Ethel Feldman Trapezista
(Adão Cruz)
“Quando pensamos que ter encontrado a forma de amar, de observar ou de lembrar alguém, já tudo mudou.” ( PeggyPhelan)
Dou um passo em falso, ouço o público suspenso no medo. De ponta-cabeça vejo as cabeças, brinco de roda – volto a subir. Agradeço os aplausos daqueles que fazem da vida – assistir. No dia que caí desamparada, fiz do meu corpo envergonhado foto de revista, conversa de festa.
Fiquei, pedaços feito um quebra-cabeças.
Na tasca da esquina, o operário bebe.Arrota e fala do sangue que viu no chão. No bar, a mulher de boca pintada grita excitada que nunca tinha presenciado semelhante desgraça. Segreda ao companheiro vestido de preto como era intenso o vermelho.
A velha, a criança, o pobre e o rico – todos viram.
Na minha terra todos gostam de circo. A notícia acontece quando o elefante enlouquece ou a trapezista vira tomate.
Quando penso que encontrei a vida, já tudo mudou. Quero guardar na memória o fulgor daquele vermelho – o manto que expiou a minha dor.
O bailarino cantou a morte do cisne num grito sem som. Esticou-se no palco. O cisne dançou a morte de quem o cantou.
Se o tempo parasse no tempo. Já tudo mudou.
Gosto muito deste conto, Ethel. Continua.
Muito obrigada, Augusta.Até eu já gosto (risos)beijinhosEthel
Ahahaha! Então, é bom gostarmos do que fazemos. Um beijinho
no dia mundial da poesiaencontrei na gavetauma que diziaalgo raro mas que nãoprovocou em mimespecial reação.Tinha sido escritaem tinta pretae o papel ruimmostrava o tempoque tinha decorrido.mas o raro eraque falava de algummenino que contraa árvore pedrasatirava. No seas tan malo,dizia, que te ha hechoese arbol para que o trates assim?Continuava a poesiafalandodo caso da arvoree do meninopor 82 versos mais.Estava, o poema encontrado na gaveta,assinado por um tal nicanor parra.Fechei a gaveta.