Antecipemos o que irá acontecer nas próximas horas:
c. 07h00 – O tenente-coronel Almeida Bruno desloca-se à Rua Almirante Saldanha, ao Restelo, para solicitar ao ex-Presidente da República, Américo Tomás, que o acompanhe ao aeroporto a fim de embarcar no DC-6 que o conduzirá à ilha da Madeira. – O tenente-coronel Lopes Pires acompanha ao aeroporto o ex-Presidente do Conselho, Marcelo Caetano e os ex-ministros Silva Cunha e Moreira Baptista.
07h30 – O major Vítor Alves lê, perante a Comunicação Social, a versão definitiva do Programa do MFA.
07h40 – O DC-6 levanta voo da pista da Portela e parte rumo ao Funchal.
09h46 – Na Rua António Maria Cardoso, sede da PIDE/DGS, verifica-se a rendição incondicional daquela polícia política, sendo o edifício ocupado por forças do Exército e da Marinha
c. 10h00 – Rendição do Forte de Caxias.
11h00 – Salgueiro Maia e as forças da EPC ocupam o edifício da Secretariado-Geral da Defesa Nacional, na Cova da Moura, onde a Junta de Salvação Nacional e o MFA passarão a funcionar.
13h00 – Inicia-se a libertação dos presos políticos nas cadeias de Caxias e Peniche. – Divulga-se o Programa do MFA que havia sido apresentado pelo major Vítor Alves, no Quartel da Pontinha, ao princípio da manhã, depois da 1ª conferência de imprensa da Junta de Salvação Nacional. Otelo Saraiva de Carvalho deixa a «sala de operações».
No seu livro Alvorada em Abril, Otelo descreve-nos esse momento em que, tudo consumado, se sente desnecessário. Um pouco o mesmo que Salgueiro Maia revela no seu livro – quando começou a ser evidente que a revolta triunfara, os «capitães» deixaram de ser necessários – aí estavam os «senhores da guerra», como Spínola, para assumir o comando. Diz-nos Otelo:
Pelas treze horas, encontro-me só na «sala de operações». Tudo está consumado. Foi já iniciada a libertação dos presos políticos em Caxias e Peniche. Às onze horas, Salgueiro Maia e as forças da EPC ocuparam o edifício do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, na Cova da Moura, onde a Junta e o MFA passarão a funcionar. As nossas tropas mais móveis deslocam-se pela cidade, alvoroçadas, acorrendo a todas as chamadas e denúncias para detenção de agentes das defuntas DGS e Legião Portuguesa, que são conduzidos a Caxias. Rapidamente, o sistema é montado e até funciona. Os voluntários aparecem com fartura. Sinto-me desnecessário. E profundamente esgotado, a precisar de fazer a barba, tomar um banho regenerador e dormir umas horas. Dá-me uma vontade imensa de abandonar finalmente, embora com saudade, aquelas quatro paredes prefabricadas.
Retiro da prancheta o meu «mapa de estradas», recolho a «ordem de operações». Luís Macedo mandará depois arrumar a sala e Garcia dos Santos providenciará para a recolha dos rádios e telefones. Dou um último olhar pelo compartimento, apago as luzes e fecho a porta. Sou o último a sair.
No quarto de oficiais, dispo a farda e visto-me à paisana. Meto no carro a pasta e o saco de napa com o uniforme e saio a porta de armas da unidade. O velho Morris 1100 rola pela fita da estrada, a caminho de casa, num país diferente.
Amigos:
Esta edição comemorativa acaba aqui.
A nossa luta contra a nova tirania que se instalou no poder, essa continua.
Viva o 25 de Abril!