Limão e malagueta – Adão Cruz

 

 

 

Adão Cruz  Limão e malagueta

 

 

 

 

(Adão Cruz)

 

 

A malagueta nasce verde verde como o limão olham-se verde no verde ela cora e ele não.

Um empalidece outra faz-se rubor há qualquer coisa de astuto qualquer coisa de comum entre os dois e o amor.

A malagueta abre-se à cor em carne viva ardendo da penetração quente do sol da carícia de febre luz vibrada e tacto de seda.

Não fenece enquanto à sua volta tudo morre e envelhece.

O limão nem mole nem duro sumo de virilidade sumo de alegria denso de seiva sabor amargo ou doce ao sabor dos descuidos da verdade e da melancolia.

A malagueta não é séria nem puta é luta de vida numa vida de luta madura de ilusões lábios maduros palpando as vozes e as palavras na ponta da língua.

O limão não sofre de amores nem de esplendores nem de ignorância presunçosa jogo de toda a moda da vida imbecil.

Se o encontro se dá solta-se o sangue em torno dos ideais nos rútilos prados da malagueta amada malagueta mulher orvalhada pequenina e nua

capricho de um ventre fecundo na cintilação da madrugada como se a vida fosse um desejo de amarga doçura decúbito de sílabas erguidas ao som da música entre espaços de côncavo silêncio cristal e solidão.

Dilatada angústia pernoitada na eterna penetração de fulgor da malagueta desabrochada ao paladar da última gota do livre limão.

 

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