Fontes da CIA citadas pelo New York Times revelam que afinal o Irão está muito longe de ter condições para produzir a bomba atómica e não terá sequer tomado a decisão de a tentar obter ou não.
Ora aqui está uma novidade que não tem merecido o devido relevo porque poderia baixar o nível de tensão numa região onde ela existe de sobra. Diz ainda o jornal que a informação não escorre de fontes inquinadas porque é compartilhada até pelo secretário da Defesa, o senhor Panetta, que aliás foi, até há pouco, o chefe da própria CIA. Não há razões para duvidar destes factos. Há muito que cientistas conhecedores da situação garantem que o Irão está a mais de dez anos de conseguir a arma nuclear, se acaso esse é um dos objectivos da República Islâmica.
As informações do New York Times e as confirmações oficiais nela implícitas deixam a nu, por outro lado, a falta de credibilidade de que goza a Agência Internacional de Energia Atómica, a qual, mais papista que o papa, declarou ao mesmo tempo que são cada vez maiores os riscos de o Irão se tornar uma potência nuclear. Tudo isto porque a delegação que há dias se deslocou a Teerão não foi autorizada a visitar uma base militar que já sabia não estar incluída no programa da viagem. Pelos vistos, os membros da delegação esqueceram-se de se actualizar com as mais recentes opiniões norte-americanas.
Qual a razão para o golpe de rins de Washington soprado para o jornal normalmente bem informado sobre os meandros governamentais? O próprio New York Times dá-nos a resposta: tentar convencer Israel a não atacar já o Irão, como pretende o governo de Benjamin Netanyahu. Ao que parece, Israel comunga de parte das dúvidas de Washington em relação ao acesso iraniano à bomba nuclear, mas diverge numa questão que considera de fundo: o prazo para atingir o objectivo é mais curto do que o calculado por Washington. Daí que, para Netanyahu, Barak e todos quantos fazem da guerra a política israelita, seja necessário extirpar imediatamente o mal pela raiz.
Nos últimos dias têm-se acumulado sinais de que a Administração Obama e o Pentágono não estão interessados, de momento, em novas intervenções militares no Médio Oriente. A reunião realizada na Tunísia do chamado “grupo de amigos da Síria”, patrocinado pelos Estados Unidos e a França para apoiar parte da oposição que consideram da sua confiança, revelou esse estado de espírito. Enquanto as ditaduras sangrentas do Golfo defenderam a intervenção militar externa para derrubar a ditadura sangrenta da Síria e outros países sugeriram soluções intermédias como o cessar-fogo e a criação de corredores humanitários, a senhora Clinton depositou dez milhões de dólares em cima da mesa destinados ao Conselho Nacional de Transição, ao que parece a oposição única na Síria mas que só nasceu no Verão passado. O qual se confessou imediatamente desiludido, embora não haja notícia de que tenha devolvido a maquia. Durante as últimas semanas os estrategos de Washington terão avaliado com mais pormenor o cenário de uma eventual invasão da Síria, analisando-o a par da questão iraniana, e recuaram. A nova posição norte-americana considera indesejável uma intervenção militar na Síria, daí a nova versão sobre as intenções nucleares do Irão procurando convencer Israel a conter-se. Porque, por outro lado, um ataque israelita contra o Irão iria interferir igualmente na situação síria – e libanesa, claro. Por este caminho a guerra generalizada no Médio Oriente seria um cenário praticamente inevitável.
Estamos pois em condições de perceber mais uma vez como somos joguetes de operações de propaganda assentes na mentira e na irresponsabilidade de dirigentes mundiais incapazes de pensar noutras coisas que não sejam os seus interesses imediatos, continuando a ignorar os rios de sangue humano que correm sem parar. Por exemplo, o que parecia ser há uma verdade irrefutável, a produção a curto prazo da bomba atómica pelo Irão, tornou-se uma hipótese a prazo, que nem sequer está confirmada.
Só que Israel, sabendo que pode esticar a corda à sua vontade, mantém a ideia de atacar o Irão o mais rapidamente possível. Daí que o Pentágono, contra a sua vontade neste momento e não desejando, para já, mais guerras no Médio Oriente, decidiu que, apesar disso, tem de acelerar os preparativos bélicos para não deixar que o governo de Netanyahu se arrisque sozinho na aventura.
Entre tantas mentiras e a manipuladora falsidade da propaganda há uma realidade, aterradora, que se afirma cada vez mais na cena internacional. Os delírios persecutórios e as loucuras belicistas da extrema direita e do fundamentalismo religioso de Israel estão a conseguir rebocar o mundo a caminho de uma tragédia de proporções incalculáveis e que fará correr ainda muito mais sangue.