Sobre Espanha – Há um ressurgir da ideologia franquista em Espanha? Por Pascale Davies e Marta Rodriguez Martinez

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Seleção e tradução de Francisco Tavares 

Obrigado a Pascale Davies e Marta Rodriguez Martinez e Euronews

Há um ressurgir da ideologia franquista em Espanha?

Por Pascale Davies e Marta Rodriguez Martinez

Publicado por  euronews em 18/07/2018

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© Copyright : REUTERS/Javier Barbancho

No meio da polémica pela iminente exumação de Francisco Franco, o auge do nacionalismo catalão deu lugar a um ressurgir em Espanha do nacionalismo da época do ditador, segundo os politólogos.

Enquanto que um milhar de pessoas se manifestaram no domingo a favor da retirada do túmulo de Franco do Vale dos Caídos, a afirmação “Viva Franco” invadiu as tendências da terça feira passada no Twitter quando se cumpria o 82º aniversario do golpe militar em Espanha.

Embora o nacionalismo sempre tenha estado presente em Espanha, definitivamente está em ascensão, segundo o professor emérito de estudos espanhóis contemporâneos da London School of Economics, Sebastian Balfour.

No passado mês de outubro, um mar de bandeiras de Espanha e da Catalunha estendeu-se por todo o país. As tensões entre os grupos nacionalistas catalães e o Estado espanhol intensificaram-se depois da Catalunha ter feito um referendo ilegal de independência.

Balfour disse a Euronews que o auge do nacionalismo catalão deu lugar a uma segunda vida do velho nacionalismo espanhol, “num sentido cheio de clichés sobre a natureza do carácter espanhol frente à natureza do carácter catalão”. “É como que quase uma forma de nacionalismo étnico”.

Atribui isso ao silêncio em torno da Guerra Civil e da ditadura. Embora nunca se tenha levado a cabo um censo das vítimas do franquismo, Espanha está coberta de fossas comuns da época franquista, muito poucas das quais foram tocadas, algumas inclusive encontram-se debaixo de parques de estacionamento.

Balfour diz que o silêncio e a falta de transparência “é um grande problema porque não permite reconhecer as tendências emergentes da extrema direita”.

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Um homem assiste a uma manifestação contra os planos de desalojar Franco do Vale dos Caídos em San Lorenzo de El Escorial.REUTERS/Javier Barbancho

 

A apologia do franquismo será ilegal

Um dos pontos mais significativos do programa do presidente Pedro Sánchez para governar Espanha até ao final da legislatura é o de impulsionar a reforma da lei da memória histórica que visa ilegalizar as fundações que façam apologia do franquismo e eliminar a simbologia que exalte a figura do ditador.

O primeiro passo, mudar o significado do Vale dos Caídos retirando o túmulo de Franco, encontrou a firme oposição da família. Os descendentes do ditador espanhol rejeitam a exumação e disseram que não acordarão com o governo tomar a seu cargo os restos.

O Executivo de Sánchez, que pretende que a mudança se produza como máximo no final do verão, diz contar já o “suporte jurídico”, segundo fontes consultadas por eldiario.es.

“Exumar Franco supõe uma desqualificação de uma época importante da história de Espanha e fere sem fundamento os sentimentos de milhões de espanhóis que lhe estão agradecidos”, disse à Euronews Juan Chicharro, presidente da Fundação Francisco Franco, uma das entidades que serão proibidas se seguir em frente a reforma.

“Quando se adotam políticas ditatoriais a primeira coisa que se faz é ilegalizar quem não pensa igual, logo são metidos na prisão”, acrescenta.

Ante o sentido de preservar o legado de Franco, Chicharro diz que isso tem que ser feito porque “é história vivida de Espanha” e porque Franco “encontrou uma Espanha miserável e analfabeta e quando morreu era a oitava potência industrial do mundo”.

 

Que significa o ultranacionalismo para a política espanhola

Apesar do recente aumento do sentimento nacionalista, diferentemente de grande parte da Europa, Espanha tem poucos partidos de extrema direita no Congresso.

Os partidos políticos depois da democracia procuraram deliberadamente evitar os contextos nacionalistas, diz Omar Encarnación, professor de estudos políticos no Bard College.

Em contrapartida, disse à Euronews, a intenção era sublinhar o carácter multinacional de Espanha, que se manifesta em frases como “as muitas Espanhas” ou “Espanha, uma nação de nações”.

Apesar disso, alguns partidos políticos estão a defender o patriotismo espanhol. O Partido Popular (PP) é um deles.

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REUTERS/Javier Barbancho

Sob pressão, depois de Mariano Rajoy ter perdido a moção de censura, o PP inclina-se ainda mais para a direita. Balfour disse que o partido “cobriu um amplo espectro de opiniões” e que é evidente que está influenciado pela concorrência com o novo partido de centro-direita Ciudadanos.

“Estão a surgir fissuras entre os [partidos políticos] e os conservadores mais moderados, e sem se entender o passado, sem se entender as raízes da extrema direita e os conservadores, seria difícil deter o surgimento deste novo neofascismo”, acrescentou.

Segundo Balfour, é “absolutamente crucial” que exista uma relação dialética entre o nacionalismo regional – como os movimentos de Catalunha e do País Basco – e o nacionalismo nacional. Acrescentou que o futuro da nação espanhola depende de uma resposta à pergunta basca e catalã, se é que existe resposta.

 

Texto original em http://es.euronews.com/2018/07/18/-hay-un-resurgir-de-la-ideologia-franquista-en-espana-

 

1 Comment

  1. Nacionalismo nacional em “Espanha” ? Só pela imposição política dos castelhanos, autores da conquista das numerosas Nacionalidade existentes no Território a que os romanos, no seu tempo, chamaram de Hispânia. “Espanha” é uma ficção colonialista filha do expansionismo castelhano. Se Portugal, e muito bem, não podia ter colónias que razão haverá para que o Reino de Castela, mais um entre outros exemplos, possa tê-las. CLV

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