DIÁRIO DE BORDO, 26 de Fevereiro de 2012

 

Aqui ao lado, Mariano Rajoy anda a negociar com a UE a subida do limite imposto ao défice orçamental.  Em 2011 o défice orçamental espanhol foi 8% do PIB. A UE quer que em 2012 desça para 4 e tal %. Rajoy pretende convencer Bruxelas a deixar o défice ir para mais de 5%. Tem a taxa de desemprego mais alta da Europa, uma população que mais que quadruplica a portuguesa, o PIB seis vezes maior, e tem de fazer aceitar as reformas pelas  várias nações que a Espanha tem sob a sua alçada, sob o nome redutor de autonomias. Não tem, é verdade, o Alberto João Jardim, o que é uma vantagem. Contudo ao fim de dois meses, já tinha percebido, que não podia andar a fazer tudo o que Bruxelas (ou a Senhora Merkel) quer. Convém não esquecer que é da mesma área política que Passos Coelho. Mas não tem de modo nenhum o estilo exagerado de Aznar, nem é um pau-mandado como o nosso primeiro. O que aponta realmente para outro estilo de política. Para já Rajoy, em conjunto com Cameron, Mario Monti  e outros nove primeiro ministros europeus, assinou o documento a propor que na próxima cimeira europeia se discuta o crescimento económico, atribuindo-lhe prioridade sobre a austeridade.


É importante acompanhar o que se vai passando em Espanha. A geografia impõe a Portugal uma grande dependência de Espanha. As vicissitudes históricas não ocultam esse facto. Aliás, é essa dependência que melhor justifica o acompanhamento sistemático às lutas  e movimentos das várias nações ibéricas no sentido da autonomia e da independência. Mas também justifica o acompanhamento e compreensão da evolução da economia e da sociedade em Espanha. Que a nossa vizinha recebe um grande número de imigrantes da América Latina  e de África, que tem um movimento bem mais poderoso e maduro que o nosso, uma legislação laboral que defende melhor os trabalhadores, são questões que devemos acompanhar de perto. Não para seguirmos de bom grado as sugestões de Passos Coelho e da sua troupe de emigrarmos, mas para haver uma referência próxima.


Uma comparação interessante será a que respeita às remunerações dos gestores públicos. Segundo o El País de sábado, dia 18 de Fevereiro, estará em preparação pelo governo uma norma que vai limitar o seu salário base a 105 000 euros por ano. Será uma redução média entre 25 e 35 por cento. O número de conselheiros em cada empresa também vai ser limitado. Parece que a nova lei vai ter escapatórias para os gestores poderem ter recebimentos extra, mas há que reconhecer que, neste capítulo, os espanhóis andaram mais depressa do que o governo português. Quase de certeza que também há Catrogas por lá… Entretanto o governo de Rajoy não tem hesitado em defender reformas do tempo de Zapatero perante os investidores.


A análise comparativa com Espanha é sem dúvida um exercício muito limitado. Os graves problemas contemporâneos requerem sem dúvida soluções mais profundas e mais drásticas, em sentido completamente oposto do das que foram postas agora em prática nos dois países. Contudo, a análise comparativa põe em evidência as graves limitações das medidas tomadas neste jardim (nada de confusões!) à beira mar plantado.

 

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