Estes números, publicados num jornal daqui ao lado, são resultado de investigações recentes à juventude portuguesa –28%sente-se infeliz, 25% autolesionou-se no último ano, o uso de medicamentação para doenças variadas é massivo, 19%sente-se afectado por doenças de larga duração, 42% apresenta sintomatologia depressiva– e, de acordo com o autor do artigo, parecem indicar que a juventude portuguesa vive dentro de um filme de terror.
Além da análise feita à juventude do nosso país, as investigações também mostram que, no continente europeu, a incidência da depressão na juventude, é 50% mais elevada que no resto da população.
Mas as investigações ainda salientam que há alunos a sair ‘disparados’ das aulas devido a um ataque de ansiedade e até há quem levante a mão, a pedir autorização para tomar um comprimido de emergência, para acabar com um ataque de pânico.
Nada que um professor desconheça, por o ter vivido ou por o ter ouvido a colegas, contando da imensa solidão que afligia alguns alunos, solidão que não escondiam por só procurarem companhia em quem não tivesse nada para dizer, em quem falasse dos ‘arranjos’ para dia ou para essa noite, em que a discussão do ‘amanhã’ era seguida sempre pela indiscutível resposta ‘quando lá chegar logo vejo’!
E passando a assumir agora alguns dos discursos que ouvi também –A aprendizagem daquilo de “ser eu mesmo” pertence àquela disciplina chata que obrigam a tirar, onde copiar era difícil e tinha de se saber de ideologias e ortodoxias, mais os nomes de “tipos que não interessam a ninguém” por só escreverem por não terem mais nada que fazer, quando o que a maioria dos alunos procura é ter impacto, chocar os professores e o resto da turma, com as “inovações” ou as “descobertas” que computadores e telemóveis têm para encontrarmos, para nos adaptarmos e até aprender.
E tirar apontamentos, ler a lista de livros que os “profes” mandam, é uma chatice, quando se tem a mesma coisa nos resumos da net, no google, nas fotocópias que algum deles até deixa, mas há sempre alguém que consegue falar a parecer também um “profe”, mesmo sem ir às nossas “latadas”, e temos de puxar pelo “bestunto” para nos parecermos como ele, por sabermos haver empresas à procura “crânios” para estagiar.
Já nada é como tempo dos nossos pais ou avós, agora temos de saber bem das “tecnos” por estar lá o futuro, ou então a alternativa será o balcão de uma qualquer casa comercial, de preferência bem conhecida. Mas foi a comodidade e o conforto que pais e avós nos deram, dando-nos também tudo para podermos seguir atrás dos sonhos que eram só deles, sem nunca aprendermos a lutar por uma opção verdadeiramente nossa, nascida das nossas ideias, até chegarmos à idade de também as termos.
E agora, encontramo-nos num mundo onde só se fala em guerra e clima, na desigualdade, nos muito ricos e nos fugidos da miséria, e nós a perguntar se ainda vale a pena estudar, se iremos arranjar trabalho lá no futuro, por ser o lugar onde já vivemos, mesmo sem saber nada dele, ignorantes de tudo, mas por até termos aprendido que só mostrando mesmo o que somos, a matéria da tal disciplina chata, poderemos, com alguma sorte, fugir à banalidade e à mediocridade com que nos encharcam os ecrãs todos que temos sempre à nossa volta.
Talvez seja essa a solução que nos pode permitir escolher, para afastar os medos que nos afrontam e vir mesmo a ser um “profissional”, lá no campo onde formos aterrar.
António M. Oliveira
Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor
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