2012, o ano do Juízo Final – 1 – por James Petras

James Petras (Boston, 1937) é um sociólogo norte-americano conhecido pelos seus

 estudos sobre o imperialismo e a luta de classes. Analisou também nos seus ensaios os conflitos na América Latina. Fez parte do corpo docente da Binghamton University, de Nova Iorque, da Universidade da Pensilvãnia e da Saint Mary’s University, de Halifax (Canadá). Este texto é, com a devida vénia, transcrito do Diário Liberdade, blogue galego de Santiago de Compostela, mas voltado para o mundo lusófono. Dividimo-lo em duas partes, sendo a segunda e última publicada já a seguir,  às 21:00.

 

 

Introdução

 

A perspectiva social, política e económica para 2012 é extremamente negativa.

 

O consenso quase universal, inclusive entre os economistas ortodoxos convencionais, é pessimista relativamente à economia mundial. Embora inclusive aqui suas predições subestimem o alcance e a profundidade da crise, há poderosas razões para pensar que 2012 será o princípio de um declínio maior que o experimentado durante a Grande Recessão de 2008 a 2009. Com menos recursos, maior dívida e uma crescente resistência popular a salvar o sistema capitalista, os governos não podem resgatar o sistema.

 

 

Muitas das grandes instituições e meios económicos responsáveis pela expansão capitalista regional e mundial durante as últimas três décadas estão em processo de desintegração e desordem. Os anteriores motores económicos da expansão global, Estados Unidos e a União Europeia , esgotaram as suas potencialidades e estão em claro declínio. Os novos centros de crescimento -China, Índia, Brasil e Rússia- que durante uma “curta década” proporcionaram um novo impulso ao crescimento mundial, percorreram todo o trajecto possível e agora encontram-se em rápida desaceleração, o que continuará durante o ano novo.

 

O colapso da União Europeia

 

Concretamente, a destruição causada pela crise na União Europeia virá a quebrar e sua estrutura de facto de complexos níveis  converter-se-á numa série de acordos bilaterais/multilaterais de comércio e investimento. Alemanha, França, os Países Baixos e Escandinavos tentarão aguentar a depressão. Inglaterra, em concreto a City, esplendidamente isolada, afundar-se-á num crescimento negativo e os seus financeiros lutarão por encontrar novas oportunidades de especulação entre os Estados petroleiros do Golfo e outros “nichos”. A Europa central e do Leste, designadamente a Polónia e a República Checa, fortalecerão os seus vínculos com a Alemanha, mas padecerão as consequências do declínio geral dos mercados mundiais. A Europa do sul (Grécia, Estado espanhol, Portugal e Itália) entrará em depressão à medida que os pagamentos em massa da dívida com que se denfrontam mediante as agressões selvagens aos salários e as prestações sociais reduzem a procura dos consumidores.

 

O desemprego, que se encontra em níveis de depressão, e o subemprego que afecta um terço da força de trabalho detonarão conflitos sociais que durarão boa parte do ano e se transformarão em levantamentos populares. Com o tempo, a desintegração da União Europeia é inevitável. Vão ser repostas as moedas nacionais em lugar do euro, o que permitiria a desvalorização e o proteccionismo. O nacionalismo estará na ordem do dia. Os empréstimos concedidos aos países do sul pelos bancos da Alemanha, França e Suíça serão objecto de grandes perdas. Serão necessa´rios importantes resgates, o que polarizará as maiorias que pagam impostos e os banqueiros na Alemanha e França. A militancia sindical e o pseudo “populismo” direitista (neofascismo) intensificarão as lutas nacionais e de classes.

 

É menos provável que uma Europa polarizada, fragmentada e deprimida se una a uma aventura militar estadunidense inspirada pelos sionistas contra o Irão (ou inclusive a Síria). Uma Europa assediada pela crise se oporá à atitude de confrontação de Washington contra a Rússia e a China.

 

Estados Unidos: a recessão volta com vingança

 

A economia norte-americana sofrerá as consequências de seu grande défice fiscal e não poderá sair da recessão mundial de 2012 mediante a despesa. Também não poderá ultrapassar o crescimento negativo mediante a exportação para a Ásia anteriormente dinâmica, porque a China, a Índia e o resto da Ásia estão perdendo impulso económico. A China crescerá muito menos que sua média de 9%. A Índia decrescerá de 8% a 5% ou mais. Por outra parte, a política militar de afastamento do regime de Obama, a sua política de exclusão e proteccionismo excluirá qualquer estímulo novo vindo da China.

 

O militarismo agrava a depressão económica

 

Os Estados Unidos e o Reino Unido serão os maiores perdedores na reconstrução económica do pós-guerra iraquiano. Dos projectos de infraestrutura por valor de 186 biliões de dólares, os Estados Unidos e o Reino Unido ganharão menos de 5% (Financial Times 16 de dezembro de 2011). O resultado será parecido na Líbia e noutros lugares. O militarismo imperial dos Estados Unidos destrói a seu adversário, enche-se de dívidas para o fazer e as entidades civis colhem os lucrativos contratos económicos de reconstrução do pós-guerra.

 

A economia norte-americana contrair-se-á em 2012 e um pronunciado incremento do desomprego substituirá a “recuperação sem criação de emprego de 2011” . Além disso, toda a força de trabalho se encolherá à medida que as pessoas deixem de receber subsídios de desemprego deixando de se inscrever [como desempregados].

 

A exploração da mão de obra (“produtividade”) se intensificará à medida que os capitalistas obrigam os trabalhadores a produzirem mais por menos dinheiro e desta maneira aumenta a distância salarial entre rendimentos e lucros.

 

Cortes selvagens nos programas sociais acompanharão a depressão económica e o aumento do desemprego, com o objectivo de subvencionar os bancos e as indústrias com problemas financeiros. Os debates entre os partidos terão como tema a dimensão dos cortes para os trabalhadores e pensionistas com o fim de tentar a “confiança” dos titulares de búnus. Confrontado com opções igualmente limitadas, as eleitoras e eleitores reagirão mediante a rejeição dos cargos atuais, a abstenção ou a mobilização em massa organizada e espontânea, como o protesto Occupy Wall Street. O descontentamento, a hostilidade e a frustração impregnarão a sociedade. Os demagogos do Partido Democrata vitimizarão a China; os demagogos do Partido Republicano culparão aos imigrantes. Os dois fulminarão os “fascistas islâmicos”, especialmente o Irão.

 

Novas guerras no meio da crise: os sionistas apertam o gatilho

 

Os “52 presidentes das principais organizações judaicas norteamericans” e seus seguidores “Israel é o primeiro” no Congresso, o Departamento de Estado, o Departamento do Tesouro e o Pentágono fomentarão a guerra com Irã. Se tiverem sucesso, a consequência será uma conflagração regional e a depressão mundial. Dado o sucesso do regime extremista israelita para conseguir a obediência cega do Congresso e a Casa Branca a respeito de suas políticas bélicas, há que descartar qualquer dúvida.

 

China: mecanismos compensatórios em 2012

 

A China vai enfrentar a recessão global de 2012 com várias possibilidades de minorar as suas consequências.

 

Pequim poderia produzir bens e serviços para os 700 milhões de consumidores internos que atualmente estão fora do circuito económico. Ao aumentar os salários, os serviços sociais e a segurança do meio ambiente, a China poderia compensar a perda de mercados exteriores. O crescimento económico da China, que depende fortemente da especulação imobiliária, vai se ver afectado adversamente quando essa bolha rebentar. Vai se produzir uma forte depressão, falências nas prefeituras e mais conflito social e de classes. Isto poderia trazer mais repressão ou uma gradual democratização, o que afectará profundamente os relacionamentos entre o mercado e o Estado. O mais provável é que a crise económica fortaleça o controlo estatal do mercado.

 

 

Cortes selvagens nos programas sociais acompanharão a depressão económica e o aumento do desemprego, com o objectivo de subvencionar os bancos e as indústrias com problemas financeiros. Os debates entre os partidos terão como tema a dimensão dos cortes para os trabalhadores e pensionistas com o fim de tentar a “confiança” dos titulares de búnus. Confrontado com opções igualmente limitadas, as eleitoras e eleitores reagirão mediante a rejeição dos cargos actuais, a abstenção ou a mobilização em massa organizada e espontânea, como o protesto Occupy Wall Street. O descontentamento, a hostilidade e a frustração impregnarão a sociedade. Os demagogos do Partido Democrata vitimizarão a China; os demagogos do Partido Republicano culparão aos imigrantes. Os dois fulminarão os “fascistas islâmicos”, especialmente o Irão.

 

 

(Continua)

 

Leave a Reply