Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo III.  Alguns retratos mais sobre a globalização, sobre a desindustrialização

 

8. A fileira solar europeia na tormenta

 

Jean-Pierre Stroobants (Bruxelas)

 

 

A empresa alemã Q-Cells, outrora a n ° 1 mundial em células fotovoltaicas, apresentou o seu pedido de declaração de falência na terça-feira, 3 de Abril e é  agora todo o sector europeu da energia solar que se interroga sobre o seu próprio futuro, exactamente agora que espera vir a desempenhar  um papel-chave. Os planos dos 27 para as questões climáticas em que se  prevê  uma redução progressiva das emissões de gases com efeito de estufa e a renovação das fontes de energia, dependem  de facto e em  grande parte do sucesso da indústria do fotovoltaico, considerado  também contribuir para o crescimento e o emprego. A União Europeia tenciona produzir 20% de sua energia a partir de  fontes renováveis até 2020.


A indústria do  fotovoltaico europeu  também está a sofrer com as  medidas de redução dos subsídios governamentais e com as reduções de vantagens decididas um pouco por todo o espaço europeu, devido às políticas de austeridade seguidas. Um efeito directo da crise, mas também uma consequência do sucesso um pouco descontrolado dos  dispositivos de apoio muito generosos. Vários países, incluindo a Alemanha, reduziram significativamente o preço de compra garantido aos produtores de electricidade   de origem fotovoltaica.

 

Antes de  Q-Cells, outras empresas alemãs que operam num mercado estimado em cerca de 25 mil milhões de euros ficam viradas do avesso, vítimas da concorrência  desenfreada da China e de Taiwan  que levou os preços a descerem fortemente . “Alguns dirigentes de empresas apontam a dedo os seus concorrentes chineses, que beneficiaram de empréstimos dos bancos semi-públicos e de ajudas directas do Estado.” “Até agora não recebemos qualquer queixa, mas se os industriais formalizarem uma  queixa nós poderemos iniciar uma investigação “, indicou, na terça-feira, 3 de Abril, um porta-voz da Comissão em Bruxelas.


Fragilidade

 

A França decidiu, de Dezembro de 2010, uma moratória sobre as ajudas públicas à  energia solar. O Ministro da Ecologia, Nathalie Kosciusko-Morizet sublinhou , na época, que 90% dos painéis instalados no país vinham da  China. Desde o início de 2012, ela estimava que os objectivos de potência instalada  foram alcançados, mas não os da criação de empregos  ou de reestruturação de um verdadeiro sector industrial. “Modificámos as ajudas públicas para as encaminhar para concursos muito tecnológicos  em apoio das diversas fileiras industriais  francesas,” afirmou o ministro. É necessário que os apoios financeiros sirvam  para criar postos de trabalho em  França e não na China “. Por último, a aquisição da empresa  pioneira da energia fotovoltaica na França pela EDF em Fevereiro de 2012, a  Photowatt  de Bourgoin-Jallieu (Isère), colocada em liquidação judicial, terá especialmente demonstrado a grande fragilidade do sector.


Na Grã-Bretanha, o governo anunciou, no final de 2011, a baixa  de subvenções e a redução da tarifa de aquisição da electricidade de origem solar pela rede de distribuição nacional. O grupo de engenharia Carrion (4500 empregos) evocava  imediatamente um projecto de reestruturação. O conjunto da fileira britânica, composta  principalmente por pequenas e médias empresas, emprega cerca de 30000 pessoas.


Na República Checa, um generoso sistema de subvenções  também foi abandonado, como na Itália ou na Bélgica. Neste último país, a  empresa  Bekaert, líder mundial em fios de aço (usados em especial  nos painéis fotovoltaicos) está- se a preparar  para fechar as unidades de produção na Bélgica e na China: ela  já não consegue competir com as empresas chinesas no sector.


A necessidade de uma coordenação europeia

 

A Espanha já se via  líder mundial em energia solar. No entanto, em Janeiro de 2011, um decreto reduziu de cerca de 30% os subsídios para a indústria fotovoltaica e limitou o número de horas dando direito a um subsídio. O objectivo era economizar 2.2 mil milhões de euros em três anos. O novo governo conservador já anunciou a supressão dos subsídios para  novas instalações.


A Grécia também ela apostou na energia solar a partir de 2011, com a esperança de rentabilizar no máximo a sua taxa de exposição à  luz do sol, superior em 50% à dos países do Norte da Europa. Um gigantesco projecto exigindo um investimento de 20 mil milhões visa alcançar, a  prazo, os 10000 megawatts (MW) de potência instalada. Para atingir o seu objectivo – vender electricidade solar para a Alemanha-, o país terá no entanto necessidade de um apoio europeu e dos investidores assim como uma melhoria das redes de transporte previstas pela Comissão Europeia.


Esta  última recusa centrar-se nas dificuldades actuais, que julga transitórias. “Estamos convencidos que o sector fotovoltaico permanece como promissor e não é afectado no seu conjunto”, diz Karolina Kottova, porta-voz da Comissão. De resto, disse um especialista, são os Estados-Membros que decidem a sua própria política e devem assumir os seus erros. A este respeito, o caso alemão é descrito como “exemplar”: o sistema de subsídio para a instalação dos painéis tem sido  financiado por uma sobretaxa na factura dos consumidores e beneficiou sobretudo os painéis chineses. Daí, sem dúvida, a imperativa necessidade de uma efectiva coordenação europeia.


Jean-Pierre Stroobants (Bruxelles, Bureau européen),  La filière solaire européenne dans la tourmente, LE MONDE,  04.04.2012 

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