Em Viagem pela Indochina – 9 – LAOS – por António Gomes Marques

Em Viagem pela Indochina – 9

por António Gomes Marques

III-5 – LAOS – Educação

Quando se fala de Educação em relação a qualquer país, temos de olhar para os dados demográficos e, no caso do Laos, não podemos esquecer que três quartos da sua população vivem nas zonas rurais.

A maior parte da população é budista e a língua oficial é o laosiano, dados não menos importantes para este capítulo.

Em 2005, o Laos tinha uma taxa de instrução estimada em 73%, com o sexo masculino a ter uma percentagem superior em 20% à percentagem do sexo feminino. Mais uma vez, apesar de ser um país comunista, em que muito se fala em igualdade entre homens e mulheres, as mulheres são também as menos iguais.

Antes da fundação da República Democrática Popular do Laos, apenas o grupo étnico Lao Loum tinha uma tradição de educação formal, o que se devia ao facto, penso, de apenas esta etnia ter então um «script» escrito, ou seja, tinha uma linguagem de domínio específico.

O ensino, até meados do séc. XX, existia no templo budista, onde os monges ensinavam a ler, além de aritmética básica, temas religiosos e sociais. Aos estudos mais avançados apenas tinham acesso os que fossem ordenados e aqueles que estavam nos mosteiros urbanos.

Durante a ocupação francesa, o francês chegou a ser a língua utilizada no ensino, sendo o padrão do ensino a escola francesa, que não chegou a estender-se a todo o país, embora as autoridades coloniais o tenham tentado, mas conseguindo estender-se a centros distritais e a algumas aldeias. Quem aproveitou deste ensino foram os oriundos da família real e das famílias nobres, como dele terão beneficiado imigrantes vietnamitas, os quais chegaram a ter um número significativo de alunos no ensino secundário.

Para níveis de ensino mais avançado, os alunos teriam de ir para o Vietname (Hanói, Danang, Hué) ou para Phnom Penh, no Camboja; para frequentar o ensino universitário, teriam de ir para França.

O Pathet Lao, nas zonas sob o seu domínio, em finais dos anos 50 do século passado, criou escolas cujo ensino era na língua Lao. No entanto, ainda durante o reino do Laos, na década seguinte, as escolas passaram a seguir um currículo próprio de ensino para o Laos, ao ponto de, na década de 70 do mesmo século, o número de professores atingir um terço dos funcionários civis, embora não tivessem uma formação específica (talvez os pudéssemos comparar aos regentes do regime salazarista em Portugal, mas no Laos não deixou de ser um avanço, contrariamente ao retrocesso que houve em Portugal), escolas essas que atingiram 36% da população em idade escolar.

Com o Governo da República Democrática do Laos, como seria de esperar, embora passados cerca de 10 anos, foi criado um sistema universal de ensino primário em 1985, reestruturando-se o ensino que havia sido instituído pela anterior Monarquia e o ensino com base na escola francesa foi definitivamente substituído por um currículo próprio do Laos, embora se tenha dado início, dois anos antes, a uma campanha de alfabetização de adultos em todo o país que habilitou mais de 750.000 laosianos a ler e a escrever, apesar das dificuldades com a falta de materiais de ensino para os objectivos traçados pelo governo comunista, o que fez aumentar a alfabetização para 44% da população.

As campanhas de alfabetização, se não for criado o hábito de leitura para os recém-alfabetizados, passados uns anos muito do que foi conseguido pode perder-se. Não consegui confirmar se aconteceram mais campanhas de alfabetização.

Segundo a ONU, considerando a população entre os 15 e os 45 anos, 92% dos homens e 76% das mulheres sabiam ler e escrever.

Jardim de infância em Thakhek (in: https://en.wikipedia.org/wiki/Education_in_Laos)

A educação para todos implica construir escolas e formar professores; começaram a substituir as escolas de bambu por construções sólidas —ver fotografia abaixo—, o que foi mais fácil do que formar professores e conseguir material escolar para todos os alunos.

Escola primária em Thakhek (in: https://en.wikipedia.org/wiki/Education_in_Laos)

As dificuldades levaram a que algumas escolas tivessem apenas um ou dois graus. O abandono escolar, que tem várias causas, foi uma dessas dificuldades.

Mesmo com todos estes problemas, no ano escolar de 1992/93 havia cerca de 603.000 alunos no ensino primário, praticamente o dobro dos que frequentavam o mesmo grau de ensino em 1976, mas ainda longe da pretendida escola primária para todas as crianças. O abandono da escola também atingiu uma percentagem bastante elevada,, maior no sexo feminino, com 45% dos alunos a concluírem os cinco anos da escola primária no final dos anos 80 do século passado, verificando-se que a maioria se situava nas zonas rurais, onde a falta de escolas e de professores mais se fazia sentir, mas também com diferenças entre etnias, contando para isto o facto de as minorias étnicas não terem tradição de frequência escolar e também por nem todas falarem Lao.

Professor e seus alunos numa escola primária no Norte do Laos (in: https://en.wikipedia.org/wiki/Education_in_Laos)

Desde 1975 que o ensino secundário se expandiu, mas, passados 20 anos, as inscrições ainda estavam muito limitadas. A partir de 1994, o ano escolar passou a ser de 9 meses, sendo de 5 anos a escola primária, 3 anos de escola inferior secundária e 3 anos de escola superior secundária, havendo, até ao ano anterior, 130.000 alunos inscritos no ensino pós-primário, comportando o ensino secundário, baixo e superior, escolas de formação profissional e, muito importante, escolas de formação de professores. A partir de 2010, acrescentou-se mais um ano à escolaridade, passando o ensino primário e secundário a ser de 12 anos.

Para além destes dados, as diferenças para melhor com o novo regime foram evidentes no capítulo da Educação, tendo o ensino passado a ser bem mais democrático. Em 1969, no ensino primário, apenas 37% dos estudantes eram do sexo feminino, tendo esta percentagem aumentado, vinte anos depois, para 44%.

A tradição de a escola ser mais para rapazes do que para raparigas não era exclusivo das sociedades ocidentais, essa tradição também existia no extremo-oriente. Esta era mais uma das dificuldades, além das já mencionadas acima.

Uma das opções do governo comunista foi aproveitar as oportunidades oferecidas por outros governos socialistas em aceitar estudantes laosianos nas suas escolas, concedendo bolsas de estudo, cerca de 14.000 entre 1975 e 1990, indo 7.000 estudantes para a União Soviética, 2.500 para o Vietname, 1.800 para a RDA-República Democrática Alemã, com as restantes bolsas para estudantes que foram para mais 5 países socialistas. O retorno destes estudantes, após a sua formação, foi de uma grande importância para o Laos, como facilmente se poderá imaginar.

Muitos alunos passavam do ensino primário ou do ensino secundário inferior para as escolas de formação de professores ou para as escolas agrícolas, escolas estas em que o abandono escolar passou a ser diminuto.

No entanto, estas escolas estavam concentradas, sobretudo, nas capitais das províncias e em um ou outro centro distrital.

Há um outro aspecto que devemos ter em consideração, que tem a ver com os grupos étnicos que compõem a população do Laos. A larga maioria —há poucos anos, eram três quartos da população—, vive nas zonas rurais, sendo que o maior grupo étnico é o lao-lum, seguindo-se o lao-theung, também apelidado mon-khmer, o lao-tai e o lao-soung, e, em 1980, apenas 7% dos alunos no secundário inferior pertencia às etnias lao-theung e lao-soung, com uma percentagem de apenas 3% no ensino secundário superior, o que, julgo, terá a ver com os locais de residência, mais afastados dos locais com escola, para além das dificuldades que, provavelmente, terão com o transporte. Não será também difícil imaginar as dificuldades destes alunos oriundos das zonas rurais quando pretendem frequentar o ensino superior, onde, mais uma vez, serão as jovens alunas as mais prejudicadas.

Obviamente, o governo não desconhecia esta situação, daí tendo partido, em 1986, para uma reforma do ensino não só tendo em conta a situação socioeconómica de cada região, não esquecendo as regiões montanhosas, dotando-as de estruturas de modo a permitir um desenvolvimento educacional mais igual em todo o país, promovendo uma colaboração entre os ministérios envolvidos e as comunidades, não esquecendo as organizações nestas existentes, nomeadamente as dos trabalhadores. A capital, Viantiane, tinha a maioria das estruturas de ensino, a todos os níveis, como a Faculdade de Irrigação, a Universidade de Ciências Médicas, o Colégio de Agricultura, a Escola Nacional de Formação de Professores e o Instituto Politécnico Nacional, escolas estas em que o nível de ensino, segundo os dados da Wikipédia, era muito baixo. Com a planeada reforma pretendia-se dar mais hipóteses à população em idade escolar de obter uma adequada educação, tornando-a mais igual para toda a população. Mais igual não significa que tenha melhor qualidade, mas sejamos optimistas.

Se as intenções eram as melhores, os fundos disponibilizados não tiveram grandes aumentos. Em 1988, o orçamento para a Educação representava apenas 8% dos gastos totais do Estado e a possibilidade de levar a cabo o plano traçado dependia também dos auxílios externos. Em anos anteriores, o orçamento para a Educação tinha oscilado entre os 10% e os 15%. Ora, as verbas orçamentadas para a Educação também tinham de ter em consideração que é mais fácil e mais barato construir escolas maiores, mas estas têm cabimento nos centros urbanos, não numa pequena aldeia, tornando o estender do ensino às zonas rurais um significativo problema financeiro, ou seja, as diferenças demográficas entre a cidade e o campo não facilitam a desejada democraticidade do ensino. Poderá questionar-se esta conclusão se lembrarmos que a larga maioria da população vive em zonas rurais; no entanto, também não pode ignorar-se que essa população rural vive em pequenas aldeias distantes umas das outras, com dificuldades de comunicação, estando algumas dessas aldeias distribuídas pelas montanhas, sendo o Laos um país montanhoso, como já referi e pude verificar quando sobrevoei uma boa parte antes de aterrar em Luang Prabang. Imaginemos agora as dificuldades para estender o ensino secundário e o ensino universitário a todo o país!

Problemas havia também com a falta de material escolar e a sua deficiente distribuição (in: https://en.wikipedia.org/wiki/Education_in_Laos), sendo manifestamente insuficiente a produção de livros pelo Ministério da Informação e da Cultura —3,9 milhões em 1989—, que incluíam, para além de textos escolares, romances, poesia e livros infantis, traduzidos para Lao do russo, em colaboração com a agência russa Novosti. Para se fazer uma ideia dos problemas, no início da década de 1990, em muitas zonas rurais não havia livros mas apenas acesso ao jornal «Voz do Povo» (Xieng Pasason), colado na parede de uma casa, e aos inevitáveis cartazes de propaganda política, o que me faz lembrar Cuba, onde me deparei com a falta de sinalização nas péssimas estradas asfaltadas —com tantos buracos que pareciam ter sido bombardeadas—, mas onde a propaganda governamental não faltava.

Campus Universitário em Luang Prabang (mesma fonte)

No Laos há cerca de 49 grupos étnicos, sendo a língua oficial, o Lao, a primeira língua de apenas 50% da população, sendo esta também a língua utilizada no ensino, o que levanta profundas desigualdades no ensino para as etnias que não falam Lao. Segundo dados do censo de 1995, só a título de exemplo, 94% do grupo étnico Kor nunca tinha ido à escola, assim como 96% da etnia Musir, que são dois dos mais pequenos grupos étnicos no Laos. Ou seja, o problema da língua, penso poder concluir, também muito terá contribuído para o abandono escolar, a juntar aos já referidos atrás, o que também mostra bem a dificuldade que o governo tem em democratizar o ensino, tendo sido tomadas medidas para ajudar os alunos que não falam Lao.

Sendo a população do Laos ainda muito jovem —por volta de 2016, o Laos tinha a população mais jovem entre todos os países asiáticos, com uma idade média que não chegava aos 22 anos (21,6 anos)— e com tantas dificuldades na sua formação, depara-se o país com outros graves problemas, isto é, população com pouca formação escolar não pode fornecer a mão-de-obra qualificada de que o país tanto carece para o seu desenvolvimento. Mas os problemas não ficam por aqui, havendo também que olhar para o fraco rendimento das famílias e, sobretudo quando estas são grandes, a tradição volta a exercer a sua influência, sendo mais uma vez o sexo feminino a ser sacrificado em primeiro lugar para contribuir para o sustento da família, nomeadamente com o trabalho doméstico, sendo as jovens as primeiras a contribuir para a elevada taxa de abandono escolar, com a consequente falta de formação para obter melhores posições no mercado de trabalho.

Perante o quadro que acabo de traçar, imagine-se o desafio enorme que se coloca ao governo popular do Laos. As disparidades são enormes, faltam professores, instalações, material escolar e o governo popular do Laos saberá isso melhor do que ninguém. Espero que consiga vencer o desafio e que seja, de facto, um governo do povo para o povo.

Escola primária numa vila do Nordeste rural do Laos (in: https://pt.wikipedia.org/wiki/Laos)

Segundo o Banco Mundial, em 2013, as inscrições na escola primária atingiam uma percentagem de 97,29% dos jovens com idade para a frequência deste grau de ensino; na escola secundária, essa percentagem era de 44,67%.

Ainda de acordo com a mesma fonte, em 2005 a literacia atingia 72,70% da população, sendo que esta taxa entre os jovens dos 15 aos 24 anos se distribuía por 78,74% de mulheres e 89,19% de homens.

Em 2014, segundo o Atlas Mundial de Dados, no Laos «Os gastos públicos em educação consistem em gastos públicos correntes e capital em educação, incluindo os gastos governamentais em instituições educacionais (públicas e privadas), administração da educação e subsídios para entidades privadas (estudantes / famílias e outras entidades privadas)» atingiu 2,94%. (in: https://pt.knoema.com/atlas/Rep%c3%bablica-Democr%c3%a1tica-Popular-de-Laos/Gasto-p%c3%bablico-em-educa%c3%a7%c3%a3o). Continuando com a mesma fonte, a taxa de escolarização líquida ajustada, primário (% das crianças em idade escolar) era de 92,71% em 2015, correspondendo ao «número de alunos da faixa etária da escola primária, matriculados no ensino fundamental ou médio, expresso com uma percentagem da população total nessa faixa etária.», sendo a «Taxa de Alfabetismo, adultos, de 84,66% em 2015. A taxa de alfabetização de adultos é a percentagem de pessoas com 15 anos ou mais que podem, com entendimento, ler e escrever uma declaração curta e simples sobre sua vida quotidiana».

Ainda segundo o Atlas Mundial de Dados, no ensino primário, a proporção de alunos-professor, em 2015, era de 24,2 (número de alunos do ensino primário dividido pelo número de professores no mesmo grau de ensino). No ensino secundário, no mesmo ano, a proporção de alunos-professor era de 18,7 (número de alunos matriculados no ensino médio dividido pelo número de professores desse grau de ensino).

Um outro problema, ainda não muito grave, começa a haver no Laos, que bem se conhece em Portugal: o mercado de trabalho não tem capacidade para absorver todos os que se vão formando, quer no ensino técnico, quer no ensino superior, tendo como consequência a emigração.

A terminar, deixo mais um gráfico:

III-6 – LAOS – Turismo

         O Laos não tem ainda infra-estruturas turísticas que possam comparar-se com a Tailândia ou o Vietname, mas a procura destes países intensificou-se e o Camboja e o Laos acabaram por beneficiar dessa procura, como países vizinhos; no entanto, o regime comunista começou por ser cuidadoso na abertura das suas portas aos visitantes. Nos anos 90 do século passado, o país recebia poucos milhares de visitantes, hoje esse número atinge milhões, como veremos mais à frente.

As cidades de Vientiane e Luang Prabang são as que mais condições têm para receber os visitantes/turistas, mas à volta das albufeiras das muitas barragens já construídas, como referi quando tratei da Economia, vão surgindo estruturas turísticas, como «construção de casas de hóspedes, muitas delas nas ilhas do lago, para além de actividades subaquáticas e até uma indústria pesqueira».

Há zonas ainda não limpas dos milhares de bombas que os EUA lançaram sobre o país, como também referi com algum pormenor, o que não facilita a expansão turística por todo o país.

Luang Prabang, como julgo ter tornado claro, foi uma cidade que me encantou. A presença francesa nota-se na sua arquitectura, bem preservada, para além dos muitos templos, mais de sessenta, e do rio, que lhe dão uma beleza inquestionável, tendo sido classificada pela UNESCO como Património Mundial. Estas razões não serão alheias ao facto de ser a cidade mais visitada do Laos.

As muitas quedas-d’água, como a que visitei no Parque Tat Kuang Si, constituem uma das outras atracções no Laos, sendo a maior a de Tad Fane, com cerca de 120 metros de altura, situada na província de Champasak, na selva Dong Hua Sao, uma das áreas de Conservação Nacional da Biodiversidade, próximo da cidade de Pakse, com aeroporto, com voos directos para países vizinhos e, naturalmente, para a capital, Viantiane, assim como autocarros de passageiros, com uma das carreiras a ir até à fronteira com a Tailândia.

Nesta floresta tropical de Dong Hua Sao há animais selvagens, como leopardos e tigres, com características próprias, de grande raridade, para além dos sempre presentes elefantes e muitas espécies de aves.

Junto da queda-d’água há um «resort» e, em Pakse, várias pousadas, que garantem transporte para o aeroporto. (ver: https://www.vivutravel.com/laos-travel-destinations/tad-fane-waterfall).

Queda-d’água Tad Fane
in: http://laosgrouptours.la/laos-attractions/30/tad-fane-waterfall

Esta província de Champasak tem uma área de 15.415 km², na fronteira com a Tailândia, de que o rio Mekong é parte dessa fronteira, no Sudoeste do Laos, estendendo-se para Sul até ao Camboja, tendo Pakse como capital.

Para além desta queda-d’água, há várias outras nesta província e, no rio Mekong, poderão avistar-se golfinhos de água doce, tudo constituindo motivos de atracção para o visitante. (Falo desta província, como poderia falar de outras, apenas por causa de ter a mais alta queda-d’água do país).

É nesta província que se produz a maior quantidade de café, conhecido pela sua qualidade, tendo Pakse uma importância capital no comércio com a Tailândia, comércio esse que muito se incrementou após a construção da ponte Lao Nippon, sobre o Mekong, ligando os dois países, contribuindo também para o aumento de visitantes ao Laos.

Mapa da Província de Champasak
(in:UNOSAT, Nações Unidas, modificado pelo Dr. Blofeld – Baseado em arquivo: UNOSAT Laos Base Map.jpg)

Segundo o Laos Tourist (http://www.laostourist.com), na região de Pakse, há mais de 60 pontos de interesse turístico, sendo metade deles naturais, 7 históricos e os outros culturais, havendo também vários edifícios do tempo colonial francês, no bairro antigo, perto do rio Xe Don.

Os golfinhos de água doce que acima refiro, apenas se podem encontrar nesta parte do rio Mekong, Ban Khon ou Ban Veunkham, sendo junto à fronteira com o Camboja o local onde está sediado o Centro de Protecção e Conservação, protecção de que os golfinhos de água doce bem necessitam para não serem extintos. Os barcos utilizados para que os visitantes possam observar estes golfinhos não contribuem para a sua preservação.

No Laos, como nos informa a Wikipédia, existem várias áreas nacionais de conservação da rica biodiversidade do país, como a de Xe Pian, a acima referida de Dong Hua Sao, a de Phou Xieng Thong, onde há uma importante área de aves, podendo  encontrar-se ali a tagarela-de-cara-cinza, o pavão verde, o pica-pau de colar vermelho, o periquito de cabeça cinza, o pitta orelhudo, todas a correrem o risco de extinção (encontrei uma referência a uma outra ave, o retorno do fogo siamês, mas não consegui saber algo sobre ela, nem obter uma imagem. O nome é tão curioso que despertou a minha atenção). Consultar:

https://en.wikipedia.org/wiki/Phou_Xieng_Thong_National_Protected_Area

Pitta orelhudo (in: https://www.google.com/search?q=ave+pitta+orelhudo)

Como o leitor poderá concluir, não faltam motivos para visitar o Laos. Entretanto, façamos votos para que as barragens projectadas para o rio Mekong não destruam a biodiversidade do Laos, para além da destruição já conseguida com as já construídas.

Nesta zona da fronteira do Laos com o Camboja, há que referir Don Det, a destacada vila da região também conhecida como a das 4.000 ilhas. Don Det é uma dessas ilhas no rio Mekong, que faz parte do arquipélago de Si Phan Don (Quatro Mil Ilhas, ainda na Província de Champasak). (https://en.wikipedia.org/wiki/Don_Det).

É chegado o momento de apresentar alguns números, servindo-nos das informações do Atlas Mundial de Dados (AMD) sobre o turismo no Laos.

O número de chegadas ao Laos, em 2018, atingiu o número de 3.770.000 de visitantes «que viajam para um país diferente daquele em que residem habitualmente, mas fora de seu ambiente habitual, por um período não superior a 12 meses e cujo principal objetivo nas visitas é diferente de uma atividade remunerada de dentro do país visitado». Aquele número refere as pessoas que chegaram ao país, ou seja, se a mesma pessoa entrar várias vezes, cada vez conta como uma chegada, razão para termos alguma atenção ao número indicado, como bem avisa o Atlas Mundial de Dados.

O número de saídas também ultrapassa os três milhões, mas aqui a confusão poderá ainda ser maior; o registo refere-se ao número de pessoas que saem do país, mas, se a mesma pessoa sair várias vezes, é contada uma nova partida por cada vez que a pessoa sai.

Moradias, Don Det (in: https://en.wikipedia.org/wiki/Don_Det)

A receita do turismo internacional atingiu o montante de 757 milhões de US dólares. Passo a palavra ao Atlas Mundial de Dados que nos diz que aquele montante corresponde aos «gastos de visitantes internacionais, incluindo pagamentos a transportadoras nacionais por transporte internacional. Esses recibos incluem qualquer outro pré-pagamento feito por bens ou serviços recebidos no país de destino. Eles também podem incluir recibos de visitantes do mesmo dia, exceto quando são importantes o suficiente para justificar uma classificação separada. Para alguns países, eles não incluem recibos para itens de transporte de passageiros.»

Ainda segundo o AMD, as receitas do turismo internacional atingiram, nas exportações de 2018, uma percentagem de 12,2%, a qual «é calculada como uma proporção das exportações de bens e serviços, que compreendem todas as transações entre residentes de um país e o resto do mundo envolvendo uma mudança de propriedade de residentes para não residentes de mercadorias em geral, mercadorias enviadas para processamento e reparos , ouro não monetário e serviços.»

Ora, no capítulo relativo à Economia, relembro que, segundo o The Atlas of Economic Complexity, a percentagem das receitas de turismo nas exportações de 2018 foi, no mesmo ano de 2018, de 11,03%; quanto aos dados do OEC-The Observatory of Economic Complexity, nas exportações, na rubrica Turismo, nem sequer aparece qualquer referência nas cinco principais rubricas. (1)

Segundo o CEIC Data – UK, a receita de turismo no Laos, em Dezembro de 2018, atingiu 822 milhões de US dólares. No ano anterior, 2017, tinha atingido 648 milhões de US dólares.

O CEIC baseou-se nos dados fornecidos pelo Ministério da Cultura da Informação e Turismo do Laos, dados esses disponíveis desde Dezembro de 1991, em que a receita atingiu 2 milhões de US dólares

Pelos dados transcritos, penso podermos concluir que o turismo no Laos está em grande expansão, lamentando eu não ter podido viajar mais pelo país, mas o grande objectivo desta viagem tinha como destino o Vietname, de que falarei mais à frente, pretendendo fazê-lo com informações semelhantes, mas, como espero, com bastantes pormenores. Espero também que o Laos aprenda o que esta epidemia do coronavírus nos demonstrou quanto ao perigo em haver uma aposta forte no turismo, servindo-se do que está, no momento, a acontecer em Portugal, país que poderá servir como exemplo do que não deve ser feito. Normalmente, apostar nas facilidades não dá bom resultado, mas os portugueses são demasiado crentes no que lhes dá dinheiro a ganhar sem muito trabalho, desprezando o planeamento a médio/longo prazo.

Ainda em referência ao Laos, se acaso tiver oportunidade de fazer uma visita mais prolongada e por outras zonas, espero não ir encontrar uma destruição significativa da sua biodiversidade, que os projectos de que falei no capítulo dedicado à Economia poderão ocasionar.

NOTAS – Turismo

  1. Para quem quiser mais pormenores sobre as atracções turísticas no Laos, poderá ler o texto de Gabriela Soares, «Laos: conheça e se apaixone por esse país do Sudeste Asiático», com fotografias maravilhosas, in: https://www.viajali.com.br/laos/
  2. Ver em: https://pt.knoema.com/atlas/Rep%c3%bablica-Democr%c3%a1tica-Popular-de-Laos/Receita-do-turismo;

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