Conde de Castelo Melhor (1636-1720)
Luís de Vasconcelos e Sousa, 3. ° Conde de Castelo Melhor, nasceu em 1636, filho de João Rodrigues de Vasconcelos e de sua mulher D. Mariana de Lencastre. O pai, depois de combater no Brasil contra os holandeses, veio para Portugal combater contra os espanhóis; e enquanto este se encontrava lutando em Salvaterra, batia-se heroicamente a mãe em Monção, chefe das mulheres que, por insuficiência da guarnição masculina, tomavam parte na defesa da vila sitiada.
O filho acompanhava-os na bravura, mas suas ambições e talentos levaram-no a preferir a carreira política à carreira das armas, e teve razão na opção, porque foi um dos governantes portugueses de maior talento político e capacidade organizadora.
A habilidade com que, no golpe de Estado que, em 21 de Junho de 1662 ele próprio aconselhou a transferência do poder da rainha-regente D. Luísa de Gusmão, para o débil e inferior Afonso VI; e, ao distribuir os poderes ministeriais pelos outros coniventes na revolução palatina, escolhendo o bispo eleito Sebastião César de Meneses e o conde de Atouguia, Jerónimo de Ataíde, e reservando para si apenas a função de secretário particular do rei (escrivão da puridade), maneira de se conservar permanentemente perto dele, de em tudo o substituir, de ser o rei efectivo, com um rei honorário a sancionar-lhe o poder, logo se patenteia de vitoriosa eficiência. E mal inicia o governo, apressa o pagamento de soldos atrasados, busca recursos, equilibra as finanças, toma a direcção suprema da guerra – e de pronto obtém a colaboração que resulta da confiança que em tal direcção, procedendo como procedia, é normal que se ganhe. As velhas intrigas entre os generais fizeram tréguas e a convergência do esforço patriótico foi de eficácia, sem demora tornada evidente.
D. João de Áustria, bastardo de Filipe IV, a 7 do mês anterior ao do golpe de Estado, iniciara nova campanha na fronteira do Alentejo com um exército de 14 000 homens.
O Marquês de Marialva não tinha força superior a metade da força espanhola, e este facto e o próprio prestígio com que queria compensar a mancha da bastardia deram-lhe ímpeto atordoador.
Tomando D. Afonso VI posse do reino e começando o conde de Castelo Melhor a exercer o seu omnipotente ministério, o marquês de Marialva perdeu muito no régio valimento; deixou o governo das armas no Alentejo, sendo substituído por D. Sancho Manuel, que fora agraciado com o título de conde de Vila Flor.
No meio de tantas desgraças e tristezas foi o governo do reino entregue ao conde de Castelo Melhor, que da sua inteligência e actividade deu as melhores provas. Por carta de 12 de Julho de 1662, nomeou-o el-rei escrivão da puridade, com absoluto poder de governar o reino.
Castelo Melhor demitiu Marialva de governador da Estremadura, alijou os dois ministros que, se não eram traidores à Pátria, lhe eram pelo menos inúteis, e, declarando-a em perigo, evidenciou a necessidade de soldados que a defendessem. Logo uma multidão entusiástica de voluntários se fez incorporar no exército, cheia de confiança no chefe que com tais demissões a havia conquistado, parecendo-lhe feito em obediência a seus clamores o que ele fazia em seu próprio interesse político.
Apesar do seu claro espírito, que nos últimos lances da guerra mostrara grandes qualidades de homem de governo, o conde de Castelo Melhor ou se deixou cegar pela vertigem do poder ilimitado ou não soube preservar-se da rede de intrigas que se tecia na corte. Como tinha inimigos, estes atribuíam-lhe a responsabilidade dos desatinos de el-rei e dos escândalos que eram do domínio público.
Em caso nenhum podia o infante D. Pedro desinteressar-se do mau caminho que levavam os negócios da corte; solicitavam a sua atenção as conveniências do reino, a defesa do prestígio da família e do seu próprio interesse pessoal, como herdeiro da Coroa. Era natural que tivesse má vontade ao conde de Castelo Melhor, que, com o seu poder ilimitado, mantinha o equívoco da fictícia autoridade de D. Afonso, sem dar remédio às quebras do prestígio real que escandalizavam toda a gente. Pela sua parte, o conde de Castelo Melhor não perdoaria ao infante o perigo de uma intervenção que o derribasse.
No princípio de Setembro de 1667 queixou-se o infante D. Pedro a el-rei de que o conde de Castelo Melhor atentava contra a vida dele, infante, e projectara dar-lhe veneno. Ou fosse intriga forjada, mera suspeita ou informação verdadeira, a queixa era formulada em termos enérgicos, e foi repetida quando no Conselho de Estado se pretendeu escurecer a importância do caso. Divulgando-se a notícia da queixa e do objecto dela, engrossou a corrente de ódios que entre nobres e populares havia contra o conde. Finalmente, não podendo el-rei sustentar o valido, em 9 de Setembro de 1667, à noite, chamou-o e disse-lhe que se retirasse da corte, aguardando melhores dias. O mais breve que pôde preparou o conde de Castelo Melhor a sua viagem; no dia 11, às duas horas depois da meia-noite, saiu para Torres Vedras, e recolheu-se em um mosteiro de arrábidos, situado a meia légua daquela vila.
Com a retirada do conde não melhoraram os negócios, pois subsistia a causa principal da desorientação.
O golpe de Estado que lhe arranca o poder, destituindo do trono o débil monarca que lho condicionara e sancionara, obriga-o a exilar-se para a Inglaterra, onde, apesar dos despeitos, presta serviços a D. Catarina, irmã de Afonso VI, e à própria Pátria. Regressa a pedido dela a Portugal, em 1683, indo residir para a sua comenda de Pombal. No reinado de D. João V é de novo chamado ao Conselho de Estado, onde se conservou até 1720 em que a morte lhe deu a paz definitiva.
Faleceu a 15 de Agosto de 1720, com oitenta e quatro anos de idade.
A seguir: Luís da Cunha