DIÁRIO DE BORDO, 23 de Fevereiro de 2012

 

Parece que os países europeus vão ter de entregar ao FMI (esta sigla agora deve ser interpretada assim: Influential Monied Friends ou seja Amigos Influentes Endinheirados) uma soma considerável, como 200 mil milhões, para financiar os empréstimos que aquele organismo vai fazendo de volta aos países europeus. Portanto os europeus andam a emprestar dinheiro a si próprios, com o FMI de permeio, a receber uns juros, uns pagamentos sumptuosos pelos pareceres e pelas visitas dos técnicos, etc. Não deve faltar quem ache que estão a fazer figura de parvos, e a atirar dinheiro pela janela. Leiam a excelente análise de Satyajit Das, que ontem às 13 horas começou a sair aqui no nosso blogue, e estende-se até sábado à mesma hora.


O problema da UE é essencialmente político. Nos seus órgãos centrais sente-se excessivamente o peso da Alemanha e da França. A reunificação alemã agravou consideravelmente o desequilíbrio entre os países do norte e do sul da Europa, que já existia anteriormente, mas que se agravou consideravelmente desde então. O grande peso político da Alemanha ajudou-a inclusive na trocas económicas e nas manobras financeiras. Quem não percebe que o caso dos submarinos vendidos a Portugal, pagos praticamente a pronto, não se resumiu a um simples caso de corrupção, mas do que isso, tem na sua essência um problema de influência política de um país poderoso sobre outro.


Ontem no Público, Rui Tavares descreveu a visita do primeiro-ministro italiano Mario Monti ao Parlamento Europeu (PE). Ali referiu que o euro se está a tornar num factor de divisão dos europeus, repudiando a divisão entre países centrais e países periféricos, e lembrou que a França e a Alemanha foram os primeiros países a quebrar o pacto de estabilidade e crescimento, ultrapassando os limites ao défice. Rui Tavares recorda a péssima gestão da chamado crise do euro, e as responsabilidades a este respeito de Merkel e Sarkozy.


Mário Monti defendeu várias outras coisas no PE. Uma delas foi a necessidade do investimento público para o crescimento económico. E que sem este a reforma fiscal será em vão. Mostrou  querer  romper activamente  o duopólio franco-alemão. O futuro dirá se esta intervenção terá seguimento.


Será de acrescentar que o problema europeu, e o de outras partes do mundo, não terá uma evolução favorável sem o controlo dos mercados, para que estes aceitem obedecer a regras. Ainda ontem mais outra notação da Fitch deu novo empurrão à Grécia no caminho para a falência. É inegável que se trata de um fenómeno que vai ter repercussões em toda a Europa e no resto do mundo.

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