As eleições europeias estão já aí e o problema maior parece ser a dissolução dos vínculos que marcaram a vida política nas últimas dezenas de anos!
A hipermodernidade comandada pelos ecrãs, deu lugar a um ‘hipersujeito’ arredado e desligado da aprendizagem das humanidades, da história e até da comunidade, sem ter um único projecto, mesmo utópico ou realista, por viver só no ‘não-lugar’ conseguido e permitido pelo ecrã e pela rede.
Um ‘não-lugar’ onde se misturam, a toda a hora, as imagens de informação, da publicidade e da ficção, cujos tratamento e finalidade não são semelhantes, mas a poder e conseguir organizar bem à frente dos olhos, um mundo outro e diferente, por vezes até possivelmente grande, apesar da sua homogeneidade relativa e parcial.
E todos nós, completamente mergulhados nesta aldeia grande da informação, até acreditamos saber a verdade sobre qualquer conflito mas, na realidade, nada sabemos da omissão e da mentira!
Uma realidade particularmente visível quando os media peroram sobre temas sensíveis do campo ideológico, usando uma quantidade enorme de dados informativos e com uma parcialidade convenientemente defendida pelos grupos possidentes, mas a permitir apreciar também o nível da manipulação.
Mas não se fica pelos media tal situação, a ver pelo eco e colaboração das redes sociais que, divulgou há dias a Europa Press, Facebook obtuvo sin permiso contactos de email de 1,5 millones de usuarios desde 2016’ e pelo título, com alguns dias no nacional ‘DN’, ‘Como o Facebook fez «chantagem» para não haver regulação europeia’
O veterano e respeitado correspondente de guerra, Ryszard Kapuscinski, afirmou também e recentemente, ‘la verdad ha dejado de ser importante el día en que se descubrió que la información era un negocio’
Negócio bem explicado num estudo da Nokia, onde se conclui que o telemóvel é examinado cerca de 150 vezes cada dia e se mexe nele mais de duas mil. Por isso mesmo, algumas cidades alemãs até já instalaram semáforos para proteger os cidadãos enganchados nos smartphones.
Mas o mais grave destes números está no facto de a capacidade de atenção ter baixado de 13 para 8 segundos só na última década.
Uma baixa já bem reflectida nos noticiários, por ser quase impossível contar uma estória nos tempos limitadíssimos dado aos profissionais para as apresentar, mesmo por ser comum meterem e caberem umas dezenas de notícias num noticiário normal.
Notícias ou apenas títulos?
Os políticos e outros ‘frequentadores’ dos ecrãs sabem perfeitamente de tudo isso e também se sabem refugiar quase sempre nas e em frases feitas, preparadas com antecedência, para poderem oferecer e garantir bons títulos e boas ‘headlines’.
Até pode ser que as coisas sejam verdades, mas nada as separa das mentiras, a característica básica da sociedade líquida, pela quantidade de informação omitida, obviamente contrária aos interesses dos possidentes.
Aliás o professor Jacques Lecomte, presidente da Associação Francesa de Psicologia, salientou há pouco ‘Os meios de comunicação estão convencidos de que o conflito e as más notícias vendem mais do que as boas; mostram um mundo mais perigoso e violento do que é; as visões catastrofistas levam a um sentimento de impotência e este ao imobilismo’.
Tem também muito interesse voltar a convocar o filósofo Daniel Innerarity, numa entrevista ao digital ‘Diario.es’, ‘Temos democracias de audiência e a simplificação dos problemas tem tudo a ganhar no curto prazo; há um enorme combate para chamar a atenção, a lógica da publicidade contaminou a política e a formulação simplificada e impactante dos problemas, é a de maior êxito’.
É uma realidade o facto de o ‘agora-mundo’, este onde também votamos, estar a girar totalmente em volta do curtíssimo prazo, muito longe de poder oferecer tempo para estudar, avaliar e empreender as transformações exigidas pelas sociedades, da local à global.
E explica George Scialabba, filósofo, crítico literário e ex-director de operações de Harvard, ‘assim funciona a sociedade capitalista: as opiniões que marcavam o debate eram também as que alarmavam os proprietários dos media, mas isso já acabou. As famílias foram substituídas por conglomerados multinacionais que só contratam gente que partilhe as suas ideias’.
Màrius Carol, director do ‘La Vanguardia’, salientou há poucos dias, a juntar ao que se tem dito sobre o papel das redes sociais na manipulação da opinião pública, ‘falta concluir que necessitamos de uma terceira revolução humanista e uma ética universal, a acompanhar a defesa da privacidade e controlo de dados, se não queremos perder definitivamente o rumo da História’.
E as eleições europeias estão já aí!
Não custa por isto tudo, relembrar Jonh Tolkien, o autor de ‘O senhor dos anéis’, por ter afirmado um dia ‘Aquilo que nós escolhemos é muito pouco: a vida e as circunstâncias fazem quase tudo’
Por que não experimentar agora escolher bem?
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor