A POESIA E A MÚSICA – António Sales

 

Pintura de GEORGES BRAQUE

 

Os Violinos

 

O arranque vibra
ao som das cordas brancas
soltando a harmonia
de sombras solitárias espelhadas no céu
entre satélites.
Os arcos riscam ondas de luz
ao espírito de coros conventuais.

Os primeiros violinos
espalham suspiros de vento
evadido de um tempo gotejante.
Cinzento e leve
percorre as abóbadas do universo
fecundando a multiplicação dos séculos
na busca de perpétua fantasia
sublime e mística.
Dedos pisando as cordas,
vibrações expandidas,
soltas, vivas.

A voz noturna chama .

Os segundos violinos,
batendo os arcos como asas
em vibratórios movimentos
largam no ar um fio melódico
de vestes brancas
à procur da revelação das notas certas.
Tocam a alegria dourada
dos girassóis dançando pelo corpo.
Vigor da existência
paixão e esperança
beleza encantadora das cordas
que depositam paz nos corações.

Um espaço
um silêncio de braços
um gesto de compasso.

Subitamente
todos sobem  o rio das ninfas musicais,
entre fontes de amor
e beijos de amantes nupciais.
Num hino superior
os violinos tornam-se senhores
das emoções hunanas  plantadas
pela terra.

Som majestoso este
ao encontro dos corações
onde jazem
pecados encardidos de o serem.
tristeza e vozes em clausura
agora libertas pelos violinos
que procuram virtudes incógnitas
no  superior sentido do destino.

E assim termina a partitura!

 

(inédito)

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