O tempo ficou, ultimamente, no que a mim respeita, meio detido. Sou consciente de que apenas é uma impressão, efeito de uma dessas labaçadas que de quando em quando nos mete “de non cato a humana vida”.
Objetivamente é claro que vai passando. O tempo não tem paradura. Quando vou trabalhar, cada manhã, nestes dias marçais constato que há mais luz, cores e passaros nas árvores. Florescem, nas praças e nas ruas, as ameixeiras japonesas e as amendoeiras para confirmar os calendários. Vai frio, mas o corpo e o sol já podem com ele. Dá até para ir assobiando.

Portanto é quase primavera. Ou fim do inverno pelo ciclo antigo. Mais uma. Porém, a esperança a respeito da Galiza e da língua não floresce. É, mais bem, nenhuma.
Um país que não foi. Uma gente que não dá. Uma língua que foi antes de tempo e que não entrou na idade moderna. Faltou Rei, Corte, Mecenas, Estado, Cidadania própria, Burguesia, Capital, Nação.
Os galegos não somos capazes já, nem de fazer uma Língua, nem menos um Estado. Afinal a primeira é consequência da segunda. Sem passaporte, exército, administração, justiça, nem mapa, ou quando todos esses elementos são doutros, não adoita acontecer.
Todos os futuros apontados, são mais bem tecidos de nostalgias. Carvalho, por fim; reintegracionismo ainda não. Minorias civilizadas e maiorias de bárbaros donas dos recursos e do sistema. A realidade nacional inexiste sem corpo político e social. E não há condições nem circunstâncias para criá-los.
Talvez, nunca houve, e foram simplesmente ilusões que por anos alimentamos. O presente parece-se a faiados meio derramados; a torres, paços, casas vilegas e pequenas indústrias urbanas cheios de pó e aranheiras; a caminhos abandonados, a ruas escuras e passagens sombrios; a portos cegados sem draga e falta de calado; a medos, silêncios e ausências; a substituições urbanísticas e ausências de planificações territoriais, a pesos e terrores nas consciências das sangrias humanas de esforços, guerras, repressões e emigrações.
Por não ser eu menos, ou discordante com o espírito do meu país, inventario e contemplo a obra feita até e a língua escrita, em anos soltos e momentos de energia. Tão imperfeito tudo e definida pela ausência de projetos por fazer. Constato a imaturidade e a soberva, os inúmeros furados e buratos, a repetição maniática, a proporção injusta de raiva e a ausência de estilo, registos e profundidade. Por vez primeira, reparo na ausência de leituras e conhecimentos basilares, de esquemas e de modelos, de horas de trabalho e exercícios prévios, de verdadeiros magistérios na hora certa e de equipas das que fazer parte.
Vou à inversa, ou provavelmente na trilha dos boémios. Na hora de ser discípulo armei-me em mestre asilvestrado e apenas de caminho a velho começo a ver quanto tenho que apreender. Mas é tarde para ser útil e fazer cousa de mim. Leio cousas soltas, as mais delas doutros tempos e geografias, e admiro-me com surpresa adolescente anotando tanto quanto não sei.
Na Galiza, no presente, há gente falando na distância, mas já não a compreendo. Nem que me achegue a compreendo.