Manuel Gama não é actor de televisão, nem da netflix, não é jogador de futebol nem discute futebolices nos ecrãs, não aparece em calções mais um carrinho de compras no supermercado, não tem as câmaras dos ‘manhas’ de todos os dias, à espera de ver a polícia aparecer à porta de casa, é apenas um professor da Universidade do Minho.
Mas é também um especialista em temas de cultura, o termo que parece ser, por cá, uma das palavras bastardas nos usos e costumes da maioria, coordenando ainda o estudo sobre o impacto do ‘corona’ na cultura no nosso país.
E uma das conclusões da primeira parte de tal trabalho, refere que apesar das muitas notícias, nunca se deu, aos temas culturais, a visibilidade das primeiras páginas.
Também demonstrou como o deficit dos temas a dizer da cultura nos debates e no portal da Assembleia da República, mostra como ‘a cultura continua a não ser uma prioridade na linha de acção governativa’.
Mas ali são também referidos os profissionais e as organizações do sector cultural, todos a evidenciar uma enorme preocupação pelo futuro, por uma redução de postos de trabalho a rondar os 50% até final do ano e, ‘apesar de apenas 6% dos profissionais assumir cancelamentos definitivos de partes da actividade este ano, as organizações vão mais longe e assumem que os despedimentos serão uma realidade’.
Para Manuel Gama, ainda pós-doutorado em Ciências Sociais em Espanha e Brasil, tudo vai ser diferente a partir daqui, ‘o tecido cultural português vai depender, no próximo ano, de três actores claros: Governo, municípios e agentes culturais’.
Será que vai? Será que vão?
Dúvidas que me apoquentam, por não ter nenhuma certeza sobre a acção dos ‘patrões’ e dos ‘donos’ da cultura, por atitudes que têm séculos de sobranceria neste e noutros países e regiões do ocidente.
Lembro-me de ter lido algures que Sócrates, o filósofo, gostava de se distrair percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando os vendedores o assediavam, respondia, ‘Só estou a ver a quantidade de coisas que existem e de que não preciso para ser Feliz’.
Não acredito, por também já ter caído nos apelos das músicas, cintilações e manobras atractivas dos sítios todos onde gastar dinheiro, mesmo os da cultura mastigada com pipocas, que possa haver gente a poder dar uma qualquer resposta ‘tipo Sócrates’!
Mas convém não esquecer que está em causa, acima de tudo, a importância da palavra, se calhar, a melhor e a única maneira de classificar, definir e distinguir as áreas do pensamento e da acção, pela explicação e pela justificação.
Aliás, salientou-o bem George Steiner, ‘No castelo do Barba Azul’, ‘se o papel da palavra, como organizadora das articulações do tempo e do sentido, for enfraquecido, se este privilégio for subvertido, teremos começado a demolir os valores de hierarquia e transcendência de uma civilização clássica. Até mesmo a morte pode tornar-se muda’.
Devemos esperar pelas respostas que ‘todos os poderes’ poderão e deverão dar, ao estudo coordenado pelo professor Manuel Gama. A cultura é um bem comum, precioso e único, que não pode ser deixado nas mãos dos ‘vendedores de spots e tweets’, por até já estarmos a ver o caminho por onde nos querem levar.
Estou convencido que, a usar agora uma explicação até perfeitamente actualizada para estes tempos tecnológicos e, como disse há pouco o realizador norte-americano, Spike Lee, ‘O mundo inteiro necessita de se reiniciar!’
E não precisará?
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor
*Os meus agradecimentos pelo artigo.*
*Maria*
Obrigado eu, também, pela sua fidelidade
A.O.