EM COMBATE – 33 – por José Brandão

 

 

Destacamento de Fuzileiros Especiais 13

 

ANGOLA

 

1965-1967

 

 

  

Entrei em Outubro de 1964 para a Escola Naval, para o 7º CEORN – Cursos Especiais de Oficiais da Reserva Naval –, como voluntário na classe de Fuzileiros. Depois da Escola Naval e do curso de fuzileiros navais em Vale de Zebro, integrei o curso de fuzileiros especiais que terminou em finais de Setembro ou início de Outubro de 65.

 

Desde miúdo e não sei porque razão, sempre tive uma espécie de fascínio por Angola. Eis senão quando, terminado o curso de fuzileiro especial em Vale de Zebro tomo conhecimento de que estava prestes a embarcar para Angola o Destacamento nº 13 de Fuzileiros Especiais, DFE 13, cujo comandante era o 1º tenente António Pestana dos Santos (dos QP’s), que eu não conhecia senão de vista, da Escola de Fuzileiros e cujo imediato era o 2º tenente Vasco Lupi igualmente do Quadro Permanente e recém-saído, quer da Escola Naval quer da Escola de Fuzileiros. O “chamado” 3º oficial era o 2º tenente FZ RN José Ramos Carvalho, do 5.º CEORN que, depois de dois anos na Escola de Fuzileiros, como instrutor, estava desesperado com a ideia de ir para Angola passar mais outros dois anos.

 

Não foi difícil chegar a acordo com ele sobre a troca (eu iria como voluntário no seu lugar). Mais difícil seria convencer a hierarquia. Rapidamente, apresentámos em conjunto uma petição ou um requerimento e ficámos à espera.

 

Estávamos nos primeiros dias de Outubro. O DFE 13 partia para Angola no dia 15 e cada um de nós, por razões diametralmente opostas, estava a ficar nervoso: um com a perspectiva de ir e o outro com a perspectiva de não ir. Por volta do dia 5 de Outubro, estava eu de oficial de serviço na Escola de Fuzileiros quando vem uma chamada para mim: o CEMA, Almirante Roboredo, também conhecido como o “Grande da espingarda” queria falar comigo com urgência. Nervosismo da minha parte, consternação dos colegas.

 

O que é que eu teria feito para o CEMA me chamar a mim, simples mortal, Aspirante FZE, pintado de fresco?

Apresentei-me no Terreiro do Paço. Passei à sala de espera. Finalmente entrei no Gabinete do Almirante Roboredo onde fui submetido a cerrado inquérito e questionário sobre a minha vida pessoal, vida universitária, sobre a Escola Naval, Vale de Zebro, nível de instrução recebida, etc., etc., etc.

 

– E agora o que queres fazer? Pergunta o Almirante.

 

– Quero ir para Angola no Destacamento nº13 de Fuzileiros Especiais, respondi eu.

 

– Mas porquê?

 

Tentei explicar-lhes as minhas razões e o meu interesse por Angola desde puto.

 

– Isso vai ser muito difícil, diz o CEMA. Explico-lhe o meu arranjo com o Ramos. Eu sou voluntário para ir e ele

é voluntário para ficar. Porque não? Quem perde com a troca?

 

– Vamos ver o que se arranja, acaba por fim por me dizer o CEMA. Mas ficas já a saber que não vejo as coisas fáceis. Isto de trocas é complicado e abre precedentes.

Dois ou três dias depois eu era nomeado e o Ramos dispensado. Tudo bem, só que tinha apenas 5 dias pela frente para conhecer melhor o Pestana e o Lupi e preparar tudo o que estava ligado a uma ausência de 1 ou 2 anos.

 

A primeira coisa que o Pestana quis saber foi se eu jogava bridge. Disse-lhe que não sabia jogar bridge. Então o que é que você sabe fazer? Começou assim uma sólida e boa amizade que dura até hoje.

 

 

Saímos de Lisboa no “Vera Cruz” a 15 de Outubro, e assim começou para mim um período que foi extraordinário em todos os aspectos e que acabaria com o regresso ao Puto em Setembro de 1967. Só anos mais tarde percebi porque fora aceite o meu pedido para integrar o DFE 13 em substituição do Ramos.

O velho Almirante Roboredo era um amigo da minha família e tinha recebido 3 “cunhas”. A primeira em 64 para eu ser recusado pela Armada como voluntário para os fuzileiros. A segunda para ser recusado o meu pedido de integração no DFE 13. Ambas estas cunhas tinham sido veiculadas pela minha família que via com horror a minha fantasia por este “safari” angolano.

 

A terceira cunha tinha sido minha, era o meu próprio pedido para embarcar para Angola, confirmado directamente ao “Grande da espingarda” na entrevista que tive com ele. Não sei se a decisão dele foi fácil mas julgo que o fraquinho que tinha como “Pai dos Fuzos” e a minha convicção e argumentação o convenceram. Afinal foi a minha própria cunha que funcionou!

 

Da minha comissão tenho algumas histórias para contar. Umas com piada, outras com interesse. Nós, os portugueses, temos pouco o hábito de relatar e escrever aquilo por que passámos e que tantas vezes fazem parte das “pequenas histórias” e que outras tantas também influenciam, por vezes decisivamente, a grande História.

 

 

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