BANCOS E CADEIRAS
Por João Marques
Obrigado a João Marques, Diário de Coimbra e Júlio Marques Mota
Publicado por Diário de Coimbra em 9 de agosto de 2018
Da minha leitura semanal dos principais jornais europeus e das publicações de centros de investigação nas mais variadas áreas das ciências sociais, decidi-me, hoje, pelo que poderia proporcionar uma imersão na nossa realidade quotidiana e para a qual não podemos fingir ignorar.
Assim, passo por dois jornais do último fim-de-semana, o primeiro dos quais, o financeiro “La Tribune”, que abre com a condenação do terceiro maior banco americano, Wells Fargo, a $2,09 mil milhões por ter comunicado informações falsas sobre a qualidade dos empréstimos imobiliários de risco, nos anos anteriores à crise de 2007/8 (subprimes). Milhões de americanos ficaram e ainda estão arruinados – sublinhou o Procurador Federal da Califórnia Alex Tse – responsabilizando a instituição “pela montagem e venda de dezenas de milhões de produtos financeiros compostos, acabando todos na falência”.
Já em abril, a Wells Fargo teve de pagar ao fisco $mil milhões por práticas comerciais ilícitas e, um ano antes, mais $185 milhões por ter ficado demonstrado ter procedido à abertura de contas fictícias. Outros grandes – JP Morgan Chase, Citigroup, Morgan Stanley e Bank of America – foram obrigados a reembolsar às finanças cerca de $45 mil milhões para colmatar o seu comportamento na mesma crise.
Passando para a Europa, o britânico Barclays lá teve de satisfazer uma multa de dois mil milhões de libras, em março, enquanto o Deutsche Bank aceitou, agora, pagar € 7,2 mil milhões para evitar que o processo de investigação continuasse.
Chegados aonde queríamos, Portugal, eis-nos confrontados com um verdadeiro paraíso sobre terra quente, onde banqueiros e financeiros continuam a gozar de uma impunidade inqualificável, com os impostos dos portugueses a servirem para a sustentabilidade de um sistema viral. Da impossibilidade de saber o que se passa com o veículo público Parvaloren, expressamente criado pelo senhor ministro das finanças para gerir €três mil milhões de ativos tóxicos do ex-BPN, com os mesmos gestores a receberem salários superiores ao mais alto cargo politico, prémios de sonho, e sem quaisquer dados materiais sobre as operações que fazem ou fingem que fazem. O terramoto que a história nos deu a conhecer foi o de 1755, mas como designaremos o somatório de BANIF/BES, os restantes bancos intervencionados e as parcerias com privados (PPP’s), de tal ordem que somos o quinto país do mundo com uma dívida soberana mais elevada/PIB e, pela qual, pagamos €7,2 mil milhões/ano de juros (FMI)? Uma vergonha, mais uma, com um sistema penal, pelo menos aparentemente, em suspenso. Até quando?
Já o espanhol digital “Público” coloca como abertura a frase “Famosos, Ricos e Reformados em Portugal”, lembrando que, desde 2009, foram criadas vantagens fiscais aos denominados “residentes não habituais” (RNH), um dos regimes considerados mais benévolos para pessoas estrangeiras cumprindo um conjunto de formalidades, hoje mais de dez mil de 95 nacionalidades diferentes.
Acontece que um dos últimos RHN vem do nosso país vizinho e dá pelo nome de Carmen Martinez Bordiú, tão só a neta do ditador Francisco Franco e que, pelos vistos, pretende estar mais longe do debate que atravessa a sociedade espanhola sobre a exumação dos restos do “Caudillo no Valle dos Caídos”, que o governo socialista quer fazer.
Já no início da semana, foi a vez de consultar um banco para os grandes negócios (Natixis) e da sua companhia seguradora de créditos. Foi percetível, através da sua última conferência, em que participaram, como habitualmente, dos mais qualificados especialistas, uma enorme preocupação com os riscos geopolíticos – o número de conflitos duplicou, no último decénio, a dívida internacional atingiu os $230 biliões, as incógnitas no binómio digitalização/fiscalidade e a China com a nova Rota da Seda.
O autor é diplomado em Ciências da Comunicação (Universidade Bordeaux Montaigne).