OS MEUS MESTRES – 7 – por Dorindo Carvalho

 

 

Não sei se parece estranho de, nem na minha exposição Os Meus Mestres, nem nestes textos, tenha aparecido uma figura que tivesse sido meu professor no meu curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio.

 

O título que dei à exposição foi exactamente por considerar nunca ter tido um professor nas disciplinas de desenho ou de pintura que me influenciasse ou me tivesse deixado «marcas».

 

O que já não aconteceu noutra disciplina: Física e Química. Claro que não fui influenciado pela matéria ensinada, ou melhor aprendida, por isso não segui essa área de estudo.

 

O que me deixou impressionado no professor dessa disciplina foi o seu modo, a atitude, a inteligência e acima de tudo foi a sua referência moral e cívica. Homem de uma simplicidade contagiante, própria das pessoas sábias e com enorme vontade de aprender em tudo e com todos.

 

Era um professor jovem que se tinha licenciado há pouco tempo em Ciências Físico-Químicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

 

 

 

 

Depois de terminado meu curso (1958) poucas vezes o encontrei e sempre casualmente. Não tive largas conversas com ele, nunca realizei uma capa para qualquer livro da vasta obra que publicou, mas a minha admiração por ele sempre se manteve e aumentou. Passados os anos essa afeição justificava-se. Não era eu só, por algo muito pessoal, que o considerava. Seguindo a sua carreira, fui-me inteirando que a consideração era geral. Um MESTRE. Este meu escrito não tem pretensões a ser uma homenagem. Ele teve várias e grandes e respeitadas homenagens, no entanto creio (e não sou só eu), não teve as homenagens e principalmente o reconhecimento que lhe é devido e merecido.

 

Fernando Bragança Gil, para além de ter concebido e promovido a criação do Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, tendo sido o seu primeiro Director, teve uma vida profundamente preenchida e totalmente dedicada à cultura e à educação. Licenciou-se em Ciências Físico-Químicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e doutorou-se em Física pela Universidade de Paris e pela Universidade de Lisboa. Foi investigador e professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e um dos fundadores do seu Centro de Física Nuclear. Publicou uma extensa obra, cobrindo as áreas da física, física aplicada, ensino superior, divulgação da ciência, história da ciência, museus e museologia.

 

Fernando Bragança Gil (1927-2009), era professor jubilado de Física da Universidade de Lisboa foi um cientista e um divulgador de renome internacional. Chefiou a missão portuguesa à II Conferência Internacional das Nações Unidas sobre a utilização pacífica da energia atómica e integrou a direcção do ECSITE, European Network of Science Centers and Museums. Introduziu em Portugal a espectroscopia nuclear após o seu regresso do Institut de Physique Nucléaire da Universidade de Paris, orientou e participou em inúmeros projectos de investigação aplicada, júris e teses de mestrado e doutoramento. Participou em múltiplas conferências e seminários em prole da literacia científica, muito particularmente entre a juventude e os professores. Foi co-fundador da Associação dos Museus e Centros de Ciência de Portugal.

 

Mas muito para além do Professor Fernando Bragança Gil ter sido um cientista de desmedido mérito, foi um Homem bom, dedicado e amigo de partilhar saberes. Um MESTRE.

Leave a Reply