A GALIZA COMO TAREFA – tempos modernos- Ernesto V. Souza

Não faço mais que sentir-lhe a gente o pouco tempo que tem, o nenhum tempo do que dispõem, o muito atarefado e estressado que está o pessoal. Sempre em ação, sempre correndo, ou guiando, sempre com datas limite marcadas a cor na agenda repleta.

Diria que o movimento, a ação, a interação, o imediato, a resposta rápida, a operação para já, configuram o esquema vital à maioria das pessoas. A vida moderna, em transito permanente, tudo sempre às carreiras, sem saber exatamente para que, nem qual fim exatamente guia tanto movimento, trabalho e atividades para os filhos. Melhor não perguntar.

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Charlie Chaplin in Modern Times (1936). © Roy Export Company Establishment; photograph, the Museum of Modern Art/Film Stills Archive, New York City

E até diria, a risco de ser assustador, que a cada dia mais entra em conflito este nervoso jeito de viver que se vai consolidando com as marcações tradicionais do tempo que ainda definem o funcionamento das sociedades.

A vida está regida por calendários e tempos que perderam sentido. Formulações fixadas de um tempo agrícola, escolar, profissional, mercantil e industrial que já não existe mais.

Períodos estabelecidos, pausas, ritmos, rotinas exigidas e limites obrigados outrora, temporadas, estações, orçamentos, horários e funcionamentos locais que já não se adaptam à lógica global estabelecida e ao imediato em disponibilidade de 24 horas imposto pelo Google, as Wikis, Facebook, Amazon, e as cento e uma apps que se vão infiltrando nas vidas pelos telefones.

Na realidade, a cada dia que passa, mais dispomos de tempo. Tempo que delegamos, tempo que nos organizam, e tempo que vai passando em fazer nada, mergulhados num mundo de computadores, trabalho absurdo e inexistência social, do que de quando em quando saímos, para fazer qualquer cousa necessária às operações do dia a dia.

Diria que a sociedade na que nos tocou viver vai-nos induzindo cara um modelo de inatividade controlada, enquanto andamos correndo numa atividade virtual, guiados à meta e sucesso de um individualismo consumista obrigado de obsolescências programadas. Um confiado aposentamento precoce, submerso no ópio da rede de egos. Isso sim, tranquilo e feliz e sempre que tenhamos herdado, ou disposto desde a mais terna infância um fundo de previdência e uns quantos seguros de saúde, logicamente privados.

 

 

 

1 Comment

  1. Bem lindo e sábio Ernesto.

    Estamos nuns tempos únicos semelhantes aos da fim do império romano a que se soma a fim do capitalismo… Para entrarmos desseguida nos primórdios do neofeudal ismo.

    E acho que tu és o nosso novo Idácio
    Abanhos

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