecer os presbíteros ordenados por ela e que depois lhe resistem a ser convertidos em sacerdotes. São pormenores que nunca antes dei a conhecer. Mas é chegada a hora – e é já – de o fazer. Corram, pois, por ele. Ou enviem-me por email (padremario@sapo.pt) ou sms (96 80 78 122) o vosso endereço postal.
P.S.
Desta vez, o Livro apresenta-se com uma Introdução da responsabilidade do Editor, Jorge Castelo Branco. Termina assim: “Proporciono agora aos teus leitores e ao público em geral a oportunidade para te dares a conhecer, a vida de um homem tão injustamente acusado, maldosamente ostracizado ou desgraçadamente incompreendido. (…) Justo agradecer-te o facto de me teres aproximado mais de Jesus do que muitos antes tentaram. Creio agora que o segredo foi por pouco tentares e tanto me mostrares, e isso devo-te em eterna gratidão, mais humano, mais liberto.”