HORIZONTE CARREGADO NO GOLFO PÉRSICO – por Pedro Pezarat Correia

 

 

GIRO DO HORIZONTE

 

 

 

 

 

 

Pedro de Pezarat Correia, oficial general na reserva e professor universitário, às segundas-feiras, pelas 21 horas, virá falar dos temas que perscrutar no horizonte. O tema com que inicia a sua colaboração no nosso blogue é inquietante, preocupante – a possibilidade de um terceiro conflito mundial estar iminente. Cõmo diz, é um tema para reflexão.

 

 

 

Este vídeo que apresentamos no “GIRO DO HORIZONTE” (a partir de agora GDH), é uma peça preocupante. Pelo seu conteúdo e porque não assenta num discurso especulativo, sensacionalista, demagógico mas, pelo contrário, seriamente pragmático e racionalmente prospectivo, na medida em que procura prevenir o presente com base em cenários previsíveis.

 

Condensa um conjunto de questões de grande actualidade que traremos com frequência ao GDH. Eis algumas que podem desde já suscitar expectativas e reacções:

  • Com inquietante perplexidade assiste-se à recuperação de pretextos para repetir, no Irão, a criminosa agressão ao Iraque em 2003 que, para além da calamidade humanitária se saldou num desastre estratégico para os invasores: mesmos interesses, sionismo, petróleo, nuclear; mesmos actores, EUA, GB, Israel; mesmos métodos, fraudes, mentiras, diabolização do outro; mesmo desfecho, guerra preventiva de agressão sem cobertura da ONU.
  • A arma nuclear (AN) é um pretexto maquiavélico: não há provas de que o Irão persiga um programa de armamento nuclear em violação do Tratado de Não-Proliferação (TNP) e ainda que seja esse o seu objectivo a longo prazo, foge-se ao essencial da questão ignorando Israel enquanto potência nuclear (PN); o proliferador nuclear no Médio Oriente (MO) não é o Irão, nem foi o Iraque, foi Israel, a primeira (e até hoje única) potência regional a dotar-se de AN, aliás com o apoio de PN ocidentais; e é de enorme cinismo a invocação do TNP por parte das PN membros permanentes do CS/ONU (EUA, GB, França, Rússia e RPC) que elas próprias não cumprem na parte que lhes respeita.
  • O recente discurso do presidente Obama no Congresso dos EUA sobre o estado da nação foi decepcionante quando referiu o problema nuclear do Irão, deixando cair as esperanças de que fora portador no seu discurso de Praga de 5 de Abril de 2009, ao colocar a questão nos únicos termos em que pode ser equacionado: respeito total do TNP quer por estados-possuidores quer por não-possuidores.
  • Em 2003 o projecto anunciado pelos EUA começava pelo Iraque, prosseguiria pela Síria e terminaria no Irão: foi o trágico fracasso no Iraque que interrompeu esse projecto; Obama, que tanto condenou esta estratégia de W. Bush, parece agora apostado em prossegui-la.
  • Obama, como os seus antecessores, está refém do loby sionista norte-americano e da estratégia de Israel no MO, que condiciona em absoluto a política dos EUA naquela região: acumulam-se sinais de grande preocupação de Israel perante o desenvolvimento das revoluções no mundo árabe, que tendem a conferir “legitimidade democrática” (segundo os padrões ocidentais) ao apoio árabe à causa palestiniana; por isso Israel e os EUA têm pressa e querem antecipar-se, mudando o mosaico político no Golfo, o falhado projecto de 2003, por forma a neutralizar previsíveis efeitos das revoluções árabes.

 

Há aqui imensa matéria para reflexão.

 

4 Comments

  1. Gostei muito do seu artigo, venham mais.Tem várias coisa que admiro: é sucuinto, é claro e chama “as coisas” pelo seu nome, sem rodeios.Parabens,Octopus

  2. Estimado Pezarat CorreiaDe pleno acordo com tudo o que diz. Não há fábula mais transversal a toda a história do que a do “lobo e do cordeiro”. Simplesmente, o cordeiro é hoje o mundo inteiro, muito longe do inocente e ingénuo cordeiro da fábula. Mas eles continuam a fazer do mundo um cordeiro tolo e parvo, com todo o descaramento, com todas as mentiras, com todo o cinismo, sem a menor ponta de vergonha na cara, subvertendo todos os princípios do Direito, da Ética e da Moral. Dentro desta gente a dignidade desapareceu e o coração não passa de um escorpião, sem ofensa para o escorpião.

  3. Boa noite, Pezarat Correia. Permita-me que o cumprimente, já que ainda não tenho o prazer de o conhecer, e que lhe ponha duas questões, em termos de um futuro próximo:1) Um eventual vitória republicana nas eleições norte-americanas agravará os riscos para a paz, no Médio Oriente, ou noutros lados do mundo?2) As questões que actualmente afectam a UE, apresentadas habitualmente sob as suas implicações económicas, não poderão derivar para conflitos políticos mais graves entre as principais potências europeias?

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