Júnior Nascimento A beleza e a simplicidade
(pormenor dum jardim)
texto enviado por Adão Cruz
Tudo o que é belo tende a ser simples. Afirmação generalizante? Não sei. O que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade.Basta observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. Vida que se ocupa de ser só o que é. Não há conflito nas bromélias,não há angústia nas rosas, nem ansiedades nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem do viço quando é chegada a hora. São simples. Não querem outra coisa, senão a necessidade de cada instante. Não há desperdício de forças, nem dispersão de energias. Tudo concorre para a realização do instante. Acolhem a chuva que chega e dela extraem o essencial. Recebem o sol e o vento, e morrem ao seu tempo.
Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade. A semente é simples, porque não se perde na tentativa de ser outra coisa. É o que é. Não desperdiça seu tempo querendo ser flor antes da hora. Cumpre o ritual de existir, compreendendo-se em cada etapa. Já dizia o poeta: “Simplicidade é querer uma coisa só.” O muito querer nos deixa complexos. Queremos muito ao mesmo tempo e nos perdemos no emaranhado dos desejos. Há o risco de que não fiquemos com nada, de que percamos tudo. Quem muito quer corre o risco de nada ter: empenho e cuidado é que fazem a realidade permanecer. O simples anda leve. Carrega menos bagagem e reserva energias para apreciar a paisagem. O que viaja pesado corre o risco de gastá-las no transporte das malas. Preso, não pode andar pelo aeroporto, fica privado de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que trouxe.
Simplicidade é forma de leveza que faz a diferença nas relações humanas. O que a cultiva tem a facilidade de tornar leve o ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua atenção no acidental e prende os olhos no que vale a pena, verdadeiramente. Pessoas simples são as que se encantam com as coisas menores. Sabem sorrir ante presentes simbólicos e sem muito valor material. Percebem que nem tudo precisa ser útil. E por isso é fácil presentear o simples. Dar presentes aos complicados é um desafio. Não sabemos o que gostam, só na simplicidade é possível conhecer alguém. Se as máscaras caem e os papéis são abandonados a gente pode descobrir o outro na sua verdade.
Gostaria de me livrar de meus pesos, ser mais leve, mais simples. Querer uma coisa só de cada vez. Abandonar os inúmeros projectos futuros que me cegam para a necessidade do momento e que valem a pena se forem simples, concretos e aplicáveis. Não gostaria que a morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até para morrer os simples têm mais facilidade. Sentem que chegou a hora, se entregam ao último suspiro e se vão. Tenho uma intuição de que quando eu simplificar a minha vida, a felicidade chegará em minha casa, quando eu menos esperar.
Júnior Nascimento São Pauto * Brasil