DIÁRIO DE BORDO, 9 de Abril de 2012

 

Ao nível mundial, continuam a aparecer focos de tensão. Na África, na zona subsariana, parece desenhar-se um conflito alargado, com várias componentes: a racial, a religiosa, a económica. Ainda não sararam as feridas da cisão no Sudão, e já rebentam novos conflitos no Mali e na Nigéria. A Somália vê a sua situação agravar-se. No Médio Oriente não se vê o fim da guerra na Síria, os palestinianos continuam a ser esmagados pelo buldózer israelita, o Iraque está à beira de se dividir, as ameaças contra o Irão continuam. A Primavera Árabe pareceu promissora, mas não está a dar resultados favoráveis aos povos interessados. Os gravíssimos erros cometidos na Líbia ameaçam repetir-se noutros lados. No Afeganistão continua a guerra, alimentada pela ambição americana de domínio mundial, pelo tráfego do ópio e pelo fanatismo religioso. No Oriente, a Coreia do Norte continua a jogar com armas atómicas. A China parece ver o seu crescimento económico abrandar, e aumenta a sua força militar. A Índia e o Paquistão continuam frente a frente, espreitando-se em Caxemira, e não só. Não se pode excluir o rebentar de tensões entre a China e a Rússia, na Sibéria e na Mongólia, ou na Ásia Central.


Na Europa, os Balcãs continuam em tensão, mas talvez a adesão da Sérvia à União Europeia (UE) ajude, pelo menos por algum tempo, a acalmar os ânimos. Contudo, o problema do Kosovo continua em aberto, e a rejeição da entrada da Turquia na UE terá sido um erro cujos resultados poderão vir a pesar na estabilidade de toda a região. A questão de Chipre não está resolvida. E o problema do escudo antimíssil na Europa Oriental promete voltar à cena, vide o recente episódio entre Obama e Medvedev. É óbvio que em termos de política internacional os responsáveis políticos europeus tendem a manter-se sob a hegemonia americana (não é só o Reino Unido), e não vão procurar uma aproximação maior com a Rússia.


Mas o problema maior da Europa é a questão económica. Nem os defensores do aprofundamento da unificação europeia no curto prazo nem os eurocépticos conseguem estar optimistas neste capítulo. O peso dos interesses financeiros sobre a economia e  a vida  dos países europeus é cada vez maior, e os estados nacionais não parecem capazes de lhe resistir, como se vê pelo problema da dívida soberana, e pela imposição de  taxas de juro exorbitantes pelos bancos e pelas instâncias internacionais, incluindo as europeias.  Não será errado recordar aqui que Servan-Schreiber, no Desafio Americano, há mais de quarenta anos, já tinha referido a facilidade com que as multinacionais, na sua maioria de origem norte-americana, tiravam partido dos mecanismos comunitários, muito melhor que os estados e empresas europeias. E que a tão festejada (na altura) reunificação alemã também criou desequilíbrios cuja solução não se entrevê. O predomínio de governos de direita, defensores da diminuição do papel de Estado, não por preocupações democráticas, mas para favorecer o chamado liberalismo económico, completou o cenário pantanoso em que estamos atolados.


O curioso episódio que refere o argonauta Júlio Marques Mota na segunda adenda ao postal que não chegou a enviar ao Presidente da Comissão Europeia Durão Barroso (ver no nosso blogue  já a seguir às 13 horas), ilustra bem a situação. Três inspectores alemães, trabalhando num caso de fuga aos impostos de contribuintes alemães, foram à Suíça e procuraram reunir elementos sobre alguns acusados nesse caso, que teriam colocado ali os seus dinheiros. Acabaram a levar com um processo por terem adquirido um CD com alguns desses elementos. Os funcionários do fisco alemão até estão a evitar ir passar férias à Suíça, para não correrem o risco de uma detenção.

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