Adão Cruz Ateísmo
(Adão Cruz)
Correm por aí vários posts e muitos comentários sobre ateísmo e religiões, nos quais não tenho intervindo, por razões que se depreendem do pequeno texto que se segue.
No entanto, gostaria de deixar aqui a minha posição e a minha visão muito geral sobre o tema.
Sou ateu, racionalmente ateu há quase meio século. Até essa altura, foi dura a luta que travei para me libertar das peias e das grilhetas com que a igreja católica aprisionou a minha infância e a minha juventude, quase destruindo o meu cérebro, a minha mente, o meu pensamento e o que de mais precioso a vida me deu, a minha razão. O dia em que me virei para dentro de mim mesmo e senti, honestamente, um magnífico cheiro a lavado, foi o dia mais feliz da minha vida.
O ateísmo não é uma crença. O ateísmo não é nenhuma crença. O ateísmo, num sentido amplo, é, como todos sabem, a rejeição ou ausência da crença na existência de divindades e outros seres sobrenaturais. É uma mundividência, isto é, uma visão filosófica e científica do mundo, baseada num conjunto de características de tipo humano, cultural e científico, que leva a formas normativas e a uma postura lógica e racional do pensamento no complexo caminho da vida.
O ser ateu ou ser crente, seja no que for, é uma questão pessoal, ainda que com profundas interferências, influências, implicações e repercussões sociais, mas aqui a questão passa a ser outra, passa a ser um intrincado problema social e mesmo um problema da humanidade, cuja abordagem não tem lugar neste texto.
Por ser um problema pessoal, quer o ateu quer o crente, seja no que for, têm todo o direito a serem respeitados. O mesmo não acontece com as crenças, as quais, com toda a legitimidade, podem não merecer qualquer respeito.
Por isso, habitualmente, eu não abordo nem aprofundo estas questões, de um ponto de vista pessoal, ainda que tenha iniciado o texto com um testemunho meu. Sobretudo, não discuto estas questões com a maioria das pessoas crentes, pois nunca se chega a lado nenhum. Adoro conversar e argumentar com todas as pessoas, ateias ou não, que sentem honesta vontade de abordar estes temas, e com aquelas pessoas que, mesmo crentes, se mostram inseguras e sentem necessidade de procurar a verdade neste complexo caminho da vida, ou pelo menos um entendimento lógico, racional e científico da sua existência.
Meu Caro AdãoJulgo já ter resolvido há muito o problema da religião. Aceito os fideístas , mas não consigo, como eles, desprezar a razão. Já não discuto a existência ou não de deus; ao afirmar a sua não existência, filosoficamente, poderei ser obrigado a aceitar o seu contrário. Portanto, para mim é muito simples, não necessito de deus, com minúscula ou com maiúscula, sigo a minha razão e a vida vai demonstrar-me se me enganei ou não. A minha felicidade, ou melhor, a minha luta para ser feliz não passa pela religião, a não ser que à natureza passemos a chamar Deus, agora com maiúscula, e no meu conceito de felicidade não aceito que possa ser feliz à custa da felicidade dos outros, ou seja, sigo a moral epicurista, a mais rigorosa que conheço e que me diz que eu não posso ser feliz (=não posso ter prazer) se causar dor ao outro (as palavras do filósofo são outras, mas o sentido julgo ser este que lhe dou).