Não queremos transformar o Diário de bordo num almanaque de efemérides. No entanto, como se diz agora, há datas incontornáveis – a de hoje é uma delas.
Ao fim da tarde do dia 8 de Maio de 1945, os sinos repicaram por todo o País. Na rádio disseram que a guerra terminara. Na manhã de 9 de Maio o locutor da Rádio do Reich confirmava, lendo um breve comunicado Era o final da Segunda Guerra Mundial na Europa. Respirava-se de alívio. Lisboa e Porto foram palco de grandes manifestações – os antifascistas tinham a esperança de que a derrota da Alemanha e da Itália implicasse a queda do regime em Portugal. Foi quando Salazar fez um passe de mágica, declarando que vivíamos numa democracia… orgânica! E os Aliados fingiram acreditar, pois temiam que o poder fosse tomado pelos comunistas. E mais valia uma falsa democracia do que um verdadeiro regime de esquerdas. Numa Europa em ruínas, começava o jogo da «Guerra Fria».
A guerra fora desencadeada em 1 de Setembro de 1939 com a invasão da Polónia pela Alemanha. Morreram setenta milhões de pessoas, civis na sua maioria. O drama central desenrolou-se, pois, nesses cinco anos e meio, entre Setembro de 1939 e Maio de 1945 (embora o Japão só se tenha rendido em 2 de Setembro do mesmo ano). Mais de 100 milhões de soldados de 70 países, tinham-se envolvido no conflito, opondo os Aliados às potências do Eixo – Alemanha, Itália e Japão. Foi a maior e mais sangrenta conflagração que a história da Humanidade regista.
Pesadelo que terminou em 8 de Maio de 1945, depois de Hitler e os seus principais apoiantes se terem suicidado. Cercados, os alemães tiveram de se render. Reza assim o documento que Keitel, Friedeburg, Stumpf, e outros, assinaram: “Nós, os abaixo-assinados, negociando em nome do Alto Comando alemão, declaramos a capitulação incondicional perante o Alto Comando do Exército Vermelho e também perante o Alto Comando das Forças Aliadas, de todas as nossas Forças Armadas na terra, no mar e no ar, assim como de todas as demais que no momento estão sob ordens alemãs. Assinado em 8 de Maio de 1945, em Berlim. »
A potência derrotada impõe agora leis na Europa. Uma Alemanha reconstruída economicamente graças à boa-vontade dos povos a que a loucura, a insana convicção da «superioridade germânica», provocara milhões de mortos e indizíveis sofrimentos, esquecida da generosidade de que beneficiou, faz tábua rasa do passado e, como todos os bons agiotas, tem o coração blindado, nele não deixando entrar sentimentos piegas. – Solidariedade? Está, bem está! Paguem mas é o que devem – quem não tem dinheiro, não tem vícios.
Em 1870, ainda antes da unificação, a Prússia invadiu a França, em 1914 em 1939, a Alemanha desencadeou guerras de grande amplitude. Agora, em vez de mandar as divisões Panzer da Wehrmacht, os aviões da Deutsche Luftwaffe, mandou os camiões TIR carregados com os seus produtos e depois pôs os europeus a fabricá-los nos seus países – Daimler, Volkswagen, BMW, Audi, Bosch, BASF, Siemens, AEG, Adidas,Schering, ThyssenKrupp, Metro, Puma, Henkel, Bayer, Nivea. E também a Lufthansa, a Allianz… Perdeu a guerra de 1914-18, perdeu a de 1939-45. A terceira parece ter ganho.
Mas nem as vitórias militares, nem as económicas garantem para sempre o domínio dos derrotados. Ao pôr o pé sobre uma Europa que a sua gula de prestamista empobreceu, obtém uma vitória pírrica – onde vai vender agora os seus produtos?
Talvez na China…