Diário de bordo de 2 de Abril de 2012

Durante o debate quinzenal com o Governo no Parlamento., na passada sexta-feira, o líder do Partido Socialista, António José Seguro, acusou o primeiro-ministro, Passos Coelho, de ter sido «lento» a tomar a «decisão fundamental» do pagamento de dívidas do Estado, mas «rápido na propaganda». Na resposta, o primeiro-ministro afirmou que os documentos em causa são públicos. Para o secretário-geral socialista, «não nenhuma novidade no pagamento de dívidas, a única novidade é o atraso» ( …) «O senhor primeiro-ministro há quatro meses que falou que ia tomar essa iniciativa, fê-lo em Setembro, falando em dois mil milhões, fê-lo em Dezembro, falando em 3 mil milhões e, agora, no Orçamento do Estado, pelo menos em despesa directa estão lá mil e 500 milhões», etc.

 

A discussão decorreu num clima morno, frouxo entre um primeiro-ministro com ar pesporrente, de dedo em riste dizendo banalidades e um líder do maior partido da oposição, com um sorriso onde impera um evidente défice de convicção, debitando acusações que soam falso. Aplausos ou vaias sussurradas rotineiras. Da bancada do PCP ou do BE, lá vêm palavras mais bem organizadas. Por exemplo, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã fogem à mediocridade geral. Mas o saldo é negativo.

 

No princípio do século XX, o valor da palavra era elevado. De uma forma geral, os políticos para ter êxito, tinham de usar a palavra com sabedoria. A expressão «grande demagogo» era elogiosa e incorporava o conceito de bom orador. É provável que com a elevada taxa de analfabetismo existente nessa altura em Portugal (cerca de 80% da população), os critérios de avaliação fossem diferentes. Em todo o caso, há registo de valiosas intervenções políticas de homens como Afonso Costa, António José de Almeida, Bernardino Machado, Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, entre muitos outros. As chamadas “peças de oratória”.

 

Hoje, com índices de literacia muito mais elevados, não podemos deixar de salientar uma generalizada baixíssima qualidade do discurso político dos oradores dos principais partidos. É um espectáculo pago por nós – muito bem pago – não é aceitável que os actores sejam de tão má qualidade. Sobretudo os dois maiores partidos, estão submersos por uma massa amorfa de carreiristas sem brilho. Ao menos que soubessem falar.

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