O problema da UE é essencialmente político. Nos seus órgãos centrais sente-se excessivamente o peso da Alemanha e da França. A reunificação alemã agravou consideravelmente o desequilíbrio entre os países do norte e do sul da Europa, que já existia anteriormente, mas que se agravou consideravelmente desde então. O grande peso político da Alemanha ajudou-a inclusive na trocas económicas e nas manobras financeiras. Quem não percebe que o caso dos submarinos vendidos a Portugal, pagos praticamente a pronto, não se resumiu a um simples caso de corrupção, mas do que isso, tem na sua essência um problema de influência política de um país poderoso sobre outro.
Ontem no Público, Rui Tavares descreveu a visita do primeiro-ministro italiano Mario Monti ao Parlamento Europeu (PE). Ali referiu que o euro se está a tornar num factor de divisão dos europeus, repudiando a divisão entre países centrais e países periféricos, e lembrou que a França e a Alemanha foram os primeiros países a quebrar o pacto de estabilidade e crescimento, ultrapassando os limites ao défice. Rui Tavares recorda a péssima gestão da chamado crise do euro, e as responsabilidades a este respeito de Merkel e Sarkozy.
Mário Monti defendeu várias outras coisas no PE. Uma delas foi a necessidade do investimento público para o crescimento económico. E que sem este a reforma fiscal será em vão. Mostrou querer romper activamente o duopólio franco-alemão. O futuro dirá se esta intervenção terá seguimento.
Será de acrescentar que o problema europeu, e o de outras partes do mundo, não terá uma evolução favorável sem o controlo dos mercados, para que estes aceitem obedecer a regras. Ainda ontem mais outra notação da Fitch deu novo empurrão à Grécia no caminho para a falência. É inegável que se trata de um fenómeno que vai ter repercussões em toda a Europa e no resto do mundo.