DIÁRIO DE BORDO, 4 de Junho de 2012

 

Já temos referido a necessidade de,  imersos  como estamos nos  problemas europeus e na crise financeira, tentarmos manter uma visão mais vasta e acompanharmos regularmente o que se passa noutras zonas do globo. Um problema de primeira grandeza é o das eleições presidenciais norte-americanas, que deverão ocorrer em Novembro próximo.  Neste momento já se pode prever que os candidatos principais deverão ser Barack Obama, pelo Partido Democrático, e Mitt Romney, pelo Partido Republicano. Ainda há poucas semanas o favoritismo parecia do lado do primeiro, mas o recrudescimento do desemprego nos EUA e uma gaffe de peso do actual presidente, ao designar os campos de concentração nazis, por campos de concentração polacos, terão prejudicado a sua imagem.


Tradicionalmente, nos EUA, são os problemas internos que decidem as eleições, mais do que a política internacional. Por outro lado, os sucessivos presidentes, o senado, a câmara dos representantes, não têm introduzido alterações significativas no relacionamento com outros países, ou com outros povos. Com algumas oscilações em aspectos parcelares no conjunto mundial, têm procurado manter a supremacia norte-americana no mundo, com a vida muito facilitada, desde a dissolução da URSS. Se é verdade que Obama tem procurado reduzir  o envolvimento em algumas partes do mundo, como no Iraque, não será descabido pretender que um presidente republicano teria actuado de modo semelhante. E note-se a enorme visibilidade da secretária de Estado Hillary Clinton, talvez só comparável à de Henry Kissinger, e cuja acção terá excedido a de todos os seus antecessores, em termos de números de contactos e de viagens, com resultados evidentes no fazer abortar a primavera árabe, pelo menos em termos de evitar a emancipação dos países onde ela se deu, em relação ao predomínio do Ocidente, no plano externo, e da introdução de significativas reformas sociais, no plano interno. O derrube do coronel Kadhafi é sem dúvida um dos resultados dessa diplomacia, assim como o agravar da situação noutros países. A pressão norte-americana mantém-se no Oriente, como na Europa Oriental. A questão do Afeganistão parece cada vez mais complicada. Apenas na América do Sul e Central  a influência norte-americana parece em recuo, mas a intensidade da propaganda não abranda, e o futuro é imprevisível. O abandono da ideia de encerrar Guantánamo é perfeitamente sintomático.


Ao nível interno é que as diferenças entre os dois campos são maiores. As medidas sociais e no campo da saúde que Obama tentou introduzir não avançaram significativamente, e, caso Mitt Romney vença as eleições, serão inapelavelmente cortadas. O liberalismo puro e duro  dominará os EUA, e agora de um modo que nem Ronald Reagan se atreveu a sonhar.  E aqui há que ter em conta que a vida económica e financeira dos EUA sofrerá mudanças, que acabarão por se reflectir na política internacional, a começar pelas relações com a Europa. A prazo, os norte-americanos tentarão uma política expansionista, não só no Médio Oriente, mas possivelmente também na Ásia Central, para cercar a Rússia que Mitt Romney já classificou como o inimigo geopolítico número um da América.

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