A propósito do texto de Domenico Mario Nuti, “A Ascensão, Queda e Futuro do Socialismo”: Prevenindo a queda final da nossa República Democrática. Entrevista a Charles Hugh Smith (1/2).

20181212_MarioNuti

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Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

Prevenindo a queda final da nossa República Democrática (1/2)

Em luta contra a concentração obscena de riqueza e de poder

Entrevista de Chris Martenson a Charles Hugh Smith,

Publicado por Adam Taggart, Peak Prosperity, em 4 de Dezembro de 2018

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texto path finding

 

Há cada vez mais evidências de que a Era do Excecionalíssimo Americano está a chegar ao fim.

Demograficamente, nos EUA (assim como em muitas outras nações desenvolvidas), as perspetivas das gerações mais jovens são substancialmente menores do que as dos Baby Boomers. O mesmo é verdade também do ponto de vista socioeconómico; a diferença de riqueza entre o 1% e todos os outros continua a aumentar.

Qual tem sido a causa principal deste deslizamento para uma cada vez maior desigualdade? E pode-se fazer alguma coisa para revertê-la?

O analista económico e autor Charles Hugh Smith aborda estas questões centrais no seu novo livro Pathfinding Our Destiny: Preventing The Final Fall Of Our Democratic Republic. Charles Hug Smith conclui que estamos no fim de um processo multissecular de centralização que já não está a funcionar em benefício da sociedade:

Adam Taggart

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Temos um sistema político que está cada vez mais ligado ao dinheiro. Agora, as pessoas sempre têm dito, como há 100 anos atrás, “o dinheiro é o leite materno da política”. O dinheiro e o poder sempre se aglutinaram em torno do poder político. Mas nos últimos, digamos, 70 anos, após a Segunda Guerra Mundial, os governos centrais e os bancos centrais do mundo cresceram imensamente no seu poder centralizado.

E uma das teses que estou a propor no meu livro é que a própria centralização é agora o problema. Há 400 anos que nos dizem que essa tem sido a solução. Basta centralizar o poder e a riqueza no quadro de um controle cada vez mais rígido e apertado e, de alguma forma, isso resolverá todos e quaisquer problemas que tenhamos.

A intensa concentração de poder está-se a tornar claramente visível hoje em dia. Seis empresas dos media controlam a maior parte dos media nos EUA. Dantes, costumavam ser seis bancos, mas agora acho que são apenas três ou quatro, que controlam a maior parte do sistema financeiro. E vemos isso setor a setor. O Facebook domina os media sociais. O Google domina nos motores de busca e nos anúncios e assim por diante. E isso faz todo o sentido, é o sistema que temos agora.

Por outras palavras, isto é muito eficiente e muito rentável. Se o leitor pode estabelecer um cartel ou um monopólio ou um quase-monopólio, então pode pura e simplesmente aumentar os seus preços, as pessoas têm que os pagar e é lucrativo. Toda a gente ganha, certo? Os acionistas ganham. Os gestores ganham. O público? Bem… eh, esse não tem escolha.

A conclusão do meu livro e a um nível sistémico mais alto, é considerar como fundamental que as pessoas de hoje entendam que não vamos ser capazes de reformar o sistema atual tal como este está estruturado e que vamos ter que descentralizar radicalmente o poder, a riqueza e o capital. E vamos ter que abrir as portas, por assim dizer, a uma série de experiências para descobrir o que é que funciona melhor.

Acho que o melhor caminho é, na verdade, pedir às pessoas que desenvolvam esses valores. E acho que esses valores serão os que são adaptativos e flexíveis e que mais provavelmente levarão a que as pessoas tenham sucesso pessoal, sucesso comunitário, para as pessoas que mantêm esses valores e compreendem que esse é o futuro.

Charles Hugh Smith

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Entrevista a Charles Hugh Smith

Chris Martenson: Bem-vindos a este nosso sítio, Peak Prosperity. Eu, Chris Martenson, sou o vosso anfitrião. E estamos a 28 de Novembro de 2018. E hoje, estaremos a conversar com Charles Hughes Smith sobre o seu último livro. O seu título é Pathfinding our Destiny: Preventing the Final Fall of our Democratic Republic. Ei, na hora certa. Você sabe, a América oscila agora mesmo sobre um precipício. Certamente, se você vir o seu retorno no Facebook ou no Twitter, é como se esteja iminente o seu fim.

Mas esta situação vem de mais longe do que isso, certo? Sabemos que o nosso governo nos Estados Unidos está realmente cativo de interesses específicos e de muito dinheiro. A decisão de Citizens United contra a Comissão Eleitoral Federal tomada pelo tribunal do crédito hipotecário (subprime) dos Estados Unidos – sim, eu disse subprime, e queria dizê-lo assim mesmo- foi uma decisão verdadeiramente péssima, horrível, nada boa, ridiculamente comprada e paga por uma decisão que acelerou a queda dos processos democráticos e o controle dos cidadãos sobre os seus eleitos no governo. Mas será que foi mesmo assim? Eu sei que algumas pessoas dizem que esse foi o momento.

Aqui para discutir connosco a ideia, no entanto, de que o problema é mais profundo do que isso, de que não há uma única decisão ou correção ou ajustamento que vá realmente chegar às questões de uma forma que nos possa dar um futuro em que possamos acreditar. Temos aqui Charles Hug Smith. Charles é um autor e blogueiro muito prolífico. Ele dirige o site oftwominds.com. É igualmente um frequente colaborador e hóspede do Peak Prosperity. Ei, um grande homem também, e amigo pessoal. Charles, bem-vindo ao programa.

Charles Hugh Smith: Obrigado, Chris. E obrigado por ser capaz de discutir eses tópicos hoje, numa altura em que frequentemente estão já perdidos porque, é claro, toda a nossa cultura é uma cultura de curto prazo. O sistema político tem um ciclo cada dois anos. A economia tem basicamente os seus ciclos por trimestres. E então, falar sobre questões que levaram décadas a desenrolar-se, isto é, como o quê?

Chris Martenson: Eu sei. Então vamos tentar ser breves, de qualquer forma. Estou a brincar. [Risos] Então Pathfinding Our Destiny. Neste livro, faz a afirmação – afirma – vamos diretamente ao cerne da questão – de que a crise que a América enfrenta não é apenas uma crise política. Você diz que é uma crise estrutural. Desenvolva-nos o seu pensamento a partir daqui. O que é que quer dizer com isso?

Charles Hugh Smith: Eu acho que se nós – o ponto de partida para mim é que devemos olhar para sistemas muito complexos do mesmo modo como olhamos para os ecossistemas. Nós vemo-los como sistemas dinâmicos, e então estamos a querer ver como é que a evolução e a pressão adaptativa constroem e geram respostas dentro desses complexos sistemas interativos. E assim, acho que um ecossistema é realmente a melhor metáfora ou analogia que temos para a nossa economia, que tem dezenas de milhões, centenas de milhões de participantes e todos a fazerem várias pequenas coisas que criam inputs que depois têm outros efeitos e assim por diante.

Então, se olharmos para a nossa economia como um sistema, então há inputs e depois há processos, e depois há resultados, o output. E se olharmos apenas para esses sistemas nas suas grandes partes vemos que muitos dos nossos inputs são sociais, o que poderíamos chamar de construções sociais. Não estamos realmente a falar sobre leis físicas como a gravidade ou algo semelhante. Estamos a falar de uma construção social que diz que a única maneira de sobreviver e prosperar é o crescimento. E o que é o crescimento? Significa consumir mais recursos e mais bens e serviços. E sem crescimento morremos. Esse é o input básico, a construção social em que vivemos.

E dentro dessa construção há uma outra, sobre a qual já falámos muitas vezes, e esta é o caso de que quando não temos dinheiro suficiente e imediatamente disponível, em líquido, para fazer todas essas coisas maravilhosas, temos que pedir emprestado. E isso está perfeitamente bem porque estamos a contrair empréstimos para crescer mais, e vamos ser capazes de pagar toda a dívida que acumulámos em 400 anos porque estamos a crescer muito mais rápido do que a nossa dívida. E assim, esses são os dois tipos de construções sociais que temos.

E depois temos um sistema político que está a ficar cada vez mais, como diz, ligado ao dinheiro. Agora, as pessoas continuam sempre a dizer, como há 100 anos atrás, que o dinheiro é o leite materno da política. O dinheiro e o poder sempre se aglutinaram em torno do poder político. Mas nos últimos, digamos, 70 anos, após a Segunda Guerra Mundial, os governos centrais e os bancos centrais do mundo cresceram imensamente no seu poder centralizado.

E uma das teses que estou a propor no meu livro é que a própria centralização é agora o problema, e desde há 400 anos que nos dizem que isso tem sido a solução. Basta centralizar o poder e a riqueza num controlo cada vez mais rígido e apertado e, de alguma forma, isso resolverá todos e quaisquer problemas que tenhamos.

Chris Martenson: Então, essa ideia de que temos essas questões estruturais, e para quantas poderíamos realmente apontar? Vou dizer-lhe que penso que estruturalmente temos um sistema de votação falhado nos Estados Unidos. Poderia continuar. Obviamente, o sistema monetário é um sistema falhado por construção porque é projetado para ser exponencial. E poderíamos ter sistemas monetários diferentes, mas o que temos dizem-nos, tem de continuar a crescer, e temos que continuar a crescer em valores percentuais durante todo o tempo. E, obviamente, isso comporta um tipo de problema sistémico na sua raiz.

Então olhamos para isso, você mencionou os ecossistemas. E temos os efeitos de repercussão, positivos e negativos, coisas que mantêm os sistemas em equilíbrio. Demasiadas raposas, bem, elas comem todos os coelhos, depois as raposas passam fome e os coelhos voltam a existir. Então, temos os pequenos ciclos de efeitos de reação positivos e os ciclos de efeitos de reação negativos. No sistema político é suposto haver pesos e contrapesos que seriam o equivalente, nesta metáfora, a esses efeitos de repercussão negativos e positivos. Mas esses travões e contrapoderes, realmente, penso eu, estão totalmente desaparecidos em ação.

E eu mencionei a decisão do Supremo no processo United v. FEC, porque esse processo me agradou. Sabe porquê? Porque foram cinco votos contra quatro. Ah, uma decisão por tão pouca diferença. Cinco a quatro. Estes cinco votaram a favor, estes quatro contra. E depois, mais tarde, no processo Kelo v. New London, onde os direitos de propriedade foram retirados, foram cinco – quatro. Mas era um cinco diferente e um quatro diferente. É sempre como se, ah, estamos tão próximos.

Mas se você rastrear o que a Supremo Tribunal tem feito, eles têm lentamente removido esses mecanismos de pesos e contrapesos e têm feito tender a balança a favor do poder do governo. Mesmo se no caso de Kelo v. New London se trate apenas de um poder municipal. Eles são como, ah, eles têm direitos sobre a propriedade. Não está nada claro onde é que eles encontraram a base constitucional para um município local ter o poder de expropriar a nossa propriedade privada para uma melhor utilização como domínio público. Foi uma decisão apertada, difícil de tomar.

Então, ao olharmos através de tudo isto, posso argumentar porque é que temos um problema estrutural com o sistema monetário devido ao seu inerente defeito matemático existente na sua conceção. Mas o que acabei de referir relativamente ao Supremo Tribunal parece-me ser um processo diferente e um problema diferente. Como é que estes estão interligados, se é que estão interligados?

Charles Hugh Smith: Certo. Essa é uma grande questão, Chris. E a minha resposta básica é que estes problemas estão interligados através da dinâmica da centralização do poder, tal como está a solução para qualquer problema que exista. E assim, por outras palavras, na era da Grande Depressão, a solução Nacasiana [PH] estava bem, vamos eliminar todas as falhas dos mercados e centenas de bancos, muitos dos quais faliram, e vamos apenas centralizar todo esse poder bancário num pequeno grupo de bancos centrais com um punhado de pessoas que então definirão as políticas a serem utilizadas por centenas de milhões de cidadãos e por todas as instituições financeiras da economia.

E então era este tipo de ideia de que o comando/controlo era a solução, eu acho que é isso que está a alimentar esta narrativa cultural, é isso que está a alimentar a concentração política e financeira de poder e da riqueza. E assim, quando a nação está em guerra, bem, vamos simplesmente centralizar todo o poder no Presidente e nos seus principais assessores. E se há uma crise financeira, então vamos centralizar todo o poder para que possamos ter um punhado de pessoas a lidar com isso de forma decidida.

E assim, o que esses mecanismos fazem é destruir mercados que, em pequena escala, nos trazem benefícios, certo? Mercados abertos, mercados transparentes de compradores e vendedores, pelo menos em pequena escala, que funcionam. E então isso destrói o processo político de pesos e contrapesos, como você diz, porque – eu acho que houve um estudo que saiu há alguns anos atrás onde alguns sociólogos estudaram as decisões que o Congresso tinha tomado e concluíram que elas basicamente ignoraram o interesse geral do público em 99% dos casos.

E assim, quando você afirma que vivemos numa democracia e ainda que os órgãos dominantes de controle, o Congresso, a legislatura e os tribunais, todos eles que agora ignoram o bem público ou a opinião pública, então é realmente difícil afirmar que nós ainda vivemos numa democracia. E é por isso que eu falo na queda final. Nós já caímos, como você apontou, desde há muito tempo. Já não nos resta grande coisa da democracia.

Chris Martenson: Bem, está certo. Eu gosto de expressões, como estas. Então, quando falamos de democracia, do que é que estamos realmente a falar? Porque acho que as pessoas, na minha opinião, nos Estados Unidos, acreditam erradamente que vivem numa democracia. E acho que para um sistema de referência, de democracia por completo, cada voto conta. E não só conta porque o seu sistema de votação regista o nosso voto e porque se tem a capacidade de auditar esse sistema para verificar os resultados, quando não se tem confiança neles. E os votos também contam porque o eleitorado é informado e está na verdade a colocar um voto que realmente vale alguma coisa, em vez de um voto de robô ou de alguém que está mal informado ou não informado.

Então, nesse segundo ponto, eu posso olhar para as falhas estruturais tanto no sistema educacional quanto na conglomeração e estrutura dos media nos Estados Unidos e dizer que por aqui há também um eleitorado muito mal informado. Esta é a minha opinião. As pessoas podem discordar. Mas a referência para a democracia representativa ser completa, é que cada voto conta e que se tem um eleitorado informado. O que temos hoje, a meu ver, não é uma democracia, pelo menos pelo motivo que acabou de mencionar.

Mencionei a vanguarda da democracia, ou seja, como se desenrolam as votações. No fim de contas, gostar-se-ia que essas votações tivessem algum significado, no sentido de que a vontade do povo está nelas representada. E você acabou de mencionar uma estatística de que mais de 90 por cento de todas as decisões, leis e regulamentos que são aprovados pelo Congresso são contra a vontade do povo. Elas são-no para outros fins e para satisfazer interesses específicos. Sendo assim, será que se pode falar em democracia? Há alguma coisa aqui que se deva salvar?

Charles Hugh Smith: Sim. É uma pergunta muito boa, Chris. E até certo ponto há esse estranho fenómeno que se assemelha ao sistema financeiro onde a aparência é apresentada como sendo a realidade. Tal como nos é apresentado o crescimento do PIB, e isso é a aparência do crescimento em vez de se traduzir em prosperidade real difundida entre as massas, o que nós sabemos que não é assim. E da mesma forma, temos uma eleição, e assim se cria a aparência de democracia, o que não está realmente suportado pela realidade.

Há outro ponto que mencionei no livro sobre o qual gostaria que me dissesse a sua opinião sobre se o nosso sistema de governação, em termos gerais, é centrado na defesa dos interesses. Por outras palavras, é suposto que se forme algum grupo. Podem ser os cidadãos que estão fartos e não vão aguentar mais. Poderia ser uma empresa. Assim, um qualquer grupo se irá formar e defenderá alguma ação pela parte do governo. E assim surgem os conflitos de interesses, de interesses concorrentes, que supostamente se devem transformar num grande caldo de disputas que, de uma forma ou de outra, gera regulamentos e leis. E assim é suposto ser uma batalha de vários grupos de pressão.

Mas o que este sistema não consegue fazer é considerar o bem público. Por outras palavras, se há apenas um conjunto de grupos de interesses concorrentes, que é basicamente o que a democracia americana é, mesmo ao seu nível mais fundamental, bem, quem é que está a defender o bem comum? E, claro, constatamos que ninguém está a defender o bem comum. Assim, o bem comum fica completamente excluído. É como uma situação em que quem ganha uma causa se beneficia a si próprio e aos seus aliados? E assim se perde a noção do que é o bem comum, o bem público?

Chris Martenson: Vejamos um exemplo disso mesmo. Eu acho que não haverá melhor ilustração do que se acaba de dizer do que o sistema de saúde dos EUA, que é um amálgama de todos esses diferentes grupos de interesses concorrentes que, em teoria, é suposto trabalharem para um bem comum, uma vez que você soma tudo e tira a média. Então temos os nossos hospitais, temos os nossos administradores de planos de poupança, temos as companhias de seguros, médicos e advogados dos doentes E, de alguma forma, se levarmos tudo em conta e tirarmos a média devemos então acabar por ter algo que se aproxima do teorema do limite central do que as pessoas querem. E nós não temos nada disso, é claro. Com base num dólar ajustado, os Estados Unidos são de longe o pior país do mundo em termos de saúde, gastando mais e recebendo menos em termos de resultados.

Então, quando olho bem para este nosso sistema, na minha opinião, temos um exemplo perfeito do que está a falar. Quanto ao bem comum, diria que queremos ter um sistema que, em última análise, seja justo e equitativo e que as pessoas mereçam ter acesso a cuidados de saúde quando deles necessitam, cuidados de saúde de qualidade e tudo o mais. Mas nós não temos nada disso, pois não?

Charles Hugh Smith: Não, não temos. Você está absolutamente certo. Esse é um excelente exemplo. E antes mencionou os media. E, é claro, novamente, essa intensa concentração de poder nas mãos de um qualquer pequeno grupo também é aí bem visível. Seis empresas dos media controlam a maior parte dos media nos EUA. Costumavam ser seis bancos, mas agora acho que são três ou quatro, a controlarem a maior parte do sistema financeiro. E vemos que isso é assim, setor atrás de setor. O Facebook domina os media sociais. O Google domina nos motores de busca e nos anúncios e assim sucessivamente. E isso faz todo o sentido no sistema que temos agora.

Por outras palavras, bem, isso é realmente eficiente, e é muito lucrativo. Se o meu amigo pode estabelecer um cartel ou um monopólio ou um quase-monopólio, então pode simplesmente aumentar os seus preços, e as pessoas têm de pagar e isso é lucrativo. Toda a gente ganha, certo? Os acionistas ganham. Os gestores ganham. O público, bem, eh. Esse, não tem escolha.

E assim, penso que os cuidados de saúde é um exemplo perfeito, como acabou de dizer, porque todos esses chamados interesses concorrentes o que fazem, é basicamente tirar o dinheiro onde quer que ele exista. E prestar cuidados de saúde reais, bem, isso é secundário, na melhor das hipóteses.

Chris Martenson: Bem, isso diz-nos muito sobre a ideia do que significa não haver um bem comum fundado sobre coisas simples como o que é justo, o que é decente, o que é honroso, sobre o que é integro, o que é importante para as próximas gerações, coisas assim. Quando nos questionamos em torno deste tema, parece-me que o bem comum nos Estados Unidos é o dinheiro. E se você pode ganhar dinheiro com isso, é uma espécie de laissez-faire, de Oeste selvagem, se você pode ganhar dinheiro com isso, então tudo é permitido. Oh, você está a criar algo que mata insetos indiscriminadamente? Você está a ganhar dinheiro com isso? Então, vá em frente. Oh, você faz bombas de fragmentação mesmo que essas sejam proibidas em todos os lugares, mas pode vendê-las através de alguns canais ilegais? Então, vá em frente. O que quer que seja, tudo parece estar bem.

Praticamente em todos os textos religiosos se fala sobre como é que o amor ao dinheiro é a raiz de todo os males. Quero dizer, isso talvez haja um elemento comum em tudo isto? Isso é apenas dinheiro e poder a correr para a sua natural conclusão românica?

Charles Hugh Smith: Bem, eu acho que tem razão, no sentido de que esse era um dos tópicos que eu estive a tentar explorar no livro, ou seja, a querer explicar quais são as condições iniciais de um sistema – nós chamamos a isso teleologia. É com estas que se cria o próprio sistema. Então se você criar um sistema com as necessárias condições de base que tem aqui nos EUA, como você diz, em que o dinheiro é tudo, é o árbitro de todo o valor, então você vai ter um certo resultado. E você não será capaz de mudar esse resultado a menos que você mude as condições iniciais.

Mas eu quero rejeitar uma ideia que me parece ter sido degradada ao longo das duas últimas gerações, digamos, ao longo destes últimos quarenta anos. Quando éramos mais jovens, a nação parecia unir-se em torno da ideia de proteger o ar e a água. E até mesmo um presidente conservador como Richard Nixon se sentiu comovido pelo sentimento geral do bem comum. E foi assim que as leis foram aprovadas e os ganhos em termos de eficiência foram alcançados. E, como resultado, duas gerações depois, a qualidade do ar e da água nos EUA é consideravelmente melhor do que há quarenta anos atrás.

Mas parece que perdemos essa capacidade de nos unirmos em torno de algo que obviamente faz parte do bem comum. E, como você diz, o impacto sobre os insetos, que tem um enorme custo financeiro, como todos sabemos, por meio da polinização e não só, e mesmo se não tem nenhum efeito ,tem mesmo assim um enorme impacto financeiro. Mas será que perdemos a capacidade cultural de concordar em qualquer coisa relativamente a um bem comum?

(continua)

Texto original disponível em https://www.peakprosperity.com/podcast/114587/charles-hugh-smith-preventing-final-fall-our-democratic-republic

charles h smith Sobre Charles Hugh Smith: licenciado em Filosofia Comparada pela Universidade de Hawaii-Manoa, é o fundador em 2005 do blog Of Two Minds (www.oftwominds.com/blog.html) que cobre um eclético conjunto de temas tempestivos: economia, habitação, Ásia, energia, tendências de longo prazo, questões sociais, saúde/dieta/boa forma e sustentabilidade e comunidade. É também colaborador regular de Peak Prosperity. Desde o seu humilde início em 2005, Of Two Minds atrai atualmente cerca de 300,000 visitas por mês. Charles colabora também com AOL’s Daily Finance (www.dailyfinance.com) e é autor de diversos livros, o mais recente dos quais é The Nearly Free University and the Emerging Economy: The Revolution in Higher Education

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