SINAIS DE FOGO – JOÃO VARELA GOMES (1924/2018) – A LONGA LUTA DO “PRIMEIRO CAPITÃO DE ABRIL” – por Soares Novais

 

João Varela Gomes visitou Cuba e foi recebido por Fidel Castro. Créditos Fotográficos: José Paulo-Fafe

https://www.rtp.pt/noticias/11-de-marco-golpe/o-11-de-marco-40-anos-depois-em-entrevista-a-rtp-varela-gomes-assume-usurpacao-revolucionaria_a811101

PCP: 11 de Março de 1975

Maria Eugénia Bilnstein de Meneses Luís Sequeira Varela Gomes foi a sua companheira (e)terna, de sempre (12).


(1)Estado Novo foi o regime ditatorial que vigorou no nosso país, desde a aprovação da Constituição de 1933 e até o 25 de Abril de 1974.

(2) Protagonizada por civis e militares, a Revolta da Sé, cuja conspiração começou na Sé Patriarcal de Lisboa, paredes meias com a então Prisão do Aljube, foi impulsionada, sobretudo, por católicos progressistas. O golpe, que deveria ter acontecido na noite de 11 para 12 de Março de 1959, foi abortado pela PIDE.

(3) O Golpe de Beja teve lugar na passagem de ano de 31 de Dezembro de 1961 para 1 de Janeiro de 1962. A revolta tinha como objectivo o derrube do regime fascista a partir da tomada de assalto do Regimento de Infantaria nº 3 sediado naquela cidade alentejana.  Após o seu falhanço, o Estado Novo sentou no banco dos réus 86 antifascistas. Entre eles estava Manuel Serra, destacado dirigente da Juventude Operária Católica (JOC), que também já tinha participado na Revolta da Sé (1959) – https://www.museudoaljube.pt/doc/60-anos-da-revolta-da-se/ . Serra  protagonizou uma espectacular fuga do Hospital Curry Cabral onde se encontrava internado. Vestiu-se de padre e saiu pelo seu próprio pé da unidade hospitalar dirigindo-se depois para a Embaixada de Cuba, onde pediu asilo político. Após o 25 de Abril aderiu ao Partido Socialista (PS), a convite de Mário Soares. Apresentou, depois, uma lista à Comissão Nacional tendo perdido para Soares. Saiu do PS e fundou a Frente Socialista Popular que teve vida curta. Morreu a 1 de Fevereiro de 2010, em Setúbal.

(4) A Polícia Internacional e de Defesa da Estado (PIDE) encarregou-se de reprimir, entre 1945 e 1969, todas as formas de oposição ao regime salazarista. Depois passou a denominar-se Direcção Geral de Segurança (DGS). A PIDE/DGS foi extinta após a Revolução dos Cravos e os seus elementos presos. Muitos deles nunca foram julgados.

(5) A Legião Portuguesa era uma milícia às ordens do Estado Novo. Dependia do Ministério do Interior.

(6) Oficial do Exército, Silvino Silvério Marques (1918-2013) foi Governador de Cabo Verde e Governador de Angola. Após o 25 de Abril integrou a Junta de Salvação Nacional (JSN),  presidida por António de Spínola. A JSN manteve-se em funções até à tomada de posse do primeiro Governo Provisório a 16 de Maio de 1975. Foi extinta após o “11 de Março” de 1975.

(7) Diniz de Almeida (1944-2021) foi um dos mais destacados operacionais do Movimento dos Capitães. Comandou, no 11 de Março, a resistência do Ralis. Foi um dos cidadãos vitimados pelo COVID -19.

(8) António de Spínola (1910-1996) presidiu à Junta de Salvação Nacional. Acabou por demitir-se a 30 de Setembro de 1974, após ter entrado em choque com o Movimento dos Capitães e não ter conseguido impor o estado de sítio como pretendia. Spínola ainda apelou à “maioria silenciosa” mas perdeu em toda a linha. Exilou-se e liderou o Movimento de Libertação de Portugal (MDLP), organização de extrema-direita responsável pelos atentados bombistas que mataram militantes de esquerda. Como o padre Max e a estudante Maria de Lurdes, por exemplo. O MDLP também promoveu o assalto e às sedes do Partido Comunista, sobretudo a Norte. Spínola distinguiu-se como chefe militar e como governador militar da Guiné-Bissau. Após a seu regresso da Guiné foi convidado por Marcelo Caetano para Ministro do Ultramar mas recusou. Em Janeiro de 1974 tomou posse como vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas e em Fevereiro desse ano publicou o seu livro “Portugal e o Futuro”, que acabou por acelerar o Movimento dos Capitães. Foi demitido, em Março de 1974, por se ter solidarizado com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas,  Francisco Costa Gomes, que não compareceu ao beija-mão levado a cabo pela “brigada do reumático” ao regime marcelista.

(9) A 5ª Divisão do Estado Maior foi constituída por iniciativa de Francisco Costa Gomes em meados de 1974, que era o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas. Costa Gomes também foi responsável pela sua extinção um ano depois. A 5ª Divisão promoveu Campanhas de Dinamização Cultural e Cívica com o objectivo de dar corpo à aliança Povo-MFA.

 (10) O Comando Operacional do Continente (COPCON) foi criado pelo MFA, tendo o presidente Spínola assinado o decreto-lei. Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021) foi o seu comandante. Extinguiu-se após o 25 de Novembro.

(11) A Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas, SARL, SOREFAME, foi fundada por Ângelo Fontes. Dedicou-se ao fabrico de equipamentos hidromecânicos e a partir da década de 1950 assumiu-se como construtor de material circulante ferroviário. Após o “25 de Abril” foi palco de grande agitação social e  entrou em declínio. Acabou por ser extinta em 2001, passando a integrar a Bombardier Transportation.

(12) Maria Eugénia Varela Gomes (1925-2016) foi a (e)terna companheira do “primeiro capitão de Abril”. Corajosa assistente social foi sujeita a prisões e torturas. Esteve detida durante 18 meses em Caxias. Após a sua saída teve de criar os quatro filhos sozinha e com grandes dificuldades, pois o seu marido esteve preso durante 6 anos. Perdeu dois dos quatro filhos, cegou, mas nunca desistir de lutar e da vida. Contra Ventos e Marés, como assinala Manuela Cruzeiro, autora do livro de memórias de Eugénia Varela Gomes.  O ano de 2016 foi particularmente trágico para João Varela Gomes. O seu filho Paulo (Varela Gomes), escritor, critico de arte, professor universitário, cronista, apresentador de documentários televisivos, morreu a 30 de Abril, com cancro, e a 22 de Novembro faleceu a sua companheira. Maria Eugénia foi uma figura marcante da resistência antifascista e da solidariedade com os presos políticos.

 

Fontes consultadas: Wikipédia, RTP Ensina e blogue Antifascistas da Resistência (antifascistasdaresistência.blogspot.com)

Leave a Reply