A crise na Europa, a crise em Madrid, a crise de um sistema: olhares sobre Espanha

 Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

 18. Os males do desperdício

 

A morte de Maria, transferida de hospital em hospital, reaviva o debate sobre a saúde na  Catalunha, Rubalcaba e Rajoy estão eles equipadas em matéria de conhecimentos de economia?


Desde há várias semanas, que um jornalista do El Pais, Francisco Peregil Pecellin, não larga, em Espanha, as marcas do  “despilfarro”, o despesismo à farra, uma palavra a reter nesta campanha eleitoral de tal forma ela é uma constante na boca dos  eleitores. Construções monumentais, infra-estruturas não utilizadas: o jornalista investiga  tudo o que é demasiado grande, demasiado belo e que terá custado  muito para este país em crise.

 

O aeroporto “internacional” de Ciudad Real:  500 milhões de euros  de investimento para um flop, e um encerramento três anos mais tarde. (Flickr/stephenhaworth)


O aeroporto de Ciudad Real por exemplo. Inaugurado em Dezembro de 2008, com 500 milhões de euros de investimento, este aeroporto “internacional” devia  abrir esta cidade de 70.000 pessoas, que tem ligações a Madrid numa hora de comboio . Três anos mais tarde, o Aeroporto fechou as suas portas. No início de Novembro, Vueling, a última empresa que aí operava decidiu parar com os seus voos. A iniciativa e os fundos vinham do sector privado, defendem-se agora os políticos locais. No entanto, eles deixaram-no fazer, aprovaram-no.


Na Andaluzia, o Estádio Olímpico de Sevilha (120 milhões de euros de investimento), inaugurado em 1999 em vista a uma nomeação nos Jogos Olímpicos  apresenta um triste balanço: uma final da taça da UEFA em  2003, uma final da Taça  Davis em 2004 (e a que haveria em Dezembro), duas finais da Taça do rei em  futebol, nenhum clube em Sevilha.


Este estádio foi alcunhado  de  “poyaque”. É necessário ter  ouvido uma vez na vida  vida o sotaque andaluz para entender essa expressão. O “po ya que” é uma variante local do “pues ya que”, “e depois já que “. E esta  expressão é pois assim transformada .”

 

A cidade da Cultura, Maio de 2011 (Flickr/xornalcerto)

 

No final da década de 90, enquanto Bilbao tinha o  seu Museu Guggenheim, a Galiza, a oeste do país, também queria ter o seu emblema cultural: uma cidade da cultura no coração das montanhas Gaias, tão grande quanto a própria cidade de Santiago de Compostela. O objectivo era o de acolher a biblioteca e os arquivos de Saint-Jacques, um Museu da história da Galiza, uma ópera digna do Centro Lincoln em Nova York, um edifício dedicado às novas tecnologias… Dos seis edifícios planeados, somente quatro foram construídos, com um investimento de 400 milhões de euros. E os eventos, as conferências e os concertos organizados pela cidade de cultura estão bem longe de  atrair a multidão.


E quanto ao leitor? Se vive em Espanha e têm constatado na sua  cidade exemplos de investimento desproporcionados ? Conte-nos sobre este “despilfarro”, especificando o nome da cidade, o tipo exacto de construção, as datas de inauguração e explique porque é que  a infra-estrutura é pouco ou nada  utilizada.

 

Le MondeLes maux du gaspillage, 16 Novembro de 2011

 

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