A GALIZA COMO TAREFA – moinantes – Ernesto V. Souza

No momento em que o capitalismo soube que era dono do campo e senhor absoluto da cena perdeu, precipitadamente, mas como por acaso, aquele interesse pelas formas e moral etonianas (good manners… / BAD MANNERS!!! por citar pela breve James Hook) que tanto o preocupavam quando as turbas da esquerda ameaçavam os sistemas e as hierarquias formalmente constituídas e elegantemente herdadas das classes dirigentes.

Um dos efeitos mais notáveis do triunfo do capitalismo é o impacto direitinho, na política, nos grandes partidos políticos, e nos políticos, destas maneiras novas e lógica comercial primitiva que nos catapultam cara passados até há nada dados por superados. Benefício econômico como ideal e objetivo supremo, consumo como roteiro único à satisfação e sucesso pessoal individual como projeto vital. O demais não importa.

Pensem comigo senão é evidente, nestes indicadores, na fatura dos novos políticos, no jeito de fazer política e nas maneiras atuais de dizer discursos. Não apenas em campanha eleitoral, senão constantemente, dado que também mudou o tradicional ritmo tranquilo e ritual político pausado de senhores rentistas de casino provinciano e ateneu da capital, para frenético dos brokers e assessores financeiros, que agora todo o ano (permita Larra que me pouse nos seus ombreiros de gigante costumista) é campanha eleitoral.

A questão é que as formas políticas mudaram. No mundo em que vivemos, in crescendo desde os tempos de R. Reagan e M. Thatcher, e exponencialmente desde os de G. Bush jr. os políticos são, de mais em mais, figuras icônicas, fabricadas como estrelas de revista pop e alimárias midiáticas, desenhadas para personagens de reality show.

A imagem, os momentos em share de audiência, importam mais que qualquer capacidade concreta ou talento; e a permanência no topo é uma questão de modas, não da necessidade, contingência social, urgência nacional, adequação ou até da rotação pautada do bipartidismo. Os discursos, são parte medida de campanhas permanentes de publicidade, regidas pelas regras do marketing, analisadas em tendências de big-data e definidas pelos gurus, youtubers e assessores profissionais tirados do mundo da empresa.

Aparecem figuras do nada, imitando personagens de telefilmes norte-americanos e, seguindo os roteiros, vão aprovando as oposições, dos self-made-men de manual com master e norte em convencionalismos, tópicos e outros hastag. Homens (sim, homens, não mulheres) de sucesso e com presença, dentro dessa ideia de sucesso e da presença dos telefilmes romântico-capitalistas made in USA e na lógica dessas mesmas novelas televisivas e estética dos anúncios de carros ou perfumes.

Vendem-se políticos e feiram-se discursos: de série, novos do trinque, segunda mão em boas condições, em renting ou por transferências doutros partidos, e atualizados: como se fossem futebolistas, sisudos executivos da indústria, telefones, torradeiras ou outros modernos periféricos digitais de marca. E florescem partidos e formações políticas aproveitando, e até criando, o mercado; alvejando algum nicho que apareça, e o momento. Tudo governado, como se de empresas se tratasse, core business, com as suas estratégias comerciais, políticas de imagem, cartas de serviço, programas de qualidade, apps e promoções, à procura dos grandes bancos do voto, nos que pescar consumidores para o seu produto.

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The Snake Oil Salesman / Morgan Weistling .- Giclée Canvas 44 W x 28 H inches

Os políticos, profissionais e de carreira, cada vez mais são comerciais, vendedores de si próprios e da sua mensagem associada e marca como produtos, saltitando ao ritmo dos likes e às carreiras para surfar as ondas das divertidas fórmulas e algoritmos que definem o sucesso ou o fracasso dos seus discursos, gravatas, fatos executivos e sport, penteados e acenos no ar.

Vendedores de elixir para remediar quem sabe, panaceias multi-efeito para malpocados e tônicos compõe-tudo para aleijados das pátrias. Haveria que ver as contabilidades dessas empresas-partidos-marcas e conhecer os seus capitães, em pijama.

Do resto, que sei eu… desligado das mensagens que não me interessam e pouco dado à compra de produtos que não necessito, vêm-me saudades, neste 25 de abril mais e mais longe de Grândolas, daquele dizer retranqueiro e despetivo: moinantes…!, da minha avoa.

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