Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota. 

 

Capitulo III.  Alguns retratos mais sobre a globalização, sobre a desindustrialização

 

5. Daqui vejo Portugal, daqui vejo o destino de S. João da Madeira

 

 

J. M. Weston conseguiu que a China fechasse uma fábrica em Cantão que copiava os seus sapatos

 

 

  

É a vitória de um Pequeno Polegar  na luta contra a falsificação global. A empresa J.M. Weston, conhecida pelos  seus sapatos de alto luxo fabricados desde 1891 em Limoges, conseguiu  o encerramento de uma fábrica na China, que produzia as suas  cópias. Localizada em Cantão, produzia 300 pares de Weston falsos por semana. Em Dezembro de 2010, as autoridades chinesas tinham apreendido 3.700 pares de sapatos, representando um valor de cerca de  1,85 milhões de euros (!).

  

Estes sapatos estavam muito bem imitados porque os falsificadores tinham até um molde para gravar a marca de J.M. Weston no interior do sapato, como nos modelos verdadeiros, e exactamente da mesma maneira. Daí a poder colocar em dificuldade as vendas da empresa francesa, cuja produção anual é estimada em cerca de 100.000 pares de sapatos, vendidos em cerca de 15 países.

 

Mercados sob vigilância

 

“É muito raro conseguir obter o encerramento de um site na China, porque encontrar os locais de fabrico é muitas vezes impossível. Isso exige  investimentos  em tempo e em  dinheiro”, comentou Jean-Luc Espla, encarregado da luta contra a falsificação no seio de EPI, a holding da família  Descours, proprietária de Weston. O grupo tem criado mecanismos de transmissão e de informação em  países  específicos, encarregados de monitorar os mercados. A empresa tinha recorrido, no ano passado, a informadores locais  para localizar a fábrica incriminada . Uma vez as provas acumuladas e alertados  em Novembro para o facto, EPI informou imediatamente as autoridades chinesas, que conduziram o inquérito e conseguiu obter o encerramento da fábrica.

 

Durante vários meses, os funcionários aduaneiros bloqueavam nas fronteiras, na França e na Alemanha, pacotes suspeitos, destinados especialmente para o mercado europeu. “Podemos ter parado uma fonte, é possível que outros continuem a existir”  disse  Jean-Luc Espla.

 

O testemunho de Jean-Luc Espla, quanto à falsificação dos sapatos Weston no Jornal “Le Populaire” de Limoges é eloquente sobre esta matéria: “É a criação que é pilhada, é o  trabalho dos empregados também, é a promoção que fazemos sobre os nossos sapatos, é as patentes que registamos em  França, na Europa e a nível internacional, são todos os procedimentos que são envolvidas… ” Isto representa um custo fenomenal.”

 

 

 

 

Em primeiro lugar, 350 pessoas podiam ver os seus empregos ameaçados e a mais antiga fábrica de curtumes da França seria igualmente afectada por esta crise. Na verdade, sinal de seu forte envolvimento no tecido industrial local, a empresa tem a sua própria fábrica de curtumes em Limousin, a casa Bastin, a mais antiga fábrica francesa de peles para calçado.

 

 

Além disso, o saber-fazer artesanal do calçado em pele da França tem grande dificuldade em resistir a um fenómeno difícil de controlar. De acordo com a União Europeia, a contrafacção afectaria cerca de 10 mil empregos por ano.

 

 

A União dos Fabricantes (Unifab) recebeu esta informação como uma vitória. Este caso demonstra a vontade da China para cooperar na luta contra a falsificação e para por fim a este comércio ilegal. disse o seu Presidente Christian Peugeot. Este encerramento será seguido, depois, por um procedimento penal.

  

Para a União de Fabricantes, a  UNIFAB, «este acontecimento marca a tomada de consciência dos institucionais chineses em matéria de propriedade intelectual».

 

 

A China, que se tornou em 2011 a primeira potência industrial do  mundo afirma que está pronta  para respeitar as regras do jogo. Ela coloca-se, e fá-lo saber, a fazer  esforços a fim de provar que  está a  lutar contra a falsificação.

 

 

Os dois responsáveis da fábrica chinesa que fabricava os falsos sapatos Weston foram condenados a três anos de prisão efectiva. Foram igualmente multados em 30.000 e 22.000 euros. 

 

 

A condenação é altamente simbólica. Porque não se trata de  um tribunal francês ou europeu  mas de um Tribunal em  Cantão que tomou esta decisão, fora do comum na China, sobretudo pouco interessados e muito condescendentes em matéria de contrafacção. “Esta decisão é importante e exemplar,” disse Delphine Sarfati-Sobreira, directora de comunicação da União dos Fabricantes (UNIFAB), que luta  contra as contrafacções e de que faz parte a marca de Limoges JM Weston.

 

 

“É raro apreender um número tão importante de produtos falsificados e especialmente em ter conseguido uma tão rápida condenação, continuou ela”. A China é o primeiro país produtor de mercadorias produzidas em situação de contrafacção no mundo. Mais de 70% das apreensões nas alfândegas de França vêm da China. Hoje, há uma cooperação real das autoridades chinesas e uma verdadeira evolução das mentalidades. Agora, os chineses têm as suas próprias marcas e começam agora a ficar sensíveis aos princípios da propriedade intelectual e industrial. Desde há pouco tempo, querem também proteger as suas marcas e começam a compreender a importância destes princípios ” afirmou ela.

 

 

Uma pergunta aqui vos deixo: que esconde a vontade da China em travar o comércio ilegal? 


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