CARTA DE BRAGA – “privatizações e assaltos” por António Oliveira

Estamos a caminho da privatização da órbita terrestre! 

Não é por tal coisa me incomodar particularmente, por não estar a pensar meter asas no carro para ir ‘tomar um copo’ à estação que os americanos e os russos (pelo menos esses), instalaram no espaço e que tantas fotos deram ao princípio, com eles de cabeça para baixo e o café, ou outra bebida, a ‘flutuar’ fora da chávena, por tal excursão não me interessar nem um pouco. 

É só por saber que um dos coleccionadores de dinheiro juntamente com Bezos e Branson, um tal Elon Musk, o que fabrica e vende carros topo de gama para gente gama de topo, mas eléctricos, aparentemente para não sujar o ar que respiramos, se encarrega de lançar algumas dezenas de satélites para a órbita, para ficarem a circular entre os 200 e os 2.000 kms de altitude, onde já estão a circular mais alguns milhares de objectos dos mais diversos tamanhos, a maior parte proveniente do lixo espacial, totalmente fora de qualquer controlo, por parte de quem os mandou para lá.

Devo ainda juntar a esta Carta, o que escreveu Aguero Lorente, um modesto professor de Filosofia, ‘As viagens e iniciativas espaciais dos multimilionários não estimularão o intelecto dos cientistas, nem a imaginação dos escritores de ficção, nem acrescentarão profundidade às reflexões dos filósofos’.

Mas convém acrescentar que uma recente união de cientistas nascida no MIT, o Instituto Tecnológico de Massachussetts, calculou em 3372 o número de satélites em volta da Terra em 1 de Janeiro deste ano, a que já se juntaram algumas dezenas desde então, do tal Musk e de outras proveniências. 

Satélites que, na maioria, são indispensáveis para transmitir ordens, mensagens e dados em toda a circunferência, ao mesmo tempo que dependem cada vez mais dos conselhos de administração, directores executivos e titulares das acções das multinacionais que pensam e olham este planeta como um tabuleiro de Monopólio (agora já haverá outros jogos electrónicos de idêntica finalidade). 

Só que a quantidade de objectos em circulação, tem obrigado os cientistas a avisar e a pedir uma acção colectiva no espaço ultraterrestre da órbita, sob a égide das Nações Unidas, visando a utilização do espaço com fins pacíficos porque, na falta de uma de uma acção internacional global, os states com a ajuda dos Musk´s, Branson´s e Bezos’s, continuarão na senda da privatização dos satélites e do lixo orbital, tanto mais que um despacho do trumpa, de 6 de maio de 2020, impedia ver como ‘bem comum’ os recursos extraterrestres, apelando antes para a sua exploração e uso ‘público e privado’. 

Mas, termino com uma pequena frase da crónica de Viriato Soromenho Marques no ‘DN’ de 17 de Julho último ‘Na verdade, este assalto ao céu trata-se de um roubo descarado do património comum da humanidade, servido por especialistas na arte de confundir ilusões com argumentos, e apoiado por políticos venais, oscilando entre obediência e silenciosa cumplicidade’.

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

 

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